O cangaceiro tinha
esse ponto de apoio seguro no Baixio, mas “atuava” nas proximidades onde
buscava “ajuda” financeira para suas necessidades.
Certo dia
Lampião escreveu umas cartas pedindo “ajuda” a alguns fazendeiros “mais bem de
vida” e mandou “Antôilóia” entregar as missivas, devidamente assinadas. O fato
mais curioso é que uma dessas cartas era destinada ao próprio Antônio. Ele
levantou seu chapéu de couro – era dos pequenos, quase sem aba – coçou a
cabeça, matutou e partiu para a difícil missão. Ao voltar, fez sua prestação de
contas e disse:
- Entreguei tudo. O meu eu num tenho, mas tem meu cumpade
fulano que vou pedi emprestado.
No dia combinado com os
fazendeiros foi fazer o recebimento das “ajudas”. Antônio era matreiro, sabido,
que ninguém desconfiava. Ao voltar, novamente fez sua prestação de contas e
disse:
- Recebi de todo mundo, mas ficou tarde e não deu tempo de ir na casa
de meu cumpade prá pedir o meu emprestado, mas amanhã eu vou”.
Lampião, reconhecendo que Antônio já tinha ajudado bastante, dispensou a contribuição
dele.
A CANA DE
MIGUEL SATURNINO
Um desses
fazendeiros, Nenem Migué da Travessia (Miguel Saturnino), tinha um
bom partido de cana, uma bolandeira em seu engenho e fabricava boa cachaça. Em
seu bilhete, entre as doações que deveria fazer, estavam umas ancoretas
de cana. No dia e local combinados, chega Nenem com os burros e quatro
ancoretas cheias de cachaça. Entrega a encomenda, se despede, mas, quando vai
saindo, Lampião o chama, manda destampar um dos barris, bota uma dose em
um copo e dá para Nenem beber. Nenem diz:
- Mas, amigo, acontece que eu não
bebo, não tenho o costume de beber.
Lampião disse:
- Hoje você bebe.
Nenem
suou frio, bebeu e já ia saindo novamente, quando Lampião encheu o copo com a
cana de outra ancoreta. O Miguel, novamente, foi constrangido a beber, e
novamente bebeu da terceira e da quarta ancoretas. Desconfiado como sempre,
Lampião queria assegurar-se de que a bebida não estava envenenada. E Nenem
Migué, homem que não bebia, naquele dia chegou a Travessia puxando fogo.
O RECADO DE
CÍCERO BEZERRA
Com o final da
Guerra de Princesa, as tropas fiéis ao coronel José Pereira se dispersaram e
muitos voltaram às suas atividades tradicionais. Cícero Bezerra Leite, um dos
chefes do Coronel, ficou famoso pela bravura nas lutas, principalmente na
defesa de Alagoa Nova. Ali, ele tinha casa de comércio e sua fazenda estava no
sítio Mulungu, próximo ao Cajueiro e Riacho do Meio.
Cícero Bezerra
contava causos das batalhas, quando se lembrou de um fato que envolvia os
cangaceiros. Contou que certo dia recebeu um porta-voz de Lampião com um recado
para enviar determinada quantidade em dinheiro, mantimentos e armas. Como
resposta Cícero mandou o recado: “Diga ao Major que as armas estão guardadas e
os celeiros do antigo Engenho, apinhadas de alimentos. Aproveito você, como
portador, para dizer que ele mesmo venha buscar, a qualquer hora do dia ou da
noite. Todo armamento lhe será dado desde que passe primeiro por cima da minha
vontade e disposição em arrancar-lhe o pescoço, depois de batê-lo com o meu
chicote de couro cru”.
Foi, sem
dúvida, o recado mais desaforado destinado ao lendário e temível Lampião, cuja
crueldade ganhou fama em todo país.
A vizinhança,
tomada pelo medo, cuidara em fechar suas portas. A chegada dos cangaceiros
seria uma questão de horas, e a previsão era de densas trevas para a minúscula
comunidade e adjacências.
Como todo bom
comandante, Cícero sabia que enfrentar Virgulino carecia de um bom reforço.
Espalhou a notícia e, na mesma noite, dezenas de cabras armados “até os dentes”
aguardavam a chegada do bando. Após duas semanas de espera, como Lampião não
apareceu, todos voltaram aos seus afazeres. (Narrativa contada por Cleodom
Bezerra Leite, neto do lendário Cícero Bezerra).
O OLHO VESGO
DE LAMPIÃO
Segundo a
escritora Vera Ferreira, em seu livro O Espinho do Quipá, Lampião teve seu
olho atingido por um espinho de cacto com esse nome. Em um tiroteio, uma bala
teria acertado a planta e um de seus espinhos projetou-se, ferindo o olho do
cangaceiro, já bastante afetado com o glaucoma que ele sofria.
O Cel. João
Bezerra da Nóbrega cita, na página 40, do seu livro Lampião e o Cangaço na
Paraíba, o seguinte: “E tem mais, foi na localidade Pelo Sinal, atual
cidade de Manaíra, fronteira com Pernambuco, que Lampião teve o seu olho
direito atingido por um galho da espinhenta jurema preta, tornando-o o rei
cego do cangaço para o resto da vida.”
Em um encontro
do GPEC - Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço, em julho de 2013,
conversando com o escritor - coronel João Bezerra - sobre essas duas versões,
ele afirmou que existem outros escritores que se referem ao episódio do espinho
da jurema, ocorrido na Paraíba em 1923, como sendo um agravador do estado de
cegueira do “Rei Vesgo”.
Passadas a dor
e a raiva, sentidas pelo ferimento, Lampião teria dito uma frase em tom de
galhofa, afirmando que o olho não fazia falta, pois só usava um para fazer
pontaria...
Quipá
ou palmatória é um cacto comum na caatinga nordestina. Seu caule possui muitos
espinhos.
Jurema
ou jurema preta, resistente à seca e abundante nas caatingas. Possui fortes
espinhos em suas ramificações.
Independentemente
de uma versão ou de outra, nada impede, também, que as duas situações tenham
acontecido.
Os óculos de
Lampião: O Cangaceiro os usava para esconder a cegueira em um dos olhos.
Nos primeiros
dias de agosto de 1925, o bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião
(1898-1938), fazia uma de suas muitas incursões pelo sertão pernambucano. Os
cangaceiros foram surpreendidos por agentes do governo e começou um tiroteio.
Um dos membros, Livino – o irmão mais novo de Lampião –, foi atingido. O líder
reagiu. No confronto, um soldado atirou em um cacto e a bala da escopeta fez
com que um espinho fosse parar no olho direito de Lampião.
Livino acabou
morrendo. Lampião, levado à cidade de Triunfo, perto do campo de batalha, foi
atendido por um médico que retirou o espinho, mas não conseguiu salvar o olho
do cangaceiro. Resultado: ele ficou cego de um olho. “O bom humor o impedia de
esconder o problema, e ele brincava dizendo que não adiantava nada ter dois
olhos, pois é preciso fechar um deles para atirar”, diz o pesquisador Antonio
Amaury Correa de Araújo, autor de dez livros sobre a história do cangaço. O
incidente transformou o cangaceiro em canhoto – ao menos na hora de atirar –,
mas não atrapalhou sua fama de justiceiro. E o levou a usar óculos até o fim da
vida. “Os óculos, que aparecem em quase todas as fotos, escondiam a deficiência
de quem não a conhecia e protegiam os olhos do sol escaldante do sertão”, diz
Antonio.
(Fonte:
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/oculos-lampiao-435175.shtml)
CONTINUA...
http://www.manaira.net/canga%C3%A7o.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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