* Crônica
classificada em Primeiro Lugar (Campeã) no I Concurso Louvor ao Vaqueiro,
promovido pelo Parque Cultural "O Rei do Baião, em Cajazeiras.
"O único
vaqueiro brasileiro que usa roupas feitas com couro de animais para se proteger
é o que labuta nas caatingas bravias a fim de campear a criação de grande
porte, criada de forma extensiva pelos carrascais ameaçadores do único bioma
genuinamente nacional.
A proeminência
de plantas espinhosas exige que o vaqueiro sertanejo proteja-se da cabeça aos
pés, tornando-se verdadeiro representante da Civilização do Couro, a qual foi
enfaticamente reiterada por Capistrano de Abreu em seus Capítulos de História
Colonial.
A fama de
valentia granjeada por inúmeros vaqueiros sertanejos, quando das festas de
apartação, as famosas pegas de boi no mato, antecessoras das modernas
vaquejadas, fê-los respeitados na sociedade sertaneja agro-pastoril, sendo que
muitos conquistaram status importantíssimos graças a feitos heroicos ao
desafiar mistérios insondáveis das caatingas irascíveis e ameaçadoras.
A maioria,
anônima, morria sem deixar tostão, esquecidos na expressão literal do termo,
verdadeiro descaso para com grandes heróis que arriscavam a vida para que um
dos elementos maiores da economia sertaneja fosse enfatizado de forma
significativa e satisfatória.
Ferrar os
animais era imprimir a marca de cada fazenda, pois complexa simbologia definia
a quem pertencia o gado, constituindo-se em tratado armorial sertanejo, cujo
personagem principal na luta heroica através dos desafios da hinterlândia era
exatamente o valente vaqueiro.
A importância
do vaqueiro foi destacada pelo grande Luiz Gonzaga quando resolveu inovar como
artista, implementando em sua indumentária o gibão que tão bem caracteriza o
bravo profissional das caatingas sertanejas.
Após covarde
assassinato de primo de nome Raimundo Jacó, afamado vaqueiro pernambucano, o
eterno sanfoneiro do Riacho da Brígida compôs, em parceria com Nélson Barbalho,
verdadeiro hino em homenagem ao grande personagem sertanejo que levou seu
oficio com afinco.
A primeira
missa em intenção da alma do vaqueiro Raimundo Jacó, realizada em Serrita
(Estado de Pernambuco), a partir do ano de 1975, teve em Luiz Gonzaga seu
principal incentivador. Nos dias de hoje, a missa é dedicada a todos os
vaqueiros do sertão.
A emoção flui
de forma incontida quando a eterna canção dedicada aos bravos vaqueiros é
entoada de forma sublime, fazendo com que os presentes não consigam conter as
lágrimas que marejam de olhos cansados e sofridos da brava gente sertaneja.
No presente,
infelizmente, há verdadeiro desvirtuamento da cultura e das tradições
sertanejas, pois o cavalo, fiel companheiro do verdadeiro e autêntico vaqueiro
sertanejo, vem sendo substituído por possantes motos que trazem na lataria
marcas de empresas japonesas, para desgosto dos grandes baluartes que defendem
com unhas e dentes um dos símbolos da autóctone formação cultural da terra do
sol."
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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