Por Epitácio Andrade
Em seu livro clássico
Solos de Avena, o escritor catoleense Alicio Barreto narra que o jovem Zé Limão
ao devolver uma junta de bois que havia sido emprestada ao major José Lobo dos
Santos da Fazenda Dois Riachos, na zona rural dos municípios paraibanos de Belém
de Brejo do Cruz e Catolé do Rocha, ao major Brilhante, pai do famigerado
cangaceiro Jesuíno Brilhante (1844-79) no Sítio Tuiuiú, zona rural de Patu, no
médio-oeste do Rio Grande do Norte, cometeu o infortúnio de cumprimentar o
senhor major, sem a tradicional retirada do chapéu, situação que na sociedade
escravocrata consistia num ato de grande desrespeito, ofensa que Jesuíno
reparou com uma sova de chibatadas no escravo insolente.
Major Zé Lobo
Esse episódio desagradou,
profundamente, dona Felícia Joaquina lobo Maia, esposa do major Zé Lobo dos
Santos Maia, casal proprietário do escravo Zé Limão, criado favorito de dona
Felícia, entre os muitos da Fazenda Dois Riachos, aonde veio a se formar grande
parte do bando de cangaceiros da Família Limão.
Dona Felícia
Em 1871, com a morte do major
Zé Lobo, Dona Felícia passa a comandar ao lado de seu filho ainda jovem
Valdivino Lobo Maia, coronel da guarda nacional as ações de enfrentamento ao
cangaço de Jesuíno Brilhante.
Coronel Valdivino Lobo
O temor a
Jesuíno no Sertão também estava ligado à crença de que o bandoleiro tinha o
corpo fechado, ou seja, invulnerável à penetrabilidade de armas brancas e
projéteis. Tal crença está ligada ao mito do catolicismo popular de que o
sacerdote tem o poder de transformar a hóstia em corpo e o vinho em sangue.
Doc:
O Lugar da Morte de Jesuíno Brilhante
Foi
nesse cenário mítico-religioso-fatalista que os algozes do Brilhante
conferenciaram na fortaleza do coronel João Dantas de Oliveira, segundo Câmara
Cascudo, afeito à magia, no sítio Patu de Fora, zona rural de Patu, a confecção
de uma bala envenenada e a mobilização de uma tropa destacada na cidade de
Imperatriz (Hoje Martins) que, sob o comando do sargento Preto Limão organizou
a emboscada fatal que ceifou a vida do cangaceiro Jesuíno Brilhante, no serrote
da Tropa, comunidade Santo Antônio, zona rural de São José de Brejo do Cruz, na
Paraíba, em dezembro de 1879.
Fortaleza
do Coronel João Dantas - 1981 - Foto: Emanoel Amaral
No documentário O Lugar da
Morte de Jesuíno Brilhante depois de uma encenação de uma cerimônia de
fechamento de corpo conduzida pela benzedeira patuense dona Francisca de Mica,
o cidadão Nonagenário Mário Valdemar Saraiva Leão, com 98 anos, narrou que
Jesuíno procurava rastrear a tropa e era alertado por um de seus cabras de que
quem caça cobra, caça a morte e, ao ser alvejado por uma descarga fatal,
sussurrou: Valha-me Nossa senhora uma bala envenenada atravessou meu coração.
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