Ao contrário
do que teve muitos cangaceiros, sobressaindo-se apenas dois: Chico Pereira e
Osório Olímpio de Queiroga, coincidentemente nascidos na região de Pombal. Como
ninguém nasce cangaceiro, os dois entraram no cangaço para vingar a morte dos
seus pais. O primeiro foi assassinado pela Polícia Militar do Rio Grande do
Norte, no município de Acari. E o segundo, absorvido na comarca de Pombal,
ingressou na PM da Paraíba, tornando-se um oficial respeitado, sensato e
equilibrado, reformando-se no posto de coronel.
Ao contrário
do que muitos pensam, Manoel Batista de Morais, o Antônio Silvino, não era
paraibano. Nasceu em Afogados de Ingazeiras, em Pernambuco. Viveu muitos
anos na Paraíba, morrendo aos 69 anos na cidade de Campina Grande, no dia 9 de
outubro de 1944, ainda certo do grande trabalho prestado à comunidade
sertaneja, pois ainda ninguém conseguia convencê-lo ao contrário, como afirma o
jornalista e escritor Barroso Pontes, autor de quatro livros que tratam do
cangaceirismo no Nordeste.
No verão 1914,
Antônio Silvino invadiu a cidade de Mogeiro, na Paraíba. A cerca assolava
terrível e levas de flagelados exibiam a sua miséria pelas estradas
ressequidas. Silvino, ao apossa-se da cidade, não cometeu nenhuma violência
contra pessoas físicas, mais apoderou-se dos gêneros alimentícios estocados no depois seria
preso, quando ferido em combate com a força do então major Teófanes Torres (da
Polícia Militar de Pernambuco) numa fazenda do distrito de Frei Miguelino, município
de Vertentes onde costumava se acoitar. De fatos como aquele, acontecido na
cidade de Mogeiro recheia a história de Antônio Silvino e a sua fama ainda hoje
corre pelo mundo.
Antônio
Silvino, Jesuíno Alves de Melo Calado, vulgo Jesuíno Brilhante e Virgulino
Ferreira da Silva, o famoso Lampião, que tiveram atuação na Paraíba, embora
este último “não tenha levado boa vida”, em virtude da perseguição do comando
militar chefiado pelo coronel Manoel Benício da Silva.
O escritor
Barroso Pontes, por sua vez, informou, que Antônio Silvino foi posto em
liberdade no dia 20 de fevereiro de 1937, tendo logo em seguida telegrafado ao
ministro José Américo de Almeida: Solicito de Vossa Excelência um emprego
federal pelos relevantes serviços que prestei ao Nordeste”.
Não se sabe se
o emprego foi dado, embora alguns contém que sim.
A história
registra que o privilégio do combate ao cangaço coube ao presidente João
Pessoa. Se não conseguiu a extinção, é o responsável maior pelo início do
combate, feito numa época “em que a transição política impunha novos métodos,
sem menosprezar a ação dos autênticos líderes interioranos implantando costumes
tanto compatíveis ao tempo, como inaceitável aos nossos dias.
É ponto
pacífico que o mais temido bando de cangaceiros era o de Lampião, com atuação
nos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas,
Sergipe e Bahia. Foi também o de maior duração, com vinte anos consecutivos de
atuação. O segundo, com 16 anos, foi o de Antônio Silvino. Conta a história que
Antônio Silvino tinha uma formação diferente de Virgulino Ferreira da Silva. Ao
passar por uma localidade e observando irregularidades, por culpa de administradores,
chamavam os responsáveis e mandava corrigi-las.
Virgulino
Ferreira da Silva, o Lampião, foi tragicamente morto no dia 27 de julho de
1938, acredita-se, ainda hoje, que o coiteiro Pedro Cândido, que o traiu tenha
se vendido a polícia. Pedro Cândido teria sido encarregado de introduzir, com o
auxílio de uma agulha de injeção, um veneno letal nas garrafas de vinho
destinadas a Lampião e seu bando. O trabalho foi feito com arte e não provocou
nenhum dano as rolhas de cortiça dos vasilhames.
Jesuíno
Brilhante, o primeiro dos três, foi tido e havido como o cangaceiro
gentil-homem e bandoleiro romântico, morreu em 1879, no lugar Santo Antônio,
entre Caraúbas e Campo Grande, no mesmo Estado onde nasceu.
Jesuíno foi o
maior cangaceiro do século XIX, como afirmou o historiador cearense Gustavo
Barroso, em seu livro Heróis e Bandidos. Era de família abastada,
conservando-se fiel às tradições sertanejas, respeitando o alheio, acatando a
honra das donzelas, primando pelo comprimento da palavra empenhada, sendo por
isso considerado homem de caráter e sempre exaltado pelas populações sertanejas
do seu tempo. As vezes que cometeu assaltos, fê-los no sentido de ajudar
alguém, já que dedicava a melhor atenção a pobreza, tudo fazendo para prestar
seu apoio aos necessitados.
Em relação a
Jesuíno Brilhante, sabe-se ainda que invadiu, de madrugada, a cadeia pública de
pombal, liberando seu irmão e os demais presos.
O imortal
paraibano Assis Chateaubriand definia o fenômeno cangaceirismo como sinônimo de
virilidade e coragem pessoal, pioneirismo, inovações, impetuosidades e decisões
agressivas.
Dizem que
cangaceiros autênticos, reais, o Nordeste só conheceu três: Jesuíno Brilhante,
Antônio Silvino e Virgulino Ferreira, o Lampião.
CANGACEIROS DA
PARAÍBA
Para destacar
os principais, que entraram no cangaço, não por vocação, mas por obrigação, que
a própria época exigia, destacam-se Francisco Pereira e Osório Francisco
Ferreira, ainda jovem, de família conceituada, por força do destino entrou no
cangaço, para vingar a morte do pai, barbaramente assassinado. Seu pai era um
homem pacato, fazendeiro honrado, que antes de morrer pronunciou as seguintes
palavras: “Vingança não”.
Disse diante
desse pronunciamento, à família, especialmente os filhos, ficaram num dilema,
porque era determinação da própria sociedade, da época, a vingança. Mas
resolveram atender o pai. O filho, Chico Pereira, procurou a Polícia, registrou
a queixa e insistiu com o delegado para que fosse feita a prisão do assassino
do pai, tendo a autoridade policial afirmado: “Chico, a gente solta uma vaca e
para achá-la, não é facil, imagine um criminoso perigoso, como este que matou
teu pai”. Chico Pereira, desejando dar satisfação à família, pediu uma
autorização ao delegado, por escrito. Logo depois encontrou o criminoso,
dormindo. Com rara dignidade, mandou que o sujeito acordasse e o levou preso,
para a Polícia. Volta para casa e a família ficou satisfeita com o episódio da
prisão. Um dia depois o criminoso se encontrava em liberdade. Chico compreendeu
que não havia justiça. Chico compreendeu que não havia justiça e se viu na
contingência de fazê-la com as próprias mãos.
Na mesma
região de Pombal, registrou-se outro caso, Osório um garoto de poucos meses de
nascido, encontrava-se numa rede quando o pai chegou baleado, quando afirmou:
“Este gatinho que está na rede vai vingar minha morte”. À medida que ia
crescendo, Osório ouvia de outro: a determinação do pai. Ao completar 18 anos,
recorreu à justiça da época, o rifle, e matou o assassino do pai e outros que
cruzaram seu caminho. Osório Olímpio de Queiroga foi realmente um cangaceiro
respeitado. Depois conseguiu absolvição, na comarca de Pombal, e ingressou na
Polícia Militar da Paraíba, chegando a coronel e se conduzindo sempre como um
militar digno e correto. O mesmo chegou a ser prefeito de Catolé do Rocha.
O problema do
cangaceirismo e coronelismo vem, segundo consta, da Guerra Brasil-Paraguai,
quando foi fortalecida a guarda nacional e, entre as pessoas recrutadas, eram
dadas patentes.
Nos séculos
passados, no entanto, a Paraíba teve inúmeros grupos de bandidos, que invadiam
as cidades, saqueavam o comércio e matavam. As causas principais eram a seca e
a fome. No ano de 1887, registraram-se invasões e violências. A polícia nada
podia fazer para garantir a vida do cidadão e da propriedade alheia, sempre
ameaçadas pelos bandidos. Os jornais da época denunciavam a insegurança nos
sertões, sem que qualquer providência tivesse sido adotada para coibir o abuso.
José Américo
de Almeida, no Livro A Paraíba e seus problemas, relacionou inúmeros grupos de
bandidos que agiam impunemente no sertão. O grupo de Jesuíno Brilhante, com atuação
no século passado, foi um exemplo. Ele residiu, por alguns anos, na localidade
Boa Vista, próxima a Pombal, sem qualquer diligencia da polícia para capturá-lo.
Foi dessa maneira que a miséria juntou-se ao terror. Fazendeiros abastados, que
poderiam resistir à crise, durante alguns meses, emigraram sem demora,
temerosos de assaltos.
Em maio do
mesmo ano, a cadeia de Campina Grande foi arrombada e muitos indivíduos
implicados ao movimento do quebra-quilos fugiram. Dentro de mais algumas
semanas, outros presidiários fugiram, entre os quais o famigerado Alexandre de
Viveiros, chefe do levante de 1874. Ainda foi arrombada a cadeia de Mamanguape
e, ao mesmo tempo muitos sentenciados caíram fora.
José Américo
de Almeida conta, também, que, desta maneira, iam-se tornando mais terríveis as
correrias com a aquisição de novos profissionais do crime da Paraíba e do
Ceará. Ressalte-se a fraqueza das autoridades que permitiam que fossem
engrossando os grupos, como o do Calangro, evadido da cadeia do Crato e
cabeça dos 60 assalariados de Inocêncio Vermelho: o de Sebastião Pelado,
inimigo dos primeiros: e dos irmãos Viriatos, formado de mais de 40 bandidos: e
dos Mateus, entre outros. Um desses bandos assaltou duas propriedades em
Alagoa Grande.
O senhor
Gustavo Barroso, por exemplo, retrata o comportamento de Viriato, um dos
principais cangaceiros da época: “O Viriato foi um dos cangaceiros mais
célebres, mais rasteiros e mais tortuosos do Cariri. Era um miserável
estabanado nos atos, com uma infinidade de predisposições redutíveis ao roubo,
ao estupro e ao assassinato. Inventava torturas para as vítimas. Gostava mais
de matar às facadas do que de fuzilar, dizia que era “mais barato”. Esse
bandido obrigou um fazendeiro de São João do Cariri a casar-se com a irmã de
seu compassa Veríssimo.
Foi
assassinado, de emboscada, no lugar Riachão, o Dr. Vicente Ribeiro de Oliveira,
quando voltava da Bahia para reassumir o Juizado de Direito da Comarca de
Piancó. Esse crime foi atribuído aos cangaceiros.
http://historiadaparaiba.blogspot.com.br/2008/11/o-cangao-na-paraba.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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