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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

ESCRITOR POMBALENSE VENCE CONCURSO DE CRÔNICAS, AO FALAR SOBRE A VALENTIA DO VAQUEIRO SERTANEJO


* Crônica classificada em Primeiro Lugar (Campeã) no I Concurso Louvor ao Vaqueiro, promovido pelo Parque Cultural "O Rei do Baião, em Cajazeiras.

"O único vaqueiro brasileiro que usa roupas feitas com couro de animais para se proteger é o que labuta nas caatingas bravias a fim de campear a criação de grande porte, criada de forma extensiva pelos carrascais ameaçadores do único bioma genuinamente nacional.

A proeminência de plantas espinhosas exige que o vaqueiro sertanejo proteja-se da cabeça aos pés, tornando-se verdadeiro representante da Civilização do Couro, a qual foi enfaticamente reiterada por Capistrano de Abreu em seus Capítulos de História Colonial.

A fama de valentia granjeada por inúmeros vaqueiros sertanejos, quando das festas de apartação, as famosas pegas de boi no mato, antecessoras das modernas vaquejadas, fê-los respeitados na sociedade sertaneja agro-pastoril, sendo que muitos conquistaram status importantíssimos graças a feitos heroicos ao desafiar mistérios insondáveis das caatingas irascíveis e ameaçadoras.

A maioria, anônima, morria sem deixar tostão, esquecidos na expressão literal do termo, verdadeiro descaso para com grandes heróis que arriscavam a vida para que um dos elementos maiores da economia sertaneja fosse enfatizado de forma significativa e satisfatória.

Ferrar os animais era imprimir a marca de cada fazenda, pois complexa simbologia definia a quem pertencia o gado, constituindo-se em tratado armorial sertanejo, cujo personagem principal na luta heroica através dos desafios da hinterlândia era exatamente o valente vaqueiro.

A importância do vaqueiro foi destacada pelo grande Luiz Gonzaga quando resolveu inovar como artista, implementando em sua indumentária o gibão que tão bem caracteriza o bravo profissional das caatingas sertanejas.

Após covarde assassinato de primo de nome Raimundo Jacó, afamado vaqueiro pernambucano, o eterno sanfoneiro do Riacho da Brígida compôs, em parceria com Nélson Barbalho, verdadeiro hino em homenagem ao grande personagem sertanejo que levou seu oficio com afinco.

A primeira missa em intenção da alma do vaqueiro Raimundo Jacó, realizada em Serrita (Estado de Pernambuco), a partir do ano de 1975, teve em Luiz Gonzaga seu principal incentivador. Nos dias de hoje, a missa é dedicada a todos os vaqueiros do sertão.

A emoção flui de forma incontida quando a eterna canção dedicada aos bravos vaqueiros é entoada de forma sublime, fazendo com que os presentes não consigam conter as lágrimas que marejam de olhos cansados e sofridos da brava gente sertaneja.

No presente, infelizmente, há verdadeiro desvirtuamento da cultura e das tradições sertanejas, pois o cavalo, fiel companheiro do verdadeiro e autêntico vaqueiro sertanejo, vem sendo substituído por possantes motos que trazem na lataria marcas de empresas japonesas, para desgosto dos grandes baluartes que defendem com unhas e dentes um dos símbolos da autóctone formação cultural da terra do sol."

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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