Por Clerisvaldo B.
Chagas, 14 de dezembro de 2016 - Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.606
Em nosso
sertão é costume se dizer que “quando o diabo não vem, manda o secretário”. E
nesse caso é a irmã dele, a secretária chamada “SECA”, assustadora como
Dinossauro e peituda igual ao Hulk.
ILUSTRAÇÃO:
(G1globo.com).
As autoridades
estão alertando para um período de seca braba (elas têm a classificação das
secas) que já teve início. O inverno de 2016 em Alagoas choveu apenas 40% da
média esperada e esse verão promete grave seca nos próximos meses. Isso quer
dizer que a travessia até o inverno – que terá início em abril – vai pertencer
somente ao gavião-acauã. Os efeitos da malvada já vêm atingindo com mais rigor
o Alto Sertão, o Sertão do São Francisco, partes do Agreste e Zona da Mata. E
se isso ainda é pouco, estar fazendo medo uma seca abrangente para 86% do
estado e considerada alarmante.
Mais de 70%
dos municípios já estão vivendo uma situação grave ou excepcional. E diante das
questões analisadas, a próxima estação chuvosa poderá ser mais regular,
todavia, com déficit hídrico muito elevado, o inverno de 2017 não será a solução.
Até mesmo na Zona da Mata, municípios como União dos Palmares e Mar Vermelho
sofrem com o problema. Em União, um dos dois rios perenes mais importantes de
Alagoas (exceto o São Francisco) o Mundaú, está praticamente seco. No Agreste,
Palmeira dos Índios tem abastecimento d’água difícil.
(...) Acauã
Teu canto é
penoso e faz medo
Te cala acauã
Que é pra
chuva voltar cedo
Que é pra
chuva volta cedo.
Toda noite no
sertão
Canta o joão
corta-pau
A coruja,
mãe-da-lua
A peitica e o
bacurau
Na alegria do
inverno
Canta sapo,
jia e rã
Mas na
tristeza da seca
Só se ouve o
acauã
Só se ouve o
acuã (...).
(Zé Dantas –
Luiz Gonzaga).
Sem água não
existe lavoura nem pasto, deixando, principalmente, o homem do campo em quase
desespero. As plantas querem água, os rebanhos água e comida. Caminhões-pipas
salvam gente, mas não o total do criatório que precisa de muita comida entre
pasto e ração. Ninguém aguenta a despesa com os animais que vão definhando e
deixando uma trilha de cangaços pelos caminhos, malhadas e estradões.
Quando chega
um inverno regular após o pranto, o camponês recomeça do zero, combalido,
doente, espiando esperançoso a floração dos mandacarus.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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