Em determinada
época na sequência historiográfica pesquisada e editada do Fenômeno Social
Cangaço, alguns adeptos partidários políticos, principalmente com ‘ideologias
comunistas’, tentaram levar para a população uma imagem diferente da real
quanto a posição social dos cangaceiros, referindo-se precisamente ao último
dos grandes chefes que existiram, o pajeuzeiro Virgolino Ferreira, cangaceiro
“Lampião”.
O cangaceiro,
em toda história da existência do Fenômeno não teve, nem defendeu, uma bandeira
social/partidária a não ser a dele própria. Existiram três classes de cangaço,
classificadas por uma das maiores autoridades no assunto, o sociólogo Frederico
Pernambucano de Mello, que foram a da VINGANÇA, o cangaceiro vingador que se
juntava aos outros para poder executá-la, a da FUGA, onde o sertanejo procurava
os bandos de cangaceiros em busca de proteção, fugindo dos inimigos diretos
e/ou da própria polícia, outros deixavam as volantes, desertando, e procuravam
juntarem-se aos bandos cangaceiros, tanto que Nicanor Guedes de Moura Alves,
quando exercia o comando geral das Forças que reprimiam o banditismo rural no
estado da Paraíba, envia uma missiva com os seguintes dizeres: “...as praças
desertavam aos grupos de quatro a seis diariamente, conduzindo armamento e munição
para engrossarem as fileiras dos bandidos.” (MELLO, 2011). E, por último, a do
cangaço MEIO-DE-VIDA, ‘arrecadando-se bens de maneira fácil’, tomando de quem
tinha simplesmente, fase em que entrevam e desertavam na mesma intensidade.
Chefe cangaceiro Virgolino Ferreira - o Lampião
Imagem
registrada por Benjamin Abrahão em 1936/37.
O
pesquisador/historiador citado acima, referindo sobre os dois maiores desafetos
de Lampião, Zé Saturnino e José Lucena, quanto a vingança prometida ao mesmos,
refere que se concluídas, não poderia mais ficar no cangaço. Teria ele que
deixar as fileiras em busca de novas terras e respirar novos ares. Portanto,
segundo o escritor, não eram mais as intenções do chefe cangaceiro deixar seu
‘reinado’ tão lucrativo.
Pois bem, o
jornalista/escritor/advogado e militante do Partido Comunista Rui Facó, em seu
livro “Cangaceiros e Fanáticos” publica em 1963, diz, querendo sensibilizar a
população, principalmente a rural, que “o cangaço foi proto-revolucionários”.
Onde já se viu o cangaço ter raízes e/ou ideais político-revolucionárias. São,
ou foram essas informações descabidas, talvez procurando juntar o útil ao
agradável, as ações dos cangaceiros que tiveram seu fim na década de 1930 ao
momento político nacional daquela época, que Facó, entre outros, lançaram em
suas literaturas tais informações descabidas.
Na primeira
metade da década de 1930 o PCB já de olho numa tomada revolucionária do País,
leva para Moscou, capital da União Soviética, a proposta da integração dos
cangaceiros numa ação de guerrilhas nos sertões nordestinos. Segundo José
Ferreira Júnior, em uma matéria sensacional, citando o pesquisador/historiador
Luís Bernardo Pericás, em seu “Cangaceiros”, ressalva: “Imaginando os
cangaceiros como sendo sujeitos propícios à absorção de ideais revolucionários,
o PCB leva à III Conferência de Partidos Comunistas da América Latina e Caribe,
realizado em Moscou, em 1934, proposta de alinhar os cangaceiros na luta
revolucionária, fazendo-os participantes das guerrilhas nordestinas. Moscou
compra a ideia do PCB e se propõe a apoiar a intensificação dos contatos com os
cangaceiros(...).”
Não houve,
nunca mesmo, se quer um pensamento de caráter revolucionário em nenhum dos
cangaceiros desde o surgimento do Fenômeno no segundo meado do séc, XVIII até
seu total fim em maio de 1940. O pesquisador/escritor Péricás diz, referindo-se
a proposta idealizada pelo PCB e levada a Moscou: “os comunistas ingenuamente
achavam que se poderia dar um caráter revolucionário ao cangaço,
influenciando-o de tal forma que vários grupos de bandoleiros iriam até mesmo
querer adotar o programa da Aliança Nacional Libertadora (ANL)”.
“A ideia do
PCB era reflexo da ideologia stalinista da revolução num só país, que defendia
a revolução por etapas e as políticas de frentes populares. Uma aliança dos
trabalhadores com a ala mais progressista da burguesia nacional, o que
significava a subordinação política da classe. Tratava-se de uma visão linear
da história, ideia que confrontava o pensamento leninista que defendia que o
socialismo era, antes de tudo, análise concreta de situações concretas. É óbvio
que o devaneio do PCB ficou somente no devanear.” ( José Ferreira Júnior).
A existência
do discurso contemporâneo referindo os ‘devaneios’ daqueles que formavam as
fileiras do PCB, defendendo o “revolucionarismo nas ações lampiônicas”, e ainda
afirmando “ter sido o cangaço lampiônico luta contra as injustiças
protagonizadas pela estrutura coronelística e oligárquica dos seus dias”, não
tem como segurar-se, pois não se pode pensar alguém revolucionário estabelecer
relações de compadrio com a classe que oprime.
Chamar o cangaço
lampiônico de ‘protorrevolucionarismo’, e ‘Lampião de revolucionário’ é,
sinceramente, desconhecer o que foi o movimento camponês chamado Fenômeno
Social Cangaço. Não só quanto ao cangaço, mas vemos ao longo da História, tais
expressões, típica da política estalinista, de não realizar uma profundo
análise concreta, das situações concretizadas e/ou concretizantes, determinando
em termos leninistas cada formação econômico-social sem o conhecerem exatamente
qual seja.
Por outro lado, sabemos que os ideais dos comunistas sempre foram de usar uma ocorrência social, ou mesmo a falta desta, sem saber qual fora, nem suas razões, para influenciar ou bitolar a mente daqueles menos favorecidos culturalmente e usá-los para seus fins de galgarem o poder.
Por outro lado, sabemos que os ideais dos comunistas sempre foram de usar uma ocorrência social, ou mesmo a falta desta, sem saber qual fora, nem suas razões, para influenciar ou bitolar a mente daqueles menos favorecidos culturalmente e usá-los para seus fins de galgarem o poder.
Fonte José Ferreira
Júnior
Foto Benjamin
Abrahão
OBS.: Foto de
Lampião colorizada, digitalmente, por Rubens Antonio
https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/16194d3cc8e15638
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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