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sábado, 13 de fevereiro de 2016

CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - O MENSAGEIRO DE LAMPIÃO, A CANA DE MIGUEL SATURNINO, O RECADO DE CÍCERO BEZERRA E O OLHO VESGO DE LAMPIÃO - PARTE VII


O cangaceiro tinha esse ponto de apoio seguro no Baixio, mas “atuava” nas proximidades onde buscava “ajuda” financeira para suas necessidades.

Certo dia Lampião escreveu umas cartas pedindo “ajuda” a alguns fazendeiros “mais bem de vida” e mandou “Antôilóia” entregar as missivas, devidamente assinadas. O fato mais curioso é que uma dessas cartas era destinada ao próprio Antônio. Ele levantou seu chapéu de couro – era dos pequenos, quase sem aba – coçou a cabeça, matutou e partiu para a difícil missão. Ao voltar, fez sua prestação de contas e disse: 

- Entreguei tudo. O meu eu num tenho, mas tem meu cumpade fulano que vou pedi emprestado. 

No dia combinado com os fazendeiros foi fazer o recebimento das “ajudas”. Antônio era matreiro, sabido, que ninguém desconfiava. Ao voltar, novamente fez sua prestação de contas e disse: 

- Recebi de todo mundo, mas ficou tarde e não deu tempo de ir na casa de meu cumpade  prá pedir o meu emprestado, mas amanhã eu vou”. 

Lampião, reconhecendo que Antônio já tinha ajudado bastante, dispensou a contribuição dele.

A CANA DE MIGUEL SATURNINO

Um desses fazendeiros, Nenem Migué da Travessia (Miguel Saturnino), tinha um bom partido de cana, uma bolandeira em seu engenho e fabricava boa cachaça. Em seu bilhete, entre as doações que deveria fazer, estavam umas ancoretas de cana. No dia e local combinados, chega Nenem com os burros e quatro ancoretas cheias de cachaça. Entrega a encomenda, se despede, mas, quando vai saindo, Lampião o chama, manda destampar um dos barris, bota uma dose em um copo e dá para Nenem beber. Nenem diz: 

- Mas, amigo, acontece que eu não bebo, não tenho o costume de beber. 

Lampião disse: 

- Hoje você bebe. 

Nenem suou frio, bebeu e já ia saindo novamente, quando Lampião encheu o copo com a cana de outra ancoreta. O Miguel, novamente, foi constrangido a beber, e novamente bebeu da terceira e da quarta ancoretas. Desconfiado como sempre, Lampião queria assegurar-se de que a bebida não estava envenenada. E Nenem Migué, homem que não bebia, naquele dia chegou a Travessia puxando fogo.

O RECADO DE CÍCERO BEZERRA

Com o final da Guerra de Princesa, as tropas fiéis ao coronel José Pereira se dispersaram e muitos voltaram às suas atividades tradicionais. Cícero Bezerra Leite, um dos chefes do Coronel, ficou famoso pela bravura nas lutas, principalmente na defesa de Alagoa Nova. Ali, ele tinha casa de comércio e sua fazenda estava no sítio Mulungu, próximo ao Cajueiro e Riacho do Meio.

Cícero Bezerra contava causos das batalhas, quando se lembrou de um fato que envolvia os cangaceiros. Contou que certo dia recebeu um porta-voz de Lampião com um recado para enviar determinada quantidade em dinheiro, mantimentos e armas. Como resposta Cícero mandou o recado: “Diga ao Major que as armas estão guardadas e os celeiros do antigo Engenho, apinhadas de alimentos. Aproveito você, como portador, para dizer que ele mesmo venha buscar, a qualquer hora do dia ou da noite. Todo armamento lhe será dado desde que passe primeiro por cima da minha vontade e disposição em arrancar-lhe o pescoço, depois de batê-lo com o meu chicote de couro cru”.

Foi, sem dúvida, o recado mais desaforado destinado ao lendário e temível Lampião, cuja crueldade ganhou fama em todo país.

A vizinhança, tomada pelo medo, cuidara em fechar suas portas. A chegada dos cangaceiros seria uma questão de horas, e a previsão era de densas trevas para a minúscula comunidade e adjacências.

Como todo bom comandante, Cícero sabia que enfrentar Virgulino carecia de um bom reforço. Espalhou a notícia e, na mesma noite, dezenas de cabras armados “até os dentes” aguardavam a chegada do bando. Após duas semanas de espera, como Lampião não apareceu, todos voltaram aos seus afazeres. (Narrativa contada por Cleodom Bezerra Leite, neto do lendário Cícero Bezerra).

O OLHO VESGO DE LAMPIÃO

Segundo a escritora Vera Ferreira, em seu livro O Espinho do Quipá, Lampião teve seu olho atingido por um espinho de cacto com esse nome. Em um tiroteio, uma bala teria acertado a planta e um de seus espinhos projetou-se, ferindo o olho do cangaceiro, já bastante afetado com o glaucoma que ele sofria.

O Cel. João Bezerra da Nóbrega cita, na página 40, do seu livro Lampião e o Cangaço na Paraíba, o seguinte: “E tem mais, foi na localidade Pelo Sinal, atual cidade de Manaíra, fronteira com Pernambuco, que Lampião teve o seu olho direito atingido por um galho da espinhenta jurema preta, tornando-o o rei cego do cangaço para o resto da vida.”

Em um encontro do GPEC - Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço, em julho de 2013, conversando com o escritor - coronel João Bezerra - sobre essas duas versões, ele afirmou que existem outros escritores que se referem ao episódio do espinho da jurema, ocorrido na Paraíba em 1923, como sendo um agravador do estado de cegueira do “Rei Vesgo”.

Passadas a dor e a raiva, sentidas pelo ferimento, Lampião teria dito uma frase em tom de galhofa, afirmando que o olho não fazia falta, pois só usava um para fazer pontaria...

Quipá ou palmatória é um cacto comum na caatinga nordestina. Seu caule possui muitos espinhos.
Jurema ou jurema preta, resistente à seca e abundante nas caatingas. Possui fortes espinhos em suas ramificações.

Independentemente de uma versão ou de outra, nada impede, também, que as duas situações tenham acontecido.

Os óculos de Lampião: O Cangaceiro os usava para esconder a cegueira em um dos olhos.

Nos primeiros dias de agosto de 1925, o bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1898-1938), fazia uma de suas muitas incursões pelo sertão pernambucano. Os cangaceiros foram surpreendidos por agentes do governo e começou um tiroteio. Um dos membros, Livino – o irmão mais novo de Lampião –, foi atingido. O líder reagiu. No confronto, um soldado atirou em um cacto e a bala da escopeta fez com que um espinho fosse parar no olho direito de Lampião.

Livino acabou morrendo. Lampião, levado à cidade de Triunfo, perto do campo de batalha, foi atendido por um médico que retirou o espinho, mas não conseguiu salvar o olho do cangaceiro. Resultado: ele ficou cego de um olho. “O bom humor o impedia de esconder o problema, e ele brincava dizendo que não adiantava nada ter dois olhos, pois é preciso fechar um deles para atirar”, diz o pesquisador Antonio Amaury Correa de Araújo, autor de dez livros sobre a história do cangaço. O incidente transformou o cangaceiro em canhoto – ao menos na hora de atirar –, mas não atrapalhou sua fama de justiceiro. E o levou a usar óculos até o fim da vida. “Os óculos, que aparecem em quase todas as fotos, escondiam a deficiência de quem não a conhecia e protegiam os olhos do sol escaldante do sertão”, diz Antonio.

(Fonte: 
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/oculos-lampiao-435175.shtml)

CONTINUA...

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