As meninas
Anna e Otília
Manchete de 18 de maio de 1935, no jornal “Diário de Notícias” BA
A presença de cangaceiras aprisionadas foi uma das marcas do momento. Anna Maria da Conceição, nascida em Jeremoabo, era companheira do cangaceiro "Jurema". Caminhava com Jurema, Juremeira, Beija-Flor e Nevoeiro, quando a volante do sargento Vicente caiu sobre o subgrupo. Foi alvejada com dois tiros de fuzil, que lhe atingiram os braços, sendo capturada. Já o seu parceiro e companheiros não tiveram a mesma sorte...
Jurema,
Jureminha e Nevoeiro - Foto não compõe a matéria original
Cortesia do amigo Sergio Dantas
Otília Teixeira Lima, de Poços, era companheira de "Mariano".
Adentrou o cangaço em 1931, depondo que constituíam o bando, naquele momento em
que adentrou, Lampeão, Mariano, Zé Bahiano, Pó Corante, Gato, Bananeira, Volta
Secca, Maçarico, Cajueiro, Balisa, Cabo Velho, Nevoeiro, Luis Pedro, Virgínio,
Suspeita e Medalha, além de Maria Bonita e algumas mulheres que não indicou os nomes.
Deslocava-se, em 1935, junto com Mariano, Criança, Pai Velho e Pau Ferro, quando foi o subgrupo cercado pela volante do sargento Rufino. Cerrada brigada, foi cercada, não conseguindo Mariano romper o seu cerco para libertá-la. Acabou entregando-se.
“Lampeão” não quer negocios com a policia da Bahia
Dois minutos de interessante palestra com as mulheres de Mariano e “Jurema”, chegadas, hontem, presas... A vida, para o banditismo, “no outro lado”, está melhor...
O DIARIO DE NOTICIAS offerece, hoje, aos seus innumeros leitores, a opprtunidade de uma entrevista com as mulheres de Mariano e “Jurema”, dois dos peores scelerados que teem palmilhado a zona escaldante e longinqua do nordéste bahiano.
São ellas Anna Maria da Conceição, com 23 annos de idade, mestiça, nascida nas Baixas, no município de Geremoabo, e Otília Teixeira Lima, parda, de 25 annos, estatura média, procedente das caatingas de Poços, distante 15 leguas daquella cidade.
Fomos encontra–las, hontem, na delegacia Auxiliar. Momentos antes, haviam chegado do nordéste, pelo trem do horario, devidamente escoltadas por seis praças da Policia Militar.
Como foi presa a primeira
Anna foi presa nas caatingas do logar denominado São José, tendo, nessa occasião, recebido dois tiros de fuzil, que lhe perfuraram os braços. Estava ella em companhia de “Jurema”, “Beija–Flôr”, “Nevoeiro” e “Juremeira”, quando surgiu, inesperadamente, a força volante do sargento Vicente, que, de ha muito, vinha sequindo as pégadas do bando sinistro. Logo que viu os policiaes, “Jurema” rompeu cerrado tiroteio contra os mesmos, que, reagindo valentemente, puseram em fuga os cangaceiros. No embate, que durou poucos minutos, caiu ferida Anna Maria. “Jurema” quis, ainda, soccorre–la, mas, acossado pelas balas, teve que fugir, deixando a companheira nas mãos dos seus perseguidores.
A outra “descansava”...
Otília estava com o bando de Mariano, na Fazenda “Mucambo”, junto com “Páo Ferro”, “Criança” e “Pai Velho”. Minutos após a chegada do grupo, dois cáibras fôram escalados para arranjar montadas na vizinhança. Foi quando appareceu, de surpresa, o contingente do sargento José Rufino, que, com 15 praças, vinha procurar pousada na alludida fazenda.
Reconhecendo os bandidos, a força entrou a tiroteiar contra os mesmos, pondo–os em fuga, depois de cerca de duas horas de fogo. Otília estava descansando na casa da fazenda, quando começou a fuzilaria. Receiosa de ser attingida pelos projectis, alli deixou–se ficar, sendo finalmente presa e conduzida para esta Capital, onde se encontra. Mariano, seu velho companheiro conseguiu, habilmente, cortar a rectaguarda da força, fugindo á chuva de balas que se despejava sobre elles.
Deslocava-se, em 1935, junto com Mariano, Criança, Pai Velho e Pau Ferro, quando foi o subgrupo cercado pela volante do sargento Rufino. Cerrada brigada, foi cercada, não conseguindo Mariano romper o seu cerco para libertá-la. Acabou entregando-se.
“Lampeão” não quer negocios com a policia da Bahia
Dois minutos de interessante palestra com as mulheres de Mariano e “Jurema”, chegadas, hontem, presas... A vida, para o banditismo, “no outro lado”, está melhor...
O DIARIO DE NOTICIAS offerece, hoje, aos seus innumeros leitores, a opprtunidade de uma entrevista com as mulheres de Mariano e “Jurema”, dois dos peores scelerados que teem palmilhado a zona escaldante e longinqua do nordéste bahiano.
São ellas Anna Maria da Conceição, com 23 annos de idade, mestiça, nascida nas Baixas, no município de Geremoabo, e Otília Teixeira Lima, parda, de 25 annos, estatura média, procedente das caatingas de Poços, distante 15 leguas daquella cidade.
Fomos encontra–las, hontem, na delegacia Auxiliar. Momentos antes, haviam chegado do nordéste, pelo trem do horario, devidamente escoltadas por seis praças da Policia Militar.
Como foi presa a primeira
Anna foi presa nas caatingas do logar denominado São José, tendo, nessa occasião, recebido dois tiros de fuzil, que lhe perfuraram os braços. Estava ella em companhia de “Jurema”, “Beija–Flôr”, “Nevoeiro” e “Juremeira”, quando surgiu, inesperadamente, a força volante do sargento Vicente, que, de ha muito, vinha sequindo as pégadas do bando sinistro. Logo que viu os policiaes, “Jurema” rompeu cerrado tiroteio contra os mesmos, que, reagindo valentemente, puseram em fuga os cangaceiros. No embate, que durou poucos minutos, caiu ferida Anna Maria. “Jurema” quis, ainda, soccorre–la, mas, acossado pelas balas, teve que fugir, deixando a companheira nas mãos dos seus perseguidores.
A outra “descansava”...
Otília estava com o bando de Mariano, na Fazenda “Mucambo”, junto com “Páo Ferro”, “Criança” e “Pai Velho”. Minutos após a chegada do grupo, dois cáibras fôram escalados para arranjar montadas na vizinhança. Foi quando appareceu, de surpresa, o contingente do sargento José Rufino, que, com 15 praças, vinha procurar pousada na alludida fazenda.
Reconhecendo os bandidos, a força entrou a tiroteiar contra os mesmos, pondo–os em fuga, depois de cerca de duas horas de fogo. Otília estava descansando na casa da fazenda, quando começou a fuzilaria. Receiosa de ser attingida pelos projectis, alli deixou–se ficar, sendo finalmente presa e conduzida para esta Capital, onde se encontra. Mariano, seu velho companheiro conseguiu, habilmente, cortar a rectaguarda da força, fugindo á chuva de balas que se despejava sobre elles.
Contando a sua vida...
– E ainda dois graças a Deus, de estar aqui! Pensei que a força me fuzilasse,
no momento em que fui presa. Ha cerca de quatro annos, ingressei no bando de
“Lampeão”. Por essa occasião, o “Capitão” andava lá pelo Raso da Catharina,
acompanhado de José Bahiano, “Gato”, Pó Corante”, Mariano, “Bananeira”, “Volta
Secca”, “Maçarico”, “Cajueiro”, “Balisa”, “Cabo Velho”, “Nevoeiro”, Luis Pedro,
Virginio, “Suspeito” e “Medalha”. Viajava para Poços, com meus dois irmãos,
quando deparei o bando do “Cégo”.
Mariano botou os olhos em cima de mim e me ordenou que o acompanhasse. Não tive
outro jeito senão seguir. Juntei–me ás outras mulheres e comecei a andar pelo
matto, sem pouso, passando fome e sêde, até o dia em que fui presa.
Como ciganos
– E como vivem os bandidos?
– Pelos mattos, dormindo hoje aqui, amanhã alli, comendo carne do sol e ás
vezes, um pouco de farinha. Agua arranja–se nas raizes de umbú. Á noite, todos
se deitam no chão e embrulham–se com as suas cobertas. Quem tem mulher dorme
separado, debaixo de algum pé de paó... É uma vida desgraçada... – concluiu
Otília.
Anna Maria assistia á conversa, com o corpo descansando sobre os calcanhares.
Uma historia de amôr...
– Vivia com a minha familia nas Baixas, cerca de onze leguas de Geremoabo.
Um dia, a força do tenente Macedo appareceu por lá e, sabendo aque alli moravam
os parentes de “Jurema”, queimou tudo. Até as roças de feijão! Eu era noiva de
um irmão de Jurema, que estava no bando de Lampeão, e tinha o mesmo appellido.
Vendo–o, a força prendeu–o. E já iam longe, quando o meu noivo, conseguindo
intimidar os dois soldados que o escoltavam, fugiu. No caminho, convidou–me
para fugir com elle. Aceitei. Dias depois, estávamos no meio do bando de
Lampeão. Quis voltar. Não tive mais jeito. Ordem era ordem. Tinha que
acompanhar obando. Assisti a innumeros combates, durante estes tres ultimos
annos.
... E o peor tiroteio
O peor, porém, – continúa – foi o de Maranduba, onde morreram “Sabonete”,
“Quina–Quina” e “Catingueira”. Foi um tiroteio que durou varias horas. Quase
fiquei surda. Eramos seis mulheres e estavamos separadas do bando. Dois caibras
ficavam de sentinella comnosco, sempre que havia um combate. Depois, com os
córtes da rectaguarda, Lampeão abria caminho e assim podiamos fugir.
Lampeão luta como uma féra!
– E Lampeão vai tambem para a frente?
– Sim, senhor. Lampeão é uma féra. Não tem mêdo de nada. É o primeiro que
atira e vai ba frente. Quando eu entrei no bando, Lampeão estava com duas
marcas de bala. Uma, no pé, e outra no braço. Foi nessa occasião que “Gato” foi
ferido tambem...
Falando sobre o “Capitão”...
– Queremos alguns informes sobre Lampeão...
– O Capitão é de estatura média, bem moreno e cabello castanho. Usa oculos
amarellos, pois é cégo de um olho. Traja sempre uma roupa mescla, chapéo de
couro e alpercatas. Carrega um mosquetão, uma “parabellum” e tres cartucheiras,
além de varios bornaes cheios de bala. Atravessado na cintura, um grande
punhal.
Não quer nada com a nossa Policia
Deixei elle agora do outro lado, com varios cáibras, pois a coisa está preta no
nordéste.
– E onde é o outro lado?
– Lá, em Alagôas e Sergipe. As coisas lá não são como aqui. Vive–se mais
tranquillo e mnos perseguido. Estávamos satisfeitos.
A verdade, ainda uma vez...
Effectivamente, a situação do nordéste é outra, hoje. O bandido não tem para
onde se mexer. Difficilmente, desloca–se de um ponto para outro. A sua acção
tornou–se quase nulla. Vive, agora, passando uma vida de miserias...
As novas directrizes traçadas pelo Cap. João Facó e executadas pelos seus
auxiliares, na campanha contra o banditismo, lograram, felizmente, verdadeiro
exito. Hoje, já se respira nas caatingas. Não ha mais aquelle pavor
de outr’ora, quando pairava nas caatingas o espectro sinistro da morte.
Cap João Facó
Cortesia de
Ivanildo Silveira
Pescado no Açude
do confrade Rubens Antonio
Que mais uma vez promove um belo trabalho de resgate de fatos e fotos
históricas na web. Ao transcrever não deixe de citar que, foi o C.S.I.
Rubens Antonio quem fuçou! Leia
aqui o tutorial.
http://lampiaoaceso.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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