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quarta-feira, 22 de março de 2017

DESAMADOS.

Por José Ribamar Alves

Bem no âmago de um ermo sem vestígios
Encontrei uma flor descolorida
Esperando uma esmola de carinho
Pelos lábios do tempo prometida.
Tive dó e pra ela perguntei:
Não percebes em mim, que já cansei,
De esperar por aquilo que esperas?
Respondeu-me que sim, um tanto triste.
Percebi que lugar nenhum existe
Para nós no jardim das primaveras.

Apossei-me do rumo do diálogo
E falei para aquela triste flor:
Somos filhos carnais da desventura
Tatuados na alma pela dor.
Pelo júri da sorte condenados
Na tribuna real, pelos pecados
Que nem tempo tivemos de compor.
Submissos às leis irrevogáveis
No porão dos martírios miseráveis
Sem os mimos da luz do sol do amor.

E um pouco do líquido H2O
Sobre os lábios da flor impregnei-o
E a última gotícula de essência
Que havia naquela flor me veio.
Na savana escarpada da tristeza
Sem auxílio nenhum da natureza
Por mão própria, trazido ao nosso meio,
Concordamos à sombra dos fadários
Que da falta de amor aos solitários
O espírito do mundo vive cheio.

(José Ribamar Alves)

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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