*Rangel Alves da Costa
Todos os dias - e a qualquer hora do dia - quem passar pela Rua Florentino Menezes, na região central de Aracaju, vai ouvir coisas assim: “Ei, vamos namorar!”, “Gostoso, vamos fazer neném!”, “Vamos pra cama!”, “Quer me comer?”. E sempre das mesmas bocas: as prostitutas que ali fazem ponto pelas calçadas, esquinas e abaixo das escadarias dos dormitórios.
Parece mais um beco de cabarés, uma vila de puteiros, um aglomerado de casas do sexo, mas apenas um trecho numa rua movimentada no centro da capital sergipana. Desde o amanhecer ao anoitecer, que chova ou faça sol, as prostitutas ali estarão chamando um e outro para namorar.
Não é normal que assim aconteça num centro de capital. Sabe-se muito bem que atrás de portões e portas, muros insuspeitos e fachadas bonitas, existem verdadeiros bordéis. E lá dentro prostitutas, garotas de programa, iniciantes da vida fácil e toda espécie de mulheres que comercializam prazeres.
No centro mesmo existem casas de mulheres assim. Num misto de casa de strip-tease, bar e bordel, outra função não há senão a pura comercialização do sexo. A única diferença é que as mulheres entram e saem dos ambientes sem que levantem qualquer suspeita, vez que jovens arrumadas, aparentando timidez e até muito bonitas.
Quase livre de toda suspeita é a rotina sexual da zona sul e da orla praieira. Casas de luxo, requintadas, com mulheres novas e de todas as formas, sempre se apresentando como universitárias. As mocinhas de programa se juntam àquelas que juram que não são dessa vida, e acabam recebendo aqueles dispostos a ter altos gastos.
Um comércio requintado do sexo onde o impensável de existir acaba se revelando na mera prostituição. E mais tarde, quando as idades já não revelarem as belezas e quando os atributos do corpo já não atraírem mais, então muitas destas acabarão em cabarés comuns, em ralés puteiros, em chinfrins casas da luz vermelha.
Muito diferente ocorre no trecho da Florentino Menezes, onde a partir da porta de um bar (Bar do Zé) as mulheres se espalham pelas calçadas, esquinas e aos pés dos dormitórios que se avizinham nos andares superiores das lojas. Os convites são feitos na rua, e acaso aceitos, ali mesmo nas proximidades ocorrerão as entregas. Basta subir as escadarias para chegar aos quartos miúdos, sujos e tomados de sujeiras envelhecidas de sexo.
Diversamente do que ocorre nos arredores e afastados da cidade, onde os cabarés já não são tão avistados como antigamente, o que chama a atenção naquele trecho é precisamente o fato de as mulheres da vida estarem quase que misturadas com as demais mulheres que passam. As escadarias dos dormitórios são ao lado das lojas, ali chegam pessoas a todo instante, e ali também as prostitutas fazendo o seu outro comércio. Em certas situações, difícil mesmo saber quem está ali fazendo vida ou fazendo compras, que está esperando cliente ou apenas passando.
Não é normal pela forma que se dá naquele trecho, ao lado de supermercado e lojas, bem como pela nenhuma importância que aquelas mulheres dão às famílias que passam. Ora, ali um logradouro comercial, com pessoas de todas as idades passando e voltando. E elas ali, sem se importar que passe o pai ou a mãe, um irmão ou parente, simplesmente esperando freguês. Certamente muitas já tiveram o desprazer de bater de frente com uma vizinha ou um parente. E fazer o que numa situação assim, simplesmente dizer que está ali por que é quenga, é meretriz, é rapariga, é prostituta?
Talvez seja o comum da profissão levado ao estado do tanto faz. Certamente que entre elas não há qualquer timidez ou envergonhamento, e tanto assim que não se escondem nem procuram negar o que fazem ali. E estão ali como comerciantes do corpo, como mulheres da vida, em troca de trinta ou cinquenta reais, quando muito. Algumas permanecem dentro do bar, sentadas em mesas, esperando que um ou outro chegue para pagar uma bebida e fazer o tão esperado convite. Algumas se embebedam de bebida barata e fazem do dia mais um dia sem nada. Retornam tristes, chorosas, caindo por dentro e por fora.
Mas neste momento elas estão lá. De canto a outro elas são avistadas chamando quem passa para namorar. Envelhecidas, feias, magras, balofas, simpáticas, jovens, de todos os tipos. Lábios vermelhos, perfume barato, olhos pintados, caçadoras. Pedem cigarros, desejam atenção. Mas sempre passam. Passam, mas tendo que primeiro ouvir: “Ei, vamos namorar?”.
Escritor
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