Da esquerda
para a direita: Giovane Macário, José Lopes Tavares, Cristiano Ferraz, Richard
Torres Pereira, Sálvio Siqueira, Maria Oliveira, Sargento Romilson e Vaneildo
Bispo.
78 Anos Depois
do Ataque da Polícia Contra o Esconderijo dos Cangaceiros de Lampião na Grota
do Angico, Um Grupo de Pesquisadores Nordestinos Pernoitam no Local Buscando
Compreender o que Aconteceu. E Lá se Depararam com um Sério Ato de Vandalismo!
Autor
– Rostand Medeiros
As questões
que envolvem a morte de Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros na famosa
Grota do Angico, em 1938, sempre foi algo muito espinhoso entre os que estudam
o tema Cangaço.
Para muitos o
chefe cangaceiro Lampião foi pego de surpresa, com a guarda baixa e pagou com a
vida. Para outros essa surpresa existiu porque ele e demais membros do bando
foram envenenados.
Já logo após
as mortes em Angico começaram a surgir uma série de conjecturas, dúvidas e
debates sobre como se desenrolaram os acontecimentos relativos àquele combate,
as razões das mortes dos cangaceiros e muitas outras questões.
Para ter uma
ideia, apresento-lhes uma das muitas narrativas existentes na Internet sobre o
fim de Lampião.
Lampião, o Rei
do Cangaço
“No dia 27 de
julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe,
esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito
e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão de mansinho que nem os
cães pressentiram. Por volta das 5:15 do dia 28 de julho, os cangaceiros
levantaram para rezar o oficio e se preparavam para tomar café; quando um
cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais.
Não se sabe ao
certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, o bando foi pego
totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do
Sargento Aniceto Rodrigues da Silva abriram fogo com metralhadoras portáteis,
os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.
O ataque durou
uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos trinta e
quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos
primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns
cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram
escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais apreenderam os bens e
mutilaram os mortos. Apreenderam todo o dinheiro, o ouro e as joias.
Lampião, Maria
Bonita e seus cangaceiros.
A força
volante, de maneira bastante desumana para os dias de hoje, mas seguindo o
costume da época, decepou a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva,
apesar de bastante ferida, quando foi degolada. O mesmo ocorreu com
Quinta-Feira, Mergulhão (os dois também tiveram suas cabeças arrancadas em
vida), Luis Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete (2) e Macela. Um
dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de
fuzil na sua cabeça, deformando-a; este detalhe contribuiu para difundir a
lenda de que Lampião não havia sido morto, e escapara da emboscada, tal foi a
modificação causada na fisionomia do cangaceiro.”
Sobre este
texto ver –http://www.meionorte.com/blogs/josefortes/a-morte-de-lampiao-e-seu-bando-174209
Uma Ideia
Muito Interessante
Atualmente,
como em muitas áreas de pesquisa, as pessoas que se debruçam sobre o tema do
Cangaço se dividem em dois grupos majoritários – Os que pesquisam basicamente
em documentos, livros, jornais, bibliotecas e outros locais que lhes tragam
informações e pouco vão a campo. Além destes temos os que buscam seguir com
maior ênfase “comendo poeira” nas estradas do sertão em busca da tradição oral
e dos registros existentes nas memórias coletivas das comunidades distantes do
Nordeste e utilizando em menor proporção material documental.
E, como é
normal neste ramo de atividade, as duas vertentes possuem bons e maus trabalhos
resultantes destas pesquisas e sempre novas produções estão sendo publicadas.
Mas uma nova
tendência parece haver surgido nas pesquisas do Cangaço – A dos pesquisadores
que se unem para passar algum tempo em locais onde os fatos mais intensos
relativos a este tema aconteceram – Os locais de combate.
E o local
onde, aparentemente, isso ocorreu pela primeira vez foi na controversa Grota do
Angico. Um grupo de pesquisadores nordestinos realizou recentemente uma
interessante empreitada de permanência neste local.
Sempre fui uma
pessoa que admiro as iniciativas de pesquisadores que buscam conhecer mais a
fundo aquilo que estudam e acreditam. E confesso que fico mais entusiasmado com
pessoas que desenvolvem novas e interessantes iniciativas em prol do
conhecimento.
Recebi informações
que essa ideia surgiu por dois caminhos distintos, mas com os mesmos objetivos.
Em maio de
2016, na companhia do artista plástico Sérgio Azol, eu estive na cidade
pernambucana de Floresta, onde conhecemos e fomos recepcionados pelos
escritores e pesquisadores Marcos Antonio de Sá, conhecido como “Marcos De
Carmelita” e Cristiano Luiz Feitosa Ferraz, que recentemente lançaram o
interessante livro “As cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta –
PE”. Durante nossa visita Marcos me comentou que em diálogo com os irmãos
Francisco e Washington Rodrigues Correa, proprietários do Restaurante Angico,
às margens do Rio São Francisco, surgiu a ideia de pernoitar na Grota e ele
recebeu apoio desses irmãos.
1938 – Um dia
após o combate na Grota do Angico, policiais e curiosos contemplam o cadáver
decapitado de Maria Bonita.
Tanto Marcos
como Cristiano são agentes da Polícia Civil do Estado de Pernambuco e atuam na
área de caatinga, mostrando que pernoitar naquele local não seria algo
problemático e seria algo muito positivo, pois existiam mais perguntas do que
respostas aos chamados “Mistérios de Angico”. Marcos desejava com esta
permanência contrapor informações e realizar uma pesquisa que poderia ampliar
as discussões envolvendo os fatos que se deram na Grota do Angico.
Infelizmente,
por problemas de saúde, não houve condições da participação de Marcos de
Carmelita na empreitada ocorrida recentemente e que descrevemos neste texto.
Felizmente o mesmo se encontra em plena recuperação.
Outro que teve
o mesmo pensamento e igualmente desejou realizar uma empreitada nos mesmos moldes
foi Sebastião Giovane Gomes de Sá. Ele é conhecido como “Giovane Macário”, é
natural da cidade pernambucana de Floresta e a idéia surgiu após entrevistar
Manoel Cavalcanti de Souza, um antigo membro das forças volantes que
perseguiram os cangaceiros e ficou conhecido como “Neco de Pautilia”. Este
faleceu em 29 de maio de 2014, aos 101 anos de idade, mas antes de sua partida
Giovane lhe prometeu, em meio a um interessante diálogo sobre o tema, que um
dia buscaria pernoitar na área da Grota do Angico, com o objetivo de ter uma
idéia bem real de como se desenrolaram os episódios envolvendo a morte do maior
chefe cangaceiro e sair de lá com muitas respostas. Ou com muito mais
perguntas!
Seguindo para
a Grota do Angico
Entre
preparativos e inúmeros contatos via Internet, nomes foram sendo incluídos e
depois retirados por razões diversas. Mas ficou definido que o grupo seguiria
para a Grota do Angico no dia 27 de julho de 2016, pernoitando no local e só
deixando a área no dia seguinte.
Para reunir os
participantes do grupo de pesquisa, além do significado óbvio da data, foi
aproveitado a ocorrência do evento Cariri Cangaço, que aconteceria entre os
dias 28 a 30 de julho, na cidade de Piranhas, Alagoas. Aonde diversas pessoas
de todo Brasil que pesquisam, tem interesse, ou mera curiosidade pelo tema
Cangaço, estariam reunidas na região.
Vista da Grota
do Angico. Foto realizada pelo autor deste texto, em uma recente visita junto
com o artista plástico Sérgio Azol.
Além do Cariri
Cangaço estava marcado no dia 28 de julho, na própria Grota do Angico, a 19ª
edição da Missa do Cangaço. Este é um evento organizado pela jornalista Vera
Ferreira, neta de Lampião, e integrantes do Museu do Cangaço, com apoio
logístico da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do
Estado de Sergipe (SEMARH).
Salvo alguma
informação em contrário e que desconheço, os integrantes deste grupo teriam a
honra de serem os primeiros a pernoitar na área com o objetivo de pesquisa,
estando no local do combate no dia em que o episódio completava 78 anos de sua
ocorrência.
Outra foto do
grupo que pernoitou no local.
Este grupo foi
formado por Sálvio Siqueira (de São José do Egito, Pernambuco), Cristiano Luiz
Feitosa Ferraz e Giovane Macário (ambos de Floresta, Pernambuco), José Lopes
Tavares (de Verdejante, Pernambuco, mas residente na cidade do Recife),
Romilson Santos (de Aracaju, Sergipe), Vaneildo Bispo (de Canindé do São
Francisco, Sergipe), Maria Oliveira (de Poço Redondo, Sergipe) e Richard Torres
Pereira (de Serra Talhada, Pernambuco).
Eles se
deslocaram ao local via Poço Redondo, até a sede administrativa do Monumento
Natural Grota do Angico. Esta é uma unidade de conservação criada pelo governo
do Estado de Sergipe, através do Decreto número 24.992, de 21 de dezembro de
2007. Está situada no Alto Sertão Sergipano, a cerca de 200 km de Aracaju,
entre os municípios de Poço Redondo e Canindé de São Francisco, às margens do
conhecido “Velho Chico”. A área de preservação possui um total de 2.183
hectares, em uma região que abriga remanescentes florestais da Caatinga
hiperxerófila densa e foi criado com objetivo de preservar o sítio natural da
Grota do Angico e elementos culturais associados, mantendo a integridade dos
ecossistemas naturais da Caatinga, para o desenvolvimento de pesquisa
científica, educação ambiental, ecoturismo e visitação pública. Desde a sua criação,
a unidade é administrada pela SEMARH, recebe visitantes de várias partes do
Brasil e do exterior, sendo a única unidade de conservação estadual de Sergipe
inserida do bioma caatinga.
Outra imagem
da área da Grota do Angico, realizada pelo autor deste texto.
Neste belo
local o grupo de pesquisadores deixou a sede administrativa por volta das
quatro e quinze da tarde, percorrendo a trilha em cerca de trinta minutos,
sendo acompanhados pelo guia do parque James Cardozo.
Ao chegarem a
Grota do Angico o grupo encontrou Cícero Rodrigues (de Maceió, Alagoas), que
havia feito o roteiro através deslocamento de barco via Entremontes (um
distrito de Piranhas).
Foi nesse
momento que o grupo percebeu que algo não estava correto.
Triste
Vandalismo
Eles notaram
que a cruz e a placa em memória da morte do soldado Adrião não estavam mais no
seu local original.
Até
recentemente quem chegava a Grota do Angico encontrava encravada nas rochas
três cruzes que homenageavam aqueles que tombaram no combate de 28 de julho de
1938.
Foto da
ocasião em que o autor deste texto esteve na Grota do Angico e fotografou o
local com as três cruzes.
Duas das
cruzes, uma ao lado da outra, são dedicadas aos cangaceiros e uma outra, menor
e localizada mais à esquerda destas duas, era dedicada ao soldado Adrião Pedro
de Souza, o único policial morto no combate. Junto desta cruz havia uma placa
chantada pelos membros de grupos ligados a pesquisa do Cangaço no Nordeste e
que, infelizmente, também havia desaparecido. Tanto a cruz quanto a placa haviam
sido colocadas na área em 2013.
Diante deste
nefasto ato de depredação e vandalismo a indignação dos membros do grupo foi
geral.
Giovane
Macário assim descreveu a sua revolta:
“Descemos
para a Grota do Angico, aonde chegamos ás 16:40 e nos deparamos com uma
cena triste e revoltante, pois a Cruz e a placa em homenagem ao Soldado Adrião
Pedro de Souza tinham sido furtadas por vândalos. Ficamos indignados com a cena
e perguntamos ao guia quem tinha sido o responsável. Ele respondeu que da
madrugada de domingo para segunda-feira, dia 25 de julho de 2016, teria
acontecido o ato de vandalismo. Embora sabemos que esse ato criminoso partiu de
alguém poderoso, não podemos acusar ninguém sem provas concretas, mais uma
coisa eu tenho certeza – quem fez, isso a mando de alguém, não tem nenhum
conhecimento histórico e fez a sociedade olhar para aquela cruz. Pois foi um
ato criminoso da pior espécie e pedimos das autoridades competentes
providências cabíveis”.
Detalhe da
cruz do soldado Adrião.
Já Cristiano
Ferraz assim expôs suas impressões sobre a chegada do grupo a Grota do Angico,
o ato de vandalismo ali praticado e a montagem do acampamento.
“A última
semana (especificamente os dias 27 a 30 de julho de 2016) foi de grande
atividade para todos nós. Era chegada a hora de nos deslocar a Piranhas onde se
realizaria mais uma edição do evento Cariri Cangaço. Alguns dos participantes
do evento planejaram pernoitar no conhecido “Coito do Angico” no município de
Poço Redondo, no Estado de Sergipe. Dois grupos foram formados. Um deles se
deslocaria durante o dia, via Poço Redondo e outro seguiria durante a noite, de
barco, via Piranhas, Alagoas (Este segundo grupo chegou à Grota do Angico por
volta de uma e meia da madrugada).
Este grupo
chegou à grota do Angico por volta das quatro e quarenta da tarde onde
encontrou o companheiro Cícero Rodrigues. Foi nesse momento que percebi
imediatamente a ausência da cruz do soldado Adrião.
O grupo em
progressão na caatinga.
Fiquei
surpreso e preocupado com o fato e perguntei ao funcionário que nos acompanhou
até o local sobre o destino da cruz, tendo ele explicado que fora retirada,
usando a palavra “vandalismo”. Ele explicou que fora confeccionado um boletim
de ocorrência do fato.
Inconformados
e preocupados nós passamos a organizar o local do pernoite, armando as barracas
e redes (cobertas com lonas) para prevenir das chuvas finas que têm caído no
local este ano. Estes preparativos terminaram no início da noite quando, após
comer algo (café, biscoitos, pão, etc.), decidimos descer para o local das
Cruzes onde acendemos velas pelos mortos e passamos a estudar o local.
À noite, no
escuro, o local dá a impressão de ser totalmente diferente do que vemos durante
o dia….”
Como ficou o
local depois do ato de vandalismo.
Uma
Interessante Análise do Que Aconteceu em 1938
Por sua vez o
amigo Sálvio Siqueira enviou um interessante texto onde ele faz várias análises
do que viu naquela madrugada. Ele também trouxe no seu texto vários
questionamentos sobre o fim do “Rei do Cangaço” em 1938.
E, para o bem
do debate, os questionamentos devem continuam a existir!
O grupo
durante a noite na Grota do Angico.
“No dia 27 de
julho de 1938, uma quarta-feira, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, está
acoitado no leito do riacho Tamanduá, na fazenda Angico, fincado no município
de Poço Redondo, Sergipe.
Ao romper da
aurora do dia vindouro, segundo historiadores, do dia 28 de julho, ou seja, na
quinta-feira, uma tropa militar, comandada pelo então tenente João Bezerra, é
dividida em quatro, ou cinco frentes e ataca os cangaceiros no coito.
Após o ataque,
sabe-se da morte de onze cangaceiros, dentre eles o “Rei dos Cangaceiros”, sua
companheira a “Rainha dos cangaceiros”, Maria Gomes de Oliveira, conhecida como
Maria Bonita, e uma baixa militar, o soldado Adrião Pedro de Sousa, SD Adrião.
No momento do
ataque, uma das colunas, a do Sargento Aniceto, perde-se, não encontrando o
local previamente combinado. Com isso, abre uma rota de fuga para aqueles que
estavam encurralados sob forte fogo dos soldados.
Pois bem, há
duas versões, uma já nem tanto citada sobre o ocorrido, que seria a que
ocorreu, com o auxílio de um coiteiro o envenenamento do grupo. A outra versão
é que simplesmente a tropa chegou e mandou bala matando os cangaceiros.
Sobre o
envenenamento, não há sustentáculo, pois o veneno teria atingido, se não
mortalmente, parcialmente o restante do grupo.
Parte de
nossos estudos, na ocasião, era conhecer o local na escuridão noturna, procurar
saber as dificuldades que enfrentou a tropa para se aproximarem, como
conseguiram tamanha façanha sem chamarem a atenção dos cangaceiros, e qual
hora, aproximadamente, conseguia-se vislumbrar a silhueta de um corpo humano
dando condições de ser alvejado.
O tempo, na
noite do dia 27 de julho de 2016 para o clarear do dia 28, se comparado as
condições climáticas, segundo o que relatam os historiadores, estava diferente
da noite do dia 27 de julho de 1938. Não choveu.
Fiz uma
análise de como a tropa chegaria sem ser notada até ter visão e posição para
atirarem. Usamos o mesmo dia da data do embate, só diferenciando na fase do
quarto da lua, da época com a atual, um foi no minguante e a outra na fase
crescente.
O calendário
lunar nos diz que na noite do dia 27 de julho de 1938, a fase da Lua estava em
Crescente. Já na noite do dia 27 de julho de 2016, a fase da Lua estava em
Quarto Minguante.
Quarto
minguante é uma das fases da Lua. Ocorre quando o ângulo Terra-Lua-Sol é
aproximadamente reto, de modo que vemos apenas cerca da metade do disco lunar,
no período em que a parte iluminada está diminuindo progressivamente. Já a fase
da Lua no Quarto Crescente ocorre quando o Sol e a Lua estão em signos que se
encontram a 90° de distância entre si, formando uma quadratura.
Fizemos essa
pesquisa para vermos a qualidade de visão noturna, a olho nu, que tiveram mais
ou menos os soldados, quando da sua aproximação ao acampamento alvo.
A coisa não
foi moleza não. Hoje, com as degradações causadas pelo tempo e homem, notamos a
dificuldade de locomoção. Além disso, temos as trilhas, coisa que não
acreditamos que tinha naquele tempo.
Após esses
fatos pesquisados, esperamos o romper do dia. Lento e preguiçoso, ele começa a
clarear vagarosamente…
Em direção ao
Rio São Francisco, nós começamos a notar uma grande sombra, como se fosse um
monstro deitado, dormindo. É à sombra de uma serra. Do lado contrário, ou seja,
lado que se encontrava o bando acoitado, ainda não dava para divisar nada. Com
o passar do tempo, começamos a vislumbrar imagens, vultos, sem termos a certeza
do que seria… Mais um pouco de tempo e, aí sim, já se consegue ver bem uma
pessoa. Quando registramos essas imagens, estávamos do lado, mais ou menos em
que estavam os soldados que fizeram parte da coluna do tenente Bezerra.
Visão, só com
a clarear do dia, pois o mato e localidade em que se encontravam aqueles que
estavam dentro da grota, no leito do riacho, ainda estavam protegidos pelas
ultimas sombras da noite. E mesmo pela mata e profundidade, impedindo um
clarear definido.
Quanto à linha
propícia de fogo, ou para fogo, posição de tiro, que foi de cima para baixo, só
se consegue ter essa posição estando bem em cima, no topo da barreira. Com 30
metros de distância da beira da barranca não se consegue ver o fundo da grota.
Nem com 20 metros, nem 15 metros, nem com 10 metros. Em fim, só há essa
possibilidade, posição de tiro, estando com 5 metros ou menos em cima da
barreira.
O acampamento.
78 anos depois
do ataque, sem claridade ainda, tentamos nos aproximar sem fazermos barulho.
Qualquer som, no silêncio da madrugada é escutado ao longe. Claro que a mata
está diferente, mais para devastada, ou seja, na época do ataque, a mata era
mais fechada causando mais dificuldades para se locomover dentro dela sem fazer
barulho, principalmente se a pessoa estiver com bornais, facas, facões e fuzis
nas mãos, aumentando o volume, é lógico que se necessita de mais espaço para se
mover. Lembremos que a tropa contava com 50 praças, dividida e quatro ou cinco
colunas.
A quantidade
de cangaceiros é incerta. Não se sabe com exatidão o número dos que estavam ali
acoitados.
Para saber-se
da margem direita e esquerda de um rio, ou riacho, posicione-se no centro do
leito e procure ficar de frente para onde as águas seguem, nessa posição,
saberá a margem direita e a esquerda do rio, ou riacho, mesmo este sendo
temporário.
Cristiano
Ferraz e membros do grupo. Agradeço a este nobre amigo, bem como a Sálvio
Siqueira e Geovani Macário pelo apoio com os textos remetidos e revisão. O meu
muito obrigado pelo apoio ao TOK DE HISTÓRIA.
Em nossa
pesquisa, lá, no local, notamos que parte do grupo, o chefiado por Zé Sereno,
ficou na margem esquerda do riacho. Fora do leito do riacho. Junto ao chefe mor
só o seu Estado Maior. Dentro da grota.
A volante era
composta por homens acostumados no mato, no entanto, os grupos de cangaceiros
também eram formados por homens que conviviam desde que nasceram dentro do
mato. Homens que tinham os sentidos muito bem aguçados, pois, dependiam deles
para sobreviverem.
1938 –
Curiosos diante dos corpos dos cangaceiros.
Caso
imprevisto por nós, mas, que serviu muito bem como pesquisa, foi a chegada de
seis outros pesquisadores entre 01:00 e 02:00 horas da madrugada já do dia 28.
Nosso amigo, pesquisador Richard Pereira, escutou ruídos, sons que “informavam”
a aproximação de pessoas. E eles estavam longe, muito distantes do acampamento,
do outro lado do riacho ainda, por onde seguiu a coluna com o tenente Bezerra.
E nós não estávamos com nossos sentidos alertas, com cuidado e medo de sermos
atacados por volantes.
Bem, mesmo não
sabendo a quantidade exata dos cangaceiros, mas, que se eleva ao número de
trinta pessoas, sabemos ser ilógico que todos, exatamente todos eles, tenham se
embriagado, coletivamente. E a ponto de não notarem algo suspeito? Lembremos,
também, que eram pessoas foragidas, o que as deixava mais cuidadosas ainda. Com
seus sentidos em alerta o tempo todo, mesmo inconscientes desse sentido,
sentido causado pelo medo, medo de morrer. Mesmo assim, ninguém se deu conta de
nada?
1938 – A
barraca de Lampião
Ainda tem a
declaração de remanescentes que citaram que foram rezar o ofício e retornaram
para as toldas. Mais uma linha de que já estavam acordados.
Bem, meus
amigos, eu acredito que alguém, algum conhecido, bem chegado ao “Rei dos
Cangaceiros”, tenha feito algum trato para se aproximar, e, com isso, a guarda
fora totalmente baixada para que se desse a aproximação. Além de ter alguém, do
próprio grupo de Lampião, tê-lo traído internamente.
Zé Sereno,
seus homens e outros estavam na parte de cima, em cima da barreira, um pouco
mais recuados, em relação à posição de Lampião, com maiores possibilidades de
escutarem, notarem, a aproximação da coluna que tomava chegada com o tenente
Bezerra. Se acharmos que a cavidade em que se encontravam Lampião e outros
cangaceiros, dificultada a propagação do som.
No entanto,
partiram em oposição, e isso é mais uma prova do lugar em que estavam, em que
se encontravam, contrária à correnteza e ao avanço da coluna que chegava no sentido
noroeste do acampamento. E, por incrível que pareça o grupo parte em sentido
sudoeste, e, é mesmo nesse sentido que o sargento Aniceto se perde com a sua
coluna, deixando uma via de fuga.
1938 – Morte
de Lampião, Maria Bonito e seus companheiros em jornal do Rio de Janeiro.
Ao romper do
dia, um dos pesquisadores do grupo, disparou vários tiros. Esses disparos
faziam parte da pesquisa. Não se sabe de onde o tiro parte exatamente, pois,
lá, naquele emaranhado de elevações e extensão do terreno, forma-se um eco
constante. Não deixando ter-se, exatamente, a noção da posição exata do
disparo. Lembremos que os pesquisadores que chegaram mais tarde, ao
desembarcarem na margem direita do ri São Francisco, dispararam uma arma.
Porém, só viemos saber quando eles chegaram e nos disseram. Mesmo no silêncio
da madrugada, o tiro disparado as margens do “Velho Chico”, as águas e os
contrafortes das serras produzirem um eco, o som não chegou ao acampamento onde
estávamos.
Como, então,
parte do grupo tomou o rumo certo?
O sentido
exato da brecha deixada por um sargento que se perdera com seus homens?
Não falo de ouvi dizer, mais, de estar lá, naquele local, amanhecendo o dia, e escutando o eco de vários disparos as margens do riacho. A guarda do Capitão foi baixada, isso é correto afirmar.
Mas, por quê?
Como cito
acima, acredito que tenha vindo um pedido de aproximação, não de uma tropa
militar, é claro, mas, de uma pessoa, coiteira, que o fez ficar, ou continuar,
à vontade.”
No Exterior
Esse Tipo de Ação é Normal
Como tudo que
envolve o Cangaço e Lampião sempre existem controvérsias, eu não duvido que
muitos dos que venham a ler este texto talvez torçam o nariz diante desta
empreitada.
A pessoa com
uniforme militar, apresentando um fuzil semiautomático Garand M1, na verdade é
membro de um grupo de pesquisa e preservação histórica dos combatentes
estadunidenses que participaram do famoso Dia D – Fonte Getty Images
Talvez vejam
como uma grande perda de tempo e de esforço madrugar no meio do mato, onde
foram mortos vários bandidos. Isso tudo em um país que tem um quadro atual de
violência associado a uma verdadeira praga.
Mas é fato que
o episódio da Grota do Angico é antes de tudo História.
Nos Estados
Unidos e na Europa, regiões com um amplo histórico de confrontos bélicos e com
inúmeros locais onde se desenrolaram terríveis combates, a presença de
pesquisadores nestas áreas históricas é algo bem comum e aceito, inclusive
pelas universidades.
Membros de um
grupo de pesquisa da Guerra Civil Americana apresenta as armas utilizadas pelos
exércitos do sul.
Diversos
grupos ampliam suas pesquisas a ponto de existirem interessantes reencenações
de episódios históricos, com forte afluência de público desejosa de conhecer
mais sobre estes conflitos.
Esses grupos,
para realizar seu trabalho dedicam muito tempo pesquisando e debatendo como
deve ocorrer uma reencenação, ampliando muitas vezes a informação histórica com
o surgimento de interessantes detalhas.
Reconstituição
de um acampamento das tropas sulistas da Guerra Civil Americana, sendo
apresentado no Texas.
Nos Estados
Unidos predominam grupos que pesquisam e realizam reencenações sobre episódios
da Guerra da Independência, da Guerra Civil Americana, de fatos da Segunda
Guerra Mundial. Na Europa, principalmente na Inglaterra, Alemanha, Itália e
Suécia, estes grupos pesquisam e reencenam episódios que abrangem fatos ligados
desde os conflitos entre as Legiões Romanas e os Bárbaros, até a Segunda Guerra
Mundial.
O grupo de
nordestinos que estiveram na Grota do Angico, salvo informação em contrário,
não pensa em uma reencenação histórica. O paralelo que faço com o que é
realizado lá fora tem haver com a INICIATIVA de pessoas em conhecer a História
de sua região.
E como dizem
por aí que nós brasileiros somos tidos como um povo que não se importa muito
com a sua História, então só tenho a louvar a empreitada deste grupo de
nordestinos.
FONTES
http://joaodesousalima.blogspot.com.br/2016/07/cariri-cangaco-de-piranhas-nos-78-anos.html
http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2016/07/78-aniversario-da-morte-de-lampiao-e-tema-de-celebracao.html
http://www.semarh.se.gov.br/biodiversidade/modules/tinyd0/index.php?id=11
http://www.utpa.edu/news/2015/03/making-history-utpa-launches-rio-grande-valley-civil-war-trail.htm
https://tokdehistoria.com.br/2016/08/12/expedicao-angico-um-grupo-de-pesquisadores-busca-compreender-como-foram-mortos-o-cangaceiro-lampiao-maria-bonita-e-seus-companheiros-na-grota-do-angico/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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