Por Adriana Morais
“Eu não
acreditava que chegaria a esse momento”, declara o estudante de Medicina da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Caio da Fonseca Silva,
28, sobre a sua colação de grau, que ocorrerá nesta quarta-feira, 6. A
expressão remete a sua difícil trajetória até conquistar o tão desejado diploma
de graduado.
Filho de
assentados, Caio da Fonseca Silva viu na educação uma alternativa para
transformar a sua vida e de sua família. “Trabalhávamos com meu pai na
agricultura, no Projeto de Assentamento Quixaba. Meu irmão (que é formado em
Direito, também pela UERN) foi o primeiro da família a se ater para os estudos.
Inspirado nele, também decidi trilhar por esse caminho”, relata.
As
dificuldades em seguir com os estudos foram muitas, antes mesmo de ingressar na
faculdade. Por muitas vezes, ele percorreu de bicicleta 22 quilômetros do
assentamento Quixaba até a escola onde cursava o Ensino Médio para não perder
aula. “Foi então, que decidi vir para Mossoró. Vim morar na Casa do Estado de
Mossoró, onde fiquei por cinco anos”, afirma o discente.
Quando
concluiu o Ensino Médio, Caio da Fonseca não prestou vestibular de imediato.
“Infelizmente, o ensino público deixa muito a desejar e para se tornar
competitivo para o curso que eu desejava, tive que estudar por alguns anos para
ter base para passar. Estudava em média 16 horas por dia”, lembra Caio. Segundo
ele, como estudava bastante, conseguiu uma boa base em disciplinas como química
e física, e passou a dar aulas de monitoria em cursinhos da cidade, e em troca,
os proprietários dos cursinhos permitiam que ele assistisse aulas em
disciplinas que tinha mais dificuldades, como português e redação. “Isso me
ajudou muito”, diz.
Em 2010,
passou em Medicina. Os seis anos de graduação foram tão difíceis ou mais do que
o período do Ensino Médio. “Foi difícil, foi muito sofrido. Minha família tinha
a maior boa vontade, me incentivava, mas infelizmente, não tinham como me
ajudar na questão financeira. Por mais que a UERN seja uma instituição pública,
se manter no curso requer muitos gastos, com livros, material, xerox”, declara.
Ele lembra que muitos professores da Faculdade de Ciências e Saúde o ajudaram,
inclusive financeiramente.
“Como minha
família é do assentamento Quixaba, tinha que conseguir moradia aqui em Mossoró.
A ideia era ir para a Residência Universitária, mas mesmo na residência ficava
pesado para arcar com alimentação e o transporte para ir à Faculdade. Então,
uma pessoa da faculdade e pessoas de fora me ajudaram a pagar aluguel em uma
residência perto do curso e assim consegui levar. Sinceramente, em algumas
situações eu achava que não ir conseguir”, relata o estudante.
Hoje, prestes
a receber o diploma em Medicina, Caio da Fonseca Silva relembra com emoção toda
sua trajetória. “Ainda não caiu a ficha, acho que só vou acreditar quando tiver
o diploma em mãos. Não existem palavras para descrever a felicidade que eu
tenho, principalmente em ver a felicidade dos meus pais em ver mais um filho
formado”, diz o graduando. As suas metas agora são trabalhar para estruturar a
vida sua e de sua família, e até o final do próximo ano prestar residência para
neurocirurgia.
Para ele, a
UERN foi um divisor de águas em sua vida. “Sempre sonhei em estudar na UERN,
sempre me via estudando aqui, na FACS. A Faculdade de Medicina me tornou uma
outra pessoa. Vivi muitas coisas aqui, e hoje sou uma pessoa mais humana, muito
melhor. Devo muito do que eu sou aos meus professores e ao corpo de servidores
da instituição. Vou levar a UERN comigo para onde for”, finaliza.
Colação de grau
Na noite desta quarta-feira, 6 de setembro, 25 alunos de Medicina da UERN irão colar grau, em solenidade realizada às 19h30, no Teatro Municipal Dix-huit Rosado.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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