Antes de
chegar a Poço Redondo em 29 de abril de 1929, Lampião esteve em Ribeirópolis,
Pinhão e no povoado do Alagadiço, pertencente a Frei Paulo. Parecia procurar
alguém ou reconhecer um terreno...
Antes de
chegar a Poço Redondo em 29 de abril de 1929, Lampião esteve em Ribeirópolis,
Pinhão e no povoado do Alagadiço, pertencente a Frei Paulo. Parecia procurar
alguém ou reconhecer um terreno onde contava com amigos, como Otoniel Dória, de
Itabaiana, terra de Volta Seca. A amizade entre Lampião e Otoniel Dória
certamente evitou a entrada do cangaceiro e do seu grupo em Itabaiana. No dia
21 de abril Lampião estava em Ribeirópolis, de lá foi para o Pinhão, voltou
para Ribeirópolis, foi a Alagadiço, seguindo viagem até chegar a Poço Redondo,
a terra que mais contribuiu com gente, homens e mulheres , para os bandos de
cangaceiros. Entrando e saindo de Sergipe, Lampião escolhia a dedo o roteiro e
o lugar de suas visitas. A sua presença em Capela, em novembro daquele mesmo
ano, é a mais conhecida e relatada, graças aos depoimentos de Jackson Alves de
Carvalho, incluindo o relato que fez ao conterrâneo Nelson de Araújo, publicado
no jornal A Tarde, da Bahia, e aos artigos de Zózimo Lima, no Correio de
Aracaju e na Gazeta de Sergipe. Os dois informantes foram protagonistas dos
acontecimentos na Capela e mereceram de Lampião toda a atenção. Um deles chegou
a ser procurado no cinema da cidade. Zózimo Lima era dos Correios e Telégrafos,
posto chave para evitar que a notícia da presença ali do cangaceiro fosse
comunicada às autoridades. Antes e depois de Capela, o capitão esteve em Nossa
Senhora das Dores. A rota de Virgulino Ferreira da Silva em Sergipe era
guardada por um grande círculo de amizades, transformadas quase sempre em
coitos e em fornecimento de víveres, armas, munições, animais, dinheiro e
outras coisas necessárias à sobrevivência do chefe e do seu bando. Um dos bons
amigos de Lampião foi o capitão médico Eronídes de Carvalho, que depois da
revolução de 1930 passou a ser figura destacada da vida política sergipana,
ocupando o Governo da Interventoria e sendo, com a constitucionalização de
1934, Governador do Estado. Em agosto de 1929, ano que Lampião passou quase
todo em Sergipe, na fazenda Jaramantaia no município de Gararu, houve um
encontro entre os dois amigos. Foram longas conversas documentadas pela câmera
fotográfica de Eronídes de Carvalho, em fotos que o cangaceiro usa perneiras, o
que era raro. Além de ser amigo do militar, Virgulino Ferreira da Silva tinha
fortes laços com Antonio Carvalho, o Antonio Caixeiro, pai de Eronídes e
influente senhor de terras em Canhoba, Gararu e Porto da Folha e em outros
locais do sertão do São Francisco. A notória amizade estimulava os comentários de
que a família de Eronídes de Carvalho fornecia armas e munições novas,
modernas, tornando Lampião melhor armado do que as forças que o perseguiam. O
rio São Francisco era a ponte para Lampião, seu grupo, e os grupos de outros
chefes, como Zé Sereno e Corisco, que freqüentemente andavam em solo sergipano.
Sendo comum a travessia, nem sempre foi fácil fixar com precisão, quantas foram
e quando foram as visitas dos cangaceiros a Sergipe. O que se sabe é que
Sergipe foi bem freqüentado e viveu dias de medo, e sobressalto, debaixo da
presença sempre surpreendente dos cangaceiros. Sabe-se também, que os senhores
de terra e de engenhos davam quantias significativas a Lampião, atendendo aos
seus pedidos, quase sempre escritos em cartões de visita com sua foto ao lado,
ou em simples pedaços de papel. Antes de ter encontrado com o padre Artur
Passos em Poço Redondo, Lampião pode ser assistido missa em Canindé, o arruado
antigo que desapareceu do mapa para que surgisse, com a barragem do rio, uma
nova cidade. No entanto, não houve o registro nos moldes do que foi feito pelo
padre Artur Passos. A presença de Lampião em Sergipe permaneceu no noticiário
dos jornais e nas conversas das cidades, povoados, nas feiras e nas ruas e
estradas sergipanas, até sua morte na gruta de Angicos, nos domínios
geográficos de Poço Redondo, no dia 28 de julho de 1938. O ataque da força
alagoana atraiu a imprensa do Brasil, enquanto por coincidência ou não,
Eronídes de Carvalho, na chefia do Governo, novamente como Interventor, pagava
matéria publicitária de Sergipe, nos jornais do Rio de Janeiro. A morte de
Virgulino Ferreira da Silva não encerrou o ciclo. Corisco, que escapou do
massacre por ter chegado atrasado para o encontro com Lampião, vingou o chefe
degolando moradores de fazendas da margem sergipana do rio São Francisco. O rei
do cangaço mereceria ainda, a atenção de escritores sergipanos, como Ranulfo
Prata e Joaquim Góis. O primeiro era médico, escritor premiado como contista e
como romancista, autor de Dentro da Noite, Navios Iluminados, Lírio da
Corrente, escreveu Lampião, documentário editado em 1937 (Rio de Janeiro:
Ariel) quando ainda vivo Lampião alimentava o imaginário social com suas
façanhas. Joaquim Góis, investigador de polícia, integrante de uma das volantes
sergipanas, revelou-se excelente narrador ao escrever Lampião – O Último
Cangaceiro (Aracaju: Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, 1966). Outro
sergipano, José da Costa Dória, radicado na Bahia, testemunha ocular da
presença de Lampião no sertão baiano, deixou inédito Vida e Morte do Cangaceiro
Lampeão. Padre Artur Passos fez registro do seu encontro com Lampião em Poço
Redondo em série de artigos publicados em pequenos jornais de Penedo, Alagoas e
de Rosário do Catete e outros lugares de Sergipe. O jornalista baiano radicado
em Aracaju, Juarez Conrado é o autor de A Última Semana de Lampião, publicado
em 1983, adaptado para especial na televisão. O acadêmico e magistrado José
Anderson do Nascimento escreveu Cangaceiros, Coiteiros e Volantes, editado em
1998. Sila: Uma Cangaceira de Lampião é o livro de Ilda Ribeiro de Souza, a
Sila, mulher de Zé Sereno, com seu depoimento sobre as andanças dos grupos pelo
Nordeste. E Alcino Alves Costa, político de Poço Redondo, tem contribuído com
informações e análises para a compreensão do fenômeno do cangaceirismo e
especialmente sobre a presença de Lampião em Sergipe. Depois de publicar
Lampião Além da Versão, em 1996, acaba de lançar O Sertão de Lampião, ambos
editados sob os auspícios da Secretaria de Estado da Cultura. Vera Ferreira,
filha de Expedita e neta de Lampião e de Maria Bonita tem pesquisado e estudado
o cangaço, publicando livros esclarecedores, sozinha ou em parceria com o
incansável Antonio Amaury Corrêa de Araújo, odontólogo e escritor radicado em
São Paulo.
Permitida a reprodução desde que citada a fonte "Pesquise
- Pesquisa de Sergipe / InfoNet"
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http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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