Lampião reinou durante quase 20 anos nos sertões de sete estados: Pernambuco, seu berço natal; Paraíba, Alagoas, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Sergipe. Os primeiros dez anos foram vividos nos estados do outro lado do rio São Francisco. A partir de 1928, naquele dia 21 de agosto, quando atravessou o grande rio sertanejo, para a Bahia, viveu mais dez anos de sua imensurável odisséia, até a sua morte na Grota de Angico, no dia 28 de julho de 1938.
As andanças de Lampião por Sergipe tiveram início em 1929, quando no dia 01 de março, o afamado bandoleiro e seu bando invadiram o então povoado de Carira. No mês seguinte (19 de abril de 1929) Virgulino Ferreira adentrou ao povoado Poço Redondo, se hospedou na casa de China e assistiu uma missa celebrada pelo padre Artur Passos.
Fotografia de Lampião, na fazenda da família Carvalho
Foi em Sergipe que Lampião alcançou o maior apogeu de sua vida bandoleira. Foi o coronel dos coronéis; foi soberano, temido, respeitado por todas as autoridades; amigo dos homens mais influentes do Estado. Poderosos senhores, tais como os coronéis Hercílio Britto; Antônio Caixeiro, que era o pai de governador de Sergipe, Eronides de Carvalho; era amigo dos famosos fazendeiros da Serra Negra, Piduca e João Maria, ambos eram irmãos do temido tenente Liberato de Carvalho, famoso militar do exército brasileiro que caçava tenazmente os grupos bandoleiros e fez parte do histórico “Fogo da Maranduba”, em janeiro de 1932; e muitos outros homens de enorme importância e influência na terra sergipana.
O poder de Lampião era tão grande que ele teve a ousadia de dividir partes do Estado de Sergipe nos moldes das antigas sesmarias, colocando seus principais homens, como se fossem sesmeiros, à frente de vastas glebas de terras, por exemplo: na região que compreende os municípios de Frei Paulo, Carira, em Sergipe, e Paripiranga, na Bahia, o domínio de Zé Baiano; em Porto da Folha, Gararu e N. S. da Glória, o senhor daquelas terras era o cangaceiro Mariano, em Poço Redondo e Monte Alegre de Sergipe, o domínio era de Zé Sereno e em Canindé, o poder estava nas mãos de Juriti.
Enganam-se aqueles que imaginam ter Lampião destroçado a economia sertaneja. Muito pelo contrário. O “Rei dos Cangaceiros” e o banditismo foram fontes de renda. Como? A caça aos bandoleiros deu emprego a centenas de sertanejos que se engajavam nas volantes do governo, alguns como policiais e outros na condição de “contratados”, e assim, tinham ordenado garantido, algo muito difícil naquela época. Além do grande contingente de sertanejos que fizeram parte do bando de Lampião, o que não deixava de ser um meio salutar de “se ganhar à vida” – como diziam os que viviam nos cafundós do sertão.O perambular incessante dos perseguidores de Virgulino Ferreira custava caro aos cofres do governo. Quase que a totalidade das despesas acontecia nas fazendas e escondidos povoados das caatingas. E aqueles gastos injetados numa região de pobreza absoluta eram de uma serventia maravilhosa.
Grupo de Lampião na Fazenda Jaramataia
Como se vê, um domínio tão imenso como este não poderia de maneira alguma ficar no esquecimento, consequentemente o seu poder político se tornou grandioso, sua palavra e suas decisões eram leis que todos respeitavam e acima de tudo temiam. E assim, o incrível épico deste extraordinário pernambucano foi parar nos livros da história do Brasil.
Como se verifica, apesar do rasto de destruição deixado pelo maioral do cangaço e sua sanguinolenta malta, naqueles tempos chamados de “os tempos de Lampião”, ocorreu um fluxo econômico que tinha na mão de obra dos “contratados” do governo, em sua totalidade jovens homens dos sertões que jamais haviam recebido um salário e, ainda, os custos com os deslocamentos das forças volantes que faziam com que o dinheiro chegasse naquele mundão de escassez de recursos pecuniários.
E assim, mesmo sendo responsável por tanto sofrimento, o cangaço obrigou os poderes constituídos a injetar vultosas quantias pelos campos sertanejos – Poço Redondo foi dos mais beneficiados – criando, dessa maneira, uma fonte de renda que perdurou por longos anos nos mais distantes, abandonados e desconhecidos rincões nordestinos.
Alcino Alves Costa
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