Por Semira
Adler Vainsencher
Semira Adler
Vainsencher
Pesquisadora
da Fundação Joaquim Nabuco
Antônio
Silvino passou vinte e três anos, 2 meses e 18 dias recluso. Mas, após esse
período, recebeu um indulto do Presidente Getúlio Vargas. Na época, ele
declarou:
"Minha vida
todo mundo conhece. Vinte e três anos de reclusão alteraram o meu destino. Mas,
diga lá fora, que eu nunca roubei, nem desonrei ninguém, e, se matei alguma
pessoa, foi em defesa própria, evitando cair nas mãos de inimigos".
Saiu feliz da
vida da prisão, como um passarinho que escapou da gaiola. Tinha 62 anos de
idade.
Liberto, ele
decidiu andar pela rua Nova, olhar as vitrines, ir até à Sorveteria Pilar,
conhecer a praia de Boa
Viagem, admirar Recife e Olinda. Chegou, inclusive, a conhecer o Rio de
Janeiro e o Presidente Vargas.
Desejando se
estabelecer no interior do Estado, Antônio Silvino resolveu mandar uma carta
para José Américo de Almeida, um político de renome na Paraíba, solicitando-lhe
um emprego, por conta dos "seus serviços prestados ao Nordeste". Mas,
o escritor e político jamais lhe respondeu a carta.
O ex-detento
viaja para o sertão da Paraíba. Ficou vagando de cidade em cidade, se
hospedando nas casas de alguns amigos antigos, porém jamais obteve recursos
financeiros para comprar a tão sonhada pequena propriedade e dedicar-se de
corpo e alma à agricultura.
Terminou indo
viver com uma prima, Teodulina Alves Cavalcanti, que morava com o seu esposo em
uma casa modesta na rua Arrojado Lisboa, em Campina Grande, na Paraíba.
Considerando-se
que Antônio Silvino permaneceu vinte anos arriscando a vida e enfrentando o
perigo no cotidiano, é possível afirmar que o ex-cangaceiro teve uma vida
longa. Lampião, por exemplo, foi morto em Sergipe no ano de 1938, aos 41 anos
de idade. Na ocasião de sua morte, Antônio Silvino estava cumprindo a sua pena
e, quando indagado acerca do ocorrido, ele declarou:
"Não me causou
admiração porque a vida é incerta, mas a morte é certa. Não me interessam mais
esses assuntos de cangaço, pois sou um homem regenerado. Só quero, agora,
descanso na minha velhice".
Do perigoso
cangaceiro que fora no passado, ele era hoje um homem idoso, mas que possuía
uma mente esclarecida e respondia bem à todas as perguntas que lhe faziam.
Dele, foi esse depoimento:
"Nunca tive
medo de morrer em pé, quando campeava pelo Nordeste, mas, agora, deitado, não
quero morrer, se bem que não tenha medo do inferno, pois se para lá for,
disputarei um lugar de chefe, um posto de comando qualquer. Pro céu é que eu
não quero ir, pois, ao que me consta, lá não há campo pra luta, nem lugar para
Capitão de mato como sempre fui. Quero viver mais um pouco, mesmo com esta
agonia que estou sentindo, com esta falta de ar, com esta falta de conforto".
E acrescentou:
"A justiça dos
homens me condenou. A justiça da Revolução de 30 me absolveu, dando-me
liberdade. A doença agora me prende e eu tenho que aguardar o pronunciamento da
justiça de Deus. É ela maior de que todas as justiças da terra".
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=329
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