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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

PADRE CÍCERO E VIRGULINO FERREIRA?

Por Manoel Severo

Sobre essa ligação, apesar de não me considerar devidamente credenciado, permitam-me fazer algumas reflexões sobre o referido episódio da visita de Virgulino Ferreira a Juazeiro do Norte.

Poderia começar provocando e ressaltando alguns pontos dentro do contexto da época. Juazeiro já era considerado naquele momento um grande centro desenvolvimentista da região, tanto pela presença da figura carismática de Padre Cícero, como pela projeção política que alcançou a partir das articulações do próprio Floro Bartolomeu, daí ser um ponto forte e vital para o governo central na luta contra a Coluna Prestes. Na minha maneira de ver, Padre Cícero em nenhum momento cogitou a convocação, convite, ou coisa que o valha, com relação a Virgulino Lampião fazer parte dos Batalhões Patrióticos, sob o comando de Floro e formado para defender o sul do Ceará contra a referida Coluna.

Penso que o grande articulador do convite a Lampião foi mesmo Floro Bartolomeu; médico baiano, deputado federal sob as bênçãos de padre Cícero e que via na figura do líder cangaceiro um trunfo a mais para suas hostes, já enormemente formada por jagunços, cangaceiros, pistoleiros e tudo o que de pior havia por aquelas terras secas do sertão. Floro chegou a ter sob seu comando um grupo de mais de 500 homens, e Lampião, a meu ver, seria uma "jogada de mestre"; ao mesmo tempo imprimiria simbolicamente mais força à sua trôpega tropa e criava uma condição mais favorável para que o líder da família Ferreira pudesse criar menos problemas.

O fato é que nada disso aconteceu. Floro acabou morrendo no dia em que Lampião visitava Juazeiro do Norte, em março de 1926; dessa forma, a "batata quente" acabou caindo nas mãos de Padre Cícero. Com certeza e digo com muita segurança, padre Cícero sabia o que estava sendo tramado; nada ou quase nada acontecia no nordeste sem quem o santo do Juazeiro soubesse; assim, me parece que devido às circunstâncias, o padre não teria conseguido dissuadir a Floro, e ao mesmo tempo talvez esperasse que a empreitada não se confirmasse, daí alguns autores falarem de sua surpresa com a chegada do rei do cangaço em Juazeiro do Norte.

Assim trago minha humilde opinião. Padre Cícero não teve nenhuma ingerência com relação ao convite para que Lampião viesse a Juazeiro, nem tão pouco recebesse a famosa e polêmica patente de capitão.

Manoel Severo Barbosa


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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