Por João de Sousa Lima
Dia 03 de fevereiro de 2016, recebi a visita do senhor Mário
no Espaço Cultural Raso da Catarina.
Mário hoje reside em São Paulo e passando em frente ao
Espaço Cultural resolveu entrar para apreciar umas fotografias do cangaço que
ficam expostas em um mural.
Olhando as fotos ele perguntou a quem pertencia o acervo e
de imediato o levaram até minha sala onde nos apresentamos e ele relatou a
história seguinte:
- Meu pai esteve com Lampião!
Meu pai chamava-se Antônio Zeferino do Nascimento e
administrava a fazenda Logradouro, que fica em Pariconha, Alagoas. Administrou
de 1929 a 1931. A fazenda pertencia a Linduarte Batista Vilares, homem
rico que residia em Água Branca.
Em 1931, ao anoitecer, meu pai conversava com minha mãe,
Josefa Madalena de Sá, que estava grávida de minha irmã Maria Verônica de Sá.
Nas redes dormiam meus irmãos José, João, Manuel, Francisco e Antônio.
De repente o casal ouviu o tropel de uma cavalaria se
aproximando. Quando Antonio Zeferino se dirigiu para ver quem era encontrou a
casa da fazenda cercada por um grupo de 17 cangaceiros. Um dos sitiantes desceu
da montaria e se aproximou de Antonio:
- Você sabe quem sou?
- Não!
- Sou Lampião! Quero que o senhor se afaste da fazenda que
eu vou incendiá-la! O dono tem que pagar por uma velha desavença entre nós
dois!
- Faça isso não! Minha esposa está grávida e meus filhos
pequenos estão dormindo!
- Ta bom seu Antonio, eu estou vendo que o senhor
é um homem de bem! Agora mande um dos vaqueiros ir até seu patrão e diga a ele
que me mande quinhentos contos de réis senão eu toco fogo em tudo!
Antonio acordou o vaqueiro João, pediu
para que ele escondesse os animais e fosse até a cidade, em Água Branca, pedir
o dinheiro a Linduarte.
Lampião mandou Josefa preparar umas galinhas para alimentar
seu grupo e a mulher chamou uma vizinha e foram realizar a tarefa.
Quatro horas da manhã o vaqueiro João chegou com a encomenda
enviada por Linduarte e Lampião se deu por satisfeito.
Lampião chamou Antonio e pediu pra que ele o acompanhasse
até a fazenda “Fogador”, de propriedade José Francisco.
Antonio seguiu com Lampião e Josefa ficou chorando e rezando
para que nada de ruim acontecesse a seu marido.
Na fazenda Fogador, com o dia clareando, Lampião pegou Zé
Francisco e ordenou que seus cabras o prendessem e o amarrassem em uma árvore e
deu a sentença:
- Ou me dar dinheiro ou morre!
- Eu não tenho dinheiro.
- Tem sim cabra mentiroso! Sangrem esse desgraçado!
Antônio vendo que o pior poderia acontecer ao seu amigo e
compadre Zé Francisco falou:
- Capitão libere ele, ele é um homem bom e tem família!
- Ou aparece dinheiro ou morre!
Os cangaceiros vasculharam uns baús
e encontraram o dinheiro.
Lampião atendendo ao pedido de Antonio acabou por liberar Zé
Francisco sem que ele sofresse punição.
O cangaceiro se despediu de Antonio e mandou lembranças a
sua esposa Josefa, agradecendo pela farta alimentação, a boa galinha caipira
cozida que matou a fome dos cangaceiros.
Essa história hoje é retratada no livro que Mário escreveu,
intitulado “O Diário de Mário”.
João de Sousa Lima
Historiador e Escritor
Membro da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso –
cadeira 06.
Membro da SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
Paulo Afonso, 03 de fevereiro de 2016.
http://joaodesousalima.blogspot.com.br/2016/02/lampiao-em-pariconha-alagoas.html
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