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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

ADEUS, CORETO!

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

O tempo somado a falta de cuidado, compromisso e zelo pela coisa pública e/ou coisa do povo, comprada e paga com dinheiro do povo, levou a extinção da Filarmônica São José, que apresentava seus concertos para as gerações envolvidas e naturais e/ou residentes em nosso torrão municipal e o mesmo destino está acontecendo por vontade humana da gestão passante o uso público do “coreto” e/ou “pires” da atual Praça João Pessoa... sic, alugado e/ou cedido a uma empresa privada ali instalada e comercializando seus produtos... por incrível que pareça o “coreto” ali existente é o único lugar de nossa Terra que o povo não precisava marcar audiência para ser recebido  e nem para ser expulso...e que se encontrava de portas abertas os 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias do ano, que chovesse e/ou fizesse sol, não importava se fosse de dia, de noite e/ou de madrugada... dia santo e/ou de carnaval... que tivesse morrido um rico e/ou um pobre...branco e/ou negro... doutor e/ou analfabeto... era a única casa cheia de gente com perfume para todos os gostos...

(Francisco de Paula Melo Aguiar – 17/12/2017)

Para inicio de conversa passamos a tentar definir o termo epistemologia como sendo substantivo feminino à luz do saber culto da língua portuguesa falada no Brasil. Podemos também dizer que filo é a reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do saber ou conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo e/ou da teoria do conhecimento. E também podemos dizer que é o estudo freqüente dos postulados, das conclusões e dos métodos que envolvem os diferentes ramos do saber cientifico e/ou das teorias e práticas em geral, desde que avaliadas em sua validade cognitiva e/ou descritas em suas trajetórias e/ou caminhos evolutivos, seus paradigmas, caminhos, maneiras, métodos e/ou desenhos estruturais e/ou suas relações com a sociedade e a história e/ou teoria da ciência.  E até porque não existe apenas uma definição sobre o referido termo, tudo vai depender das circunstâncias históricas, filosóficas e ideológicas. É até porque é demais movediço se querer dar apenas um sentido ou definição aquilo que costumamos chamar de coreto de uma cidade grande, pequena, vila, povoado, lugarejo... Não importa ser uma megalópole e/ou macrometrópole, como por exemplo, o espaço urbano de grandes dimensões em torno de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Recife, da grande João Pessoa, assim como também em torno de Paris, de Nova York, etc.
           
Portanto, fazer tal investigação etimológica envolvendo o termo “coreto” de uma grande e/ou pequena cidade, requer um complexo conhecimento de teorias de cunho e espírito científico, além de ter a mente aberta, livre de preconceitos e/ou teorias escolásticas ¹.  
           
O termo “coreto” quer dizer que é uma cobertura edificada ao ar livre, em jardins e praças, com a finalidade de abrigar apresentação de bandas musicais quando da exibição pública em concertos para a população de um certo e determinado lugar. De cantorias e de cantores, porque quem canta seus males espantam... Faz parte da vida e do cotidiano do povo e de sua cultura. O que não deixa de ser um lugar sempre envolvido por festas profanas e romarias, que representam alegrias e tristezas nacionais, estaduais e municipais. É um lugar público destinado ao povo de todas as classes socais para manter a dialética cognitiva das noticias nacionais, estaduais e locais. O que por si só o “coreto” é o lugar de tudo e de todos, independentemente da classe social, da religiosidade, da ideologia política, filosófica, sociológica, antropológica, literária, etc. Serve também de local de amparo para todos os transeuntes da nação, do estado e da cidade, contra chuva, sol e sereno. Serve até de abrigo diurno e noturno para quem não tem onde por a cabeça e muito menos descansar o corpo limpo e/ou sujo das intempéries do tempo e da vida ganha e/ou perdida diante da corrupção do corpo e da alma de cada vivente e de seus grandes e pequenos e/ou minúsculos governantes federais, estaduais e municipais...
           
O povo vive feliz ao mesmo tempo em que vive infeliz, tudo é muito relativo, daí porque não se deve tirar do povo o circo, pão e vinho, por analogia ao Império Romano, o Brasil mantém os programas sociais: bolsa escola, bolsa família, vale gás, minha casa minha vida, etc., tudo isso é filme que já foi passado no cinema, na televisão e na internet, antes de tais redes sociais e de comunicações existirem na fase da terra, nem por isso tais informações não deixaram de ser transmitidas de geração em geração via o boca a boca do povo.
            
O Brasil foi “achado” e/ou “descoberto” pelo Império Português, não importa qual a teoria da fundação de nosso país, importa que ele existe de fato e de direito. O “coreto” é uma instituição pública encontrada praticamente em todas as povoações e cidades de Portugal, principalmente perto de igrejas e/ou capelas nos centros urbanos. É um ambiente usado para festas políticas partidárias, religiosas, culturais, etc. Isso é inegável. Talvez tenha sido esse o costume de nossa gente ter herdado culturalmente de Portugal em ter um “coreto” em quase todas as cidades do Brasil afora. E até porque é o local de se botar o papo político, social, familiar, religioso e da própria vida alheia em dia...
          
O Rio de Janeiro continua lindo, assim como é lindo o seu primeiro “coreto” inaugurado em 21 de junho de 1903, na famosa Praça XV de Novembro, em pleno centro da cidade maravilhosa, local de grandes concertos musicais desde sua instalação, a exemplo da apresentação da Banda de Música da Marinha do Brasil.
          
Outros afirmam de que o termo “coreto”, vem da Itália que o escreve assim “coretto”, dando inclusive sentido ao surgimento significativo de que também pode ser chamado de “tribuna”, algo também parecido com o “coro da igreja”. É por esse motivo que tem muita gente que defende a ideia de que o termo “coreto”, tem origem no termo “coro”, adicionado o sufixo diminutivo “eto”, o que quer dizer pequeno coro.
          
Desde criança que aprendemos com nossos pais, avós, parentes e professores de que o “coro” de uma igreja é formado por um estrado e/ou seja uma parte alta, simbolizando uma espécie de “palanque”, em cujo local, os padres, os membros das congregações religiosas, os seminaristas futuros padres, faziam suas rezas e/ou orações diurnas e noturnas. É também o local reservado, mais alto e/ou de destaque nas igrejas grandes e/ou pequenas pelo mundo afora para tocar e cantar, por isso o “coro” é o local mais alto da igreja é também assim chamado o conjunto de pessoas que tocam e cantam nas celebrações litúrgicas.  Portanto, temos o “coro” local de destaque para cantar e tocar, e o “coro” de pessoas que cantam e tocam... A música é a única língua que tem linguagem universal porque é compreendida por todos de qualquer idioma, música é música em qualquer parte do mundo
            
Por outro lado, ressaltamos de que o termo “coro” é também a zona e/ou local da igreja que tem fileiras de cadeiras fixas no pavimento da chamada capela-mor, onde os padres se sentam para suas orações diárias e/ou noturnas. E isso é concebível porque o termo “khoros” é de origem grega, que passou a ser chamado de “choru” e/ou dança na língua latina, idioma oficial da Igreja Católica Apostólica Romana.
            
Ao nosso modo de absolver as coisas, apareceu e/ou teve origem ai uma espécie de luta envolvendo as influências francesas, o liberalismo e suas ligações com a romanização cultural.
            
Na língua francesa o termo “coreto” é chamado de “Pavillon de musique”, e/ou “Tribune de musiciens”, tempos depois, bem como a partir da literatura textual dos séculos XIX  e bem assim no início do século XX, surge também com o significado de “Kiosque à Musique”, já estivesse sendo assim usado naquela época.
            
É possível de que o “coreto” tenha surgido na Inglaterra nos meados do século XVIII, muito antes mesmo da Revolução Francesa, onde era chamado de “bandstand” e/ou simplesmente de “band”, significando banda e/ou orquestra de música e “stand”, como sendo tribuna e/ou estrado público, dentre outras denominações.
            
Na Espanha, o termo “coreto” é chamado de “tablado para tocar bandas de música” e/ou de “pequeno coro” e/ou de “templete” e/ou seja diminutivo da palavra “templo”, assim como “pavilhão” e/ou o popular “quiosque”, até então já conhecido.
           
Ressaltamos também de que  “coreto”, enquanto o termo em língua alemã é “musikpavillon”, no sentido de “pavilhão da música”.
             
E Santa Rita, a nossa querida “Terra dos Canaviais”, das “Águas Minerais”, e “Da Cerâmica”, dentre tantos outros títulos honoríficos de exaltação e de humilhação também, já teve sua Filarmônica São José, que se apresentava no “Coreto” e/ou “Pires” da Praça João Pessoa, que antes de 1932 chamava-se Praça Padre Ferreira, aquele que foi sacerdote de Santa Rita de 1874 até seu falecimento em 1916, que exerceu o cargo de Vice Governador do Estado da Paraíba no período de 1900 a 1904, além de ter sido Presidente do Conselho Municipal de Intendência por diversos mandatos. E a quebra resguardo da Prefeitura Municipal de Santa Rita e/ou Filarmônica São José, através de décadas formou geração em seus quadros de músicos quando a própria UFPB – Universidade Federal da Paraíba, ainda não existia e muito menos existia curso de graduação em música na Paraíba. E o grande palco era o “Coreto” e/ou “Pires” da praça já referida, que inclusive com o passar dos tempos, substituiu o “coreto”, inspirado na arquitetura européia, pela atual construção modernista de cimento armado, que ainda vem sendo mantido pelas administrações que por aqui tem passado ao longo dos tempos...

O tempo somado a falta de cuidado, compromisso e zelo pela coisa pública e/ou coisa do povo, comprada e paga com dinheiro do povo, levou a extinção da Filarmônica São José, que apresentava seus concertos para as gerações envolvidas e naturais e/ou residentes em nosso torrão municipal e o mesmo destino está acontecendo por vontade humana da gestão passante o uso público do “coreto” e/ou “pires” da atual Praça João Pessoa... sic, alugado e/ou cedido a uma empresa privada ali instalada e comercializando seus produtos... por incrível que pareça o “coreto” ali existente é o único lugar de nossa Terra que o povo não precisava marcar audiência para ser recebido  e nem para ser expulso...e que se encontrava de portas abertas os 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias do ano, que chovesse e/ou fizesse sol, não importava se fosse de dia, de noite e/ou de madrugada... dia santo e/ou de carnaval... que tivesse morrido um rico e/ou um pobre...branco e/ou negro... doutor e/ou analfabeto... era a única casa cheia de gente com perfume para todos os gostos...

Os tempos ideológicos, educacionais, políticos e culturais de nossa terra nas duas primeiras décadas do século XXI, esqueceram e/ou não sabem que o “coreto” e/ou “pires”, carinhosamente chamado por todos os santaritenses, de todos os naipes ideológicos, classes sociais e religiosidades é “uma espécie de coro, construído ao ar livre, para concertos musicais” ², é o cartão postal número um da cidade dormitório que estufava o peito para aplaudir as apresentações da Filarmônica São José, durante sua existência. É o local público e livre onde eram recepcionadas as lideranças “perrepistas” e “liberais” nas suas idas e vindas do sertão para a capital da Paraíba e vice versa, na década de 30 do século XX, além de ter recepcionado dentre outras autoridades nacionais: o Presidente JK – Juscelino Kubitschek, os governadores: Flávio Ribeiro Coutinho, Ruy Carneiro, Argemiro de Figueiredo e  por último o Senador Humberto Lucena, então Presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, dentre outras autoridades igualmente importantes. Claro! Sem deixar de lado a disputa pelo “coreto” pelas lideranças locais de Heraldo Gadelha, Antônio Teixeira, Egidio Madruga,  Marcus Odilon e seus correligionários durante décadas.
            
O “Coreto” e/ou “Pires” da Praça João Pessoa, no centro de Santa Rita, Estado da Paraíba, continua vivo na memória de nossa gente assim como continua viva a Filarmônica São José, tudo porque:

É a paixão que garante a continuidade. É pior que futebol, porque chega ser  hereditária, passa de pai para filho. Às vezes, o filho pródigo que, se tornando profissional de uma orquestra sinfônica ou de uma banda militar na capital, sempre volta à sua cidade natal para participar da festa da padroeira ou de uma retreta; no coreto da praça principal.(GRANJA; TACUCHIAN, 1984/85 apud CAZAES, 2014, p. 126)3/4

Assim sendo, corroboramos com tal ideal de que na realidade éramos felizes e não sabíamos diante das perdas verificadas pela extinção da Filarmônica São José e por último do fechamento para o povo do espaço público conhecido por “coreto” e/ou “pires” da Praça João Pessoa, no centro de nossa cidade, levando-se em consideração de que os ideais democráticos de “igualdade, liberdade e fraternidade”, advindo da Revolução Francesa, combinado com o principio cantado em verso e prosa de que “a praça, a praça é do povo, como céu é do condor”, do poeta baiano Castro Alves, no bojo do poema: “O POVO AO PODER”, declamado de improviso no dia 30 de setembro de 1866, em um comício que defendia o ideal republicano realizado na cidade de Recife, quando tinha apenas 19 (dezenove) anos de idade, uma verdadeira afronta ao regime adotado pelo Segundo Império Brasileiro, motivo pelo qual o referido comício foi dissolvido na marra e/ou força pela Polícia da Província de Pernambuco, sendo preso o jornalista paraibano Antônio Borges da Fonseca.5/6

O coreto da Praça João Pessoa é o principal arauto público, palanque democrático e popular da cultura do povo de nossa Terra, ex-vi seus encontros culturais, musicais e poéticos ali realizados em praça pública, onde o povo tem e/ou tinha acesso garantido.  A mistura da massa com o erudito ali sempre foi sempre o ponto de congruência e de convivência de nossa gente. E agora por que não é mais? Por que o espaço físico do “coreto” e/ou “pires” está fechado para o povo desde 01 de janeiro de 2017? Por que é mais importante o “coreto” e/ou “pires” alugado e/ou cedido a uma empresa terceirizada do que ocupado pelo povo? O valor do aluguel vale mais do que povo? E se vale, o povo já não o financiou desde sua construção? Nossa gente sabe que o “coreto” e/ou “pires” da Praça João Pessoa serviu de palco das grandes e inesquecíveis manifestações políticas partidárias de todos os naipes ideológicos de nossa Terra, da Paraíba e do Brasil, quando seus grandes líderes por aqui passaram em visita ao solo que nos é comum. Ele é a testemunha viva de nossas transformações sociais, a começar por si mesmo que deixou de ser um ambiente público e acolhedor a tudo e a todos para se transformar em uma mera casa comercial, não importa se de grande e/ou pequena expressão e/ou capital. Não que sejamos contra o surgimento de casas comerciais e muito menos de sua popularização em grande escala para oferecer empregos com abundancia para nossa gente. E até porque o município de Santa Rita desde a conquista da Paraíba que vem ensinando o Brasil a trabalhar em seus engenhos, usinas, fábricas e fabriquetas de fundos de quintal. O povo é maior do que empresa de muro alto e/ou de muro baixo. Não importa o capital para ser maior e/ou menor do que a vontade do povo livre desta terra. É que o espaço é impróprio para a realização de qualquer tipo de atividade lucrativa comercial, empresarial e/ou industrial, apesar de ser a vitrine da cidade amada por todos santaritenses, inclusive daqueles que ficam em silêncio para não serem vistos, notados e/ou perseguidos pelo Poder Público Municipal de plantão em suas contratações de prestação de serviços diretos e/ou indiretos. O pior pecado que pode existir para uma liderança política é fechar os olhos para aquilo que óbvio e prejudicial a vontade popular. Mas, o “coreto” é a menina dos olhos de nossa cidade, é o local certo e apropriado para acolher o povo no centro da cidade para fazer suas reflexões, pensamentos, expor seus sonhos realizados e a serem realizados. Elogiar e criticar o momento político nacional, estadual e municipal. A esperança é a última que morre... e o povo vive de esperança por dias  melhores e sempre.
          
Viva o povo santaritense!

¹ Cf.: MARONE, Steven P. "Medieval philosophy in context" in.: A. S. McGrade, ed., The Cambridge Companion to Medieval Philosophy (Cambridge: Cambridge University Press, 2003); Jean Leclerq, The Love of Learning and the Desire for God (New York: Fordham University Press, 1970) esp. 89; 238ff.

² Cf.:  SÉGUIER, Jaime de. Dicionário Prático Ilustrado. Porto/Portugal: Editora Lello & Irmão-Editores (s.d.).

3 Cf.: GRANJA, M; TACUCHIAN, R. Organização; significado e funções da banda de música civil. In: Pesquisa de música. Revista do Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e Especialização do Conservatório Brasileiro de Música. Rio de Janeiro, n.1, p. 27-40, dez.1984-jan/fev, 1985, p29. 

4 Cf.: CAZAES, Melira Elen Mascarenhas  No ritmo do compasso, a melodia das filarmônicas em harmonia com o tempo : um estudo sobre a Lyra Ceciliana e a Minerva Cachoeirana (1960-1980) / Melira Elen Mascarenhas Cazaes. – Feira de Santana, 2014. 184 f.

5 Cf.: MELO, Jerônimo Martiniano Figueira de, Autos do inquérito da Revolução Praieira, 1979, 465 pp.

6 Cf.: SANTOS, Mário Márcio de Almeida, Um homem contra o Império: vita e lutas de Antônio Borges da Fonseca, 1995, 235 pp. 
 (Francisco de Paula Melo Aguiar – 17/12/2017)
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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