Publicado
em 20 de junho de 2015 por Ticianeli
Cabeças
de cangaceiros expostas ao público
Com a morte
de Lampião e seu bando na madrugada do dia 28 de julho de 1938, na
grota de Angico, em Sergipe, os cangaceiros foram decapitados e suas cabeças
transportadas para Maceió, onde foram necropsiadas.
Exposição-das-cabeças-em-Santana-do-Ipanema (1)
Antes de
chegar à capital o cortejo macabro fez exposição das cabeças numa verdadeira
via sacra por cidades e vilarejos do trajeto até a capital. Em Santana do
Ipanema, por exemplo, as cabeças foram expostas na calçada da igreja.
Praça
da Cadeia, local onde as cabeças ficaram expostas em Maceió
Segundo o
perito criminal Ailton Vilanova o guardião das cabeças foi um
militar conhecido como Azogado. Foi ele quem pôs sal nas cabeças para
mantê-las conservadas durante todo tempo em que foram exibidas como troféus em
Alagoas, Sergipe e Bahia.
Em Maceió, as
cabeças receberam a visitação pública na praça da Cadeia, em frente ao Quartel
da Polícia Militar. Uma verdadeira multidão ocorreu ao local nos dias 30 e 31
de julho, e milhares de pessoas de todas as classes sociais viram o espetáculo
grotesco de cabeças de cangaceiros em decomposição.
Multidão tenta
invadir a Santa Casa de Misericórdia de Maceió para ver as cabeças dos
cangaceiros
Multidão
tenta invadir a Santa Casa de Misericórdia de Maceió para ver as cabeças dos
cangaceiros
Mesmo quando
as cabeças foram levadas para o necrotério da Santa Casa de Misericórdia
de Maceió, às 22 horas do dia 31 de julho, a multidão insistiu em acompanhar de
perto os trabalhos dos legistas. Toda a área teve que ser isolada pela polícia
diante das ameaças de invasão.
A necropsia
ficou a encargo do médico-legista da Polícia, Dr. José Lages Filho, que foi
auxiliado por José Aristeu, que acumulava a função de necropsista com a de
motorista do veiculo que transportava cadáveres, segundo informações de Ailton
Vilanova. Devido ao péssimo estado de conservação após cinco dias de
exposições, somente a cabeça de Lampião pôde ser aproveitada para os estudos
científicos.
Professor
Ezechias da Rocha, chefe da Clínica da Santa Casa, jornalista Melchiades da
Rocha e Dr. Lages Filho
Sobre a cabeça
do Rei do Cangaço o Dr. José Lages Filho informou que ela havia perdido toda a
massa encefálica em virtude das extensas e múltiplas perda de material ósseo.
Isso impossibilitava os estudos sobre possíveis anomalias cerebrais do
cangaceiro.
Sobre o estudo
antropológico, necessário para identificar o criminoso nato segundo as teorias
de Lombroso – muito em voga na época –, o legista disse que os únicos sinais de
degenerescência eram a assimetria das orelhas, microdontia e a forma ogival da
abóbada palatina.
Para Lampião
ser um criminoso nato faltavam, ainda segundo o legista, os indícios de
pragmatismo maxilar, deformações cranianas e outras características do perfil
da Escola Lombrosiana.
A conclusão do
laudo é: “Todavia, nem por isso os dados anatômicos e antropométricos
assinalados perdem sua valia pelas sugestões que oferecem na apreciação da
natureza delinquencial do famoso cangaceiro nordestino. – (a.) Dr. José Lages
Filho, médico-legista da Polícia”.
Estes estudos
eram tão importantes na época, que o governo de Alagoas recebeu um pedido do
professor F. A. Nóbrega, de Curitiba, que pretendia enviar as cabeças dos
cangaceiros para estudos no Instituto Guilherme II em Berlim. O governo negou.
Depois dos
estudos em Maceió os restos mortais dos cangaceiros foram levados para
Salvador, onde ficaram expostos do Museu Antropológico Estácio de Lima,
localizado no prédio do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues.
Foi a luta de
Dadá, companheira de Corisco – que passou a viver em Salvador -, que exigiu o
cumprimento da legislação que assegura o respeito aos mortos.
Só no dia 06
de fevereiro de 1969, no governo Luiz Viana Filho, foi que os restos mortais
dos cangaceiros puderam ser inumados definitivamente – tendo, porém, o museu
feito moldes para expor, em substituição.
Fonte: Livro
Bandoleiros das Catingas, de Melchiades da Rocha.
http://www.historiadealagoas.com.br/cabecas-dos-cangaceiros-chegam-a-maceio-em-1938.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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