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quinta-feira, 13 de abril de 2017

EU E DRUMMOND (OU A CONFIDÊNCIA DE UM POÇO-REDONDENSE)

*Rangel Alves da Costa

Em seu poema “Confidência do Itabirano”, Carlos Drummond de Andrade relata suas heranças mineiras a partir das doces recordações de Itabira, cidadezinha onde nasceu. E acrescenta que do seu chão e do seu povo herdou todo o seu jeito de ser, sua simplicidade, sua cabeça baixa, sua pouca palavra. E finaliza dizendo que teve tudo na vida, mas hoje só lhe resta uma fotografia na parede, e como dói.
Contudo, mesmo afirmando que já teve ouro, gado e fazendas, e hoje só lhe reste uma fotografia na parede para lhe doer, o real sentido de tais palavras é para dizer que a riqueza maior perdida foi ter saído de seu lugar, de sua cidadezinha, de seu berço de nascimento. E o que mais lhe dói é ter Itabira apenas como uma fotografia na parede. Ora, Drummond me espelha e me reflete.
Minha “Confidência do Poço-redondense” é no mesmo sentido, ainda que eu jamais tenha escrito poema tal. Mas, com mil vênias e perdões, ouso parodiar o poema do mestre ao meu modo, assim:


Alguns anos vivi em Poço Redondo.
Principalmente nasci em Poço Redondo.
Por isso sou sertanejo, orgulhoso: de sol.
Noventa por cento de sol nas estradas.
Oitenta por cento de sol nas cabeças.
E esse alheamento do que na vida é qualquer palavra.

A vontade de lutar, que me dá força e fibra,
vem de Poço Redondo, de suas dores, sofrimentos e agonias.

E o hábito de sonhar, que tanto me cativa,
é doce herança poço-redondense.

De Poço Redondo trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta chapéu de couro, que um dia foi de valente vaqueiro,
esta Santa sem Face, bela relíquia da arte do Mestre Tonho;
este terço benzido, que com reza me ofertou Zefa da Guia;
esta humildade, esta cabeça baixa...

Tive riquezas, tive dinheiro, tive roupa de festa.
Hoje sou o que me foi destinado ser noutro lugar.
Poço Redondo é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Poço Redondo é apenas um retrato na parede, mas como dói. Por que não desejo Poço Redondo como retrato na parede. Por que não quero que me doa a saudade de Poço Redondo. Por que preciso ser rico novamente. Rica da terra, rico de povo, rico de meu sertão. E nunca mais irá me doer a distância. Pois o retrato na parede estará adiante do meu olhar.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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