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quarta-feira, 30 de maio de 2018

EPISÓDIOS DA VIDA DE LAMPIÃO - PARTE 4


Por Ruy Lima 

(Participação de Lampião nas Investidas do Bando do Sinhô Pereira) 

UM POUCO DA HISTÓRIA DE SINHÔ PEREIRA E DE LUIZ PADRE 

Sebastião Pereira da Silva era o seu nome. Filho de Manoel Pereira da Silva Sá, pertencia à família Pereira da Região do Pajeú, Nasceu em Vila Bela, em 20/01/1896 e faleceu em 21/08/1979, em Lagoa Grande, MG, como um pacato comerciante. 

Sinhô Pereira (não sei de onde veio esse “Sinhô”, mas não tem nada a ver com a sua idade, ou por ser portador de algum título de nobreza) era descendente do Andrelino Pereira da Silva, o famoso Barão do Pajeú, o qual foi o primeiro prefeito de Vila Bela. Ele era primo de Luiz Pereira da Silva, o Luiz Padre, alcunha originada do seu pai, o Padre Pereira. Ele nasceu em 12/02/1891, em Serra Talhada e faleceu em 06/04/1965, em Goiás, devido a uma operação malsucedida de vesícula. 


Luiz Padre era filho de Manoel Pereira da Silva Jacobina, conhecido como Padre Pereira, por ter sido seminarista. 

Padre Pereira era irmão do pai de Sinhô Pereira e genro do Barão do Pajeú. Ele foi o segundo prefeito de Serra Talhada. Era muito respeitado, mas odiado pelos Carvalhos. 

Naquela época, as famílias Pereira e Carvalho, viviam em pé de guerra, apesar de terem parentesco entre si. 

No dia 17 de junho de 1905, pela manhã, Manoel Pereira Maranhão, conhecido por Né do Baixio ou Né Delegado, por ter exercido esse cargo, foi morto a tiros em plena rua de Vila Bela, pelo seu primo Antônio Clementino de Carvalho, apelidado de Antônio Quelé, por um motivo bastante fútil. 

Antônio Quelé foi preso e encaminhado para a Cadeia de Flores, mas anos depois foi absolvido em júri popular. 

Em 20 de outubro de 1907, Padre Pereira, pai de Luiz Padre e tio de Sinhô Pereira, foi morto, aos 72 anos de idade, por Luis de França, jagunço do major João Barbosa Nogueira, aliado dos Carvalhos.

Luiz Padre tinha entre 16 e 17 anos e coube a Manoel Pereira da Silva Filho (Né Pereira ou Né Dadu), irmão mais velho de Sinhô Pereira, atendendo pedido da viúva do Padre Pereira, matar Eustáquio Carvalho, um dos membros da família adversária. 

Né Dadu cumpriu a sua tarefa: matou a tiros Eustáquio Carvalho. Ele formou um bando de cangaceiros e atacou algumas fazendas do local. Foi perseguido pela polícia. Em 16 de outubro de 1916, na Fazenda Serrinha, em Serra Talhada, ele foi assassinado a traição, enquanto dormia, por um dos seus cabras. 

A viúva do Padre Pereira e mãe do Luiz Padre, mandou o filho acompanhar o primo, Sinhô Pereira. 

Sinhô Pereira já tinha formado um bando de cangaceiros, com a aprovação da família, para vingar a morte do irmão, Né Dadu, e do Padre Pereira, seu tio e pai do Luiz Padre. 

Sinhô Pereira fora avisado que um dos jagunços que ajudara matar o Padre Pereira estava numa fazenda, perto do comércio de São João de Barro Vermelho (hoje Tauapiranga) distrito de Serra Talhada/PE. O bando chegou na casa à noite. O cabra correu sob a rajada de tiros dos cangaceiros. No outro dia, pela manhã, Sinhô Pereira, Luiz Padre e seus cangaceiros seguiram o rastro do cabra pelo sangue. Quando avistou o bando, o cabra correu e Luiz Padre o matou com um tiro certeiro, vingando assim a morte do pai, embora não tenha se vingado dos mandantes do crime. 

Porém, a família Pereira estava numa fase inicial de decadência econômica. O Sinhô Pereira e Luiz Padre, resolveram deixar o cangaço e debandarem para o Estado de Goiás. 

Após uma longa caminhada e confrontos com a polícia do Piauí, Sinhô Pereira resolveu retornar ao sertão do Pajeú e reassumir o comando do seu bando de cangaceiros. Luiz Padre continuou com a sua jornada com destino a Goiás. 


Neste seu retorno, entre o mês de julho e julho de 1920, Sinhô Pereira foi procurado por Virgulino, seus irmãos Antônio e Livino, Antônio Rosa, irmão de criação e outras cabras. Desta feita, os irmãos Ferreira entraram definitivamente no cangaço, com o objetivo de vingarem a morte do pai, pela Polícia Militar de Alagoas.

AS PRIMEIRAS INVESTIDAS DO BANDO DO SINHÔ PEREIRA, COM A PARTICIPAÇÃO DE LAMPIÃO. 

O primeiro confronto do bando de Sinhô Pereira com a polícia, ocorreu quatro a cinco depois que Virgulino entrou no bando. Aconteceu na fazenda de Né Carnaúba, tio do Sinhô Pereira. O bando, composto de apenas 13 homens, foi atacado por uma força de uns 40 homens, comandados pelo capitão Zé Caetano. No tiroteio, morreu Luis Macário, um dos camaradas de Sinhô Pereira. O bando fugiu. 

Logo em seguida, houve outro confronto, na fazenda Ponto de Poço, à margem do Pajeú. O bando já era composto por 16 homens contra 8 da polícia. Morreram dois da volante policial. 

Oito ou dez dias depois, o bando enfrentou uma volante, com praticamente o mesmo número de componentes, 16 a 17 homens. Da volante morreu um e outro saiu ferido. Do bando hão houve mortos nem feridos. 

Um mês depois, mais outro confronto, pertinho de Serra Talhada. Tanto o bando como a volante era composta de 23 homens. Houve dois mortos e três feridos da volante e dois feridos do bando de Sinhô Pereira. A volante fugiu. 

O bando de cangaceiros seguiu para a fazenda Abóbora do Coronel Marçal Diniz. Nesse lugar, o capitão Zé Caetano e os tenentes Bigode, Ibraim e Geraldo cercaram a casa. O tiroteio durou quase cinco horas. Da parte da volante, morreu um e ficaram uns cinco baleados. Morreu um rapaz da casa e dois do bando de cangaceiros ficaram feridos. Um deles, Antônio Ferreira, irmão de Virgulino, com um tiro de fuzil no ombro e outro na coxa. A volante debandou. 

Em seguida, o bando foi para a fazenda do Barro, no Ceará, com quatro feridos, a chamado do major José Inácio, que tinha arranjado uma encrenca com o padre Lacerda, do arraial de nome Coité. O padre estava incorporado com as forças. Tinha pouco soldados e muito jagunço. 

O bando cercou o arraial de Coité com 70 homens, contando com os homens do major. O bando já tinha uns 30 homens. Os adversários tinham uns 50. O tiroteio começou cedo e durou até de tardinha. Isso ocorreu no dia 20 de janeiro de 1921. Morreram um dos homens de Sinhô e três do Major Inácio. Saíram feridos três homens do bando, incluindo Antônio Ferreira, no braço. Chegaram mais 15 a 16 homens, comandados pelo sargento Romão, e o bando, em desvantagem, se retirou. 

Em seguida o bando chegou na fazenda das Queimadas, onde teve um encontro com uma força de mais de vinte homens, chefiada pelo sargento Romão. Logo depois apareceu o tenente Zé Galdino com 25 a 30 soldados. 

Depois de mais de uma hora, os policiais correram e voltaram reforçados pelo grupo de Antônio Miguel, sargento comissionado, com 15 a 20 homens paisanos. Sinhô Pereira dividiu o grupo. Uma parte ficou na casa e no curral. Outra parte ficou na cerrada. Estes viram quando os policiais foram chegando e deixaram que passassem. Um grupo estava com Lampião e outro com Baliza. De repente, os policiais ficaram entre dois fogos. Morreram dois soldados e três paisanos Morreu Pitombeira (Manuel Vitória) chefe de grupo do Sinhô Pereira e ficaram feridos os cangaceiros Lavandeira de Manxé Porvinha. Depois de uma hora e meia de tiroteio, a força policial fugiu. 

Sinhô Pereira e seu bando retornaram para o Barro. Lá, o major José Inácio pediu que se retirassem. O Sinhô Pereira, então, retornou para Serra Talhada com o seu pessoal. 

Em Serra talhada o bando recebeu uma intensa perseguição da força policial pernambucana. Na serra de Forquilha foram cercados por 128 homens chefiados pelo tenente-coronel Cardim, o capitão Zé Caetano e os tenentes Bigode, Assisino e João Gomes. O bando, naquela ocasião, só tinha 11 homens, incluindo Virgulino e seus irmãos. Teve uma hora de fogo cruzado. 

O bando estava no interior de uma casa. Os policiais davam descarga de balas no telhado da casa, que ia ficando cada vez mais cheia de poeira. Os cangaceiros estavam em tempo de ficarem desarmados: a areia caía dentro das carabinas, quando eles as manobravam. Então, resolveram furar o cerco. Combinaram de cinco atirar para um lado e seis para o outro. Conseguiram escapar. Surpreendentemente, ninguém saiu ferido. 

Depois houve outro confronto na fazenda Tabuleiro, na Paraíba, fronteira com Pernambuco, de um sujeito casado com uma sobrinha de Sinhô Pereira, chamado Neco Alves. De longe o bando avistou uns homens. Lampião ia na frente com Livino e Antônio. Os soldados atiraram e erraram. Lampião perdeu o chapéu, ao pular para se livrar das balas. Ao voltar para apanhá-lo, tomou dois tiros, uma na virilha e outro acima do peito, Todos os dois saíram atrás.

Na hora, ele saiu andando, mas não aguentou e caiu. Livino e Meia-Noite o arrastaram até um lugar seguro. Ficou uns 20 dias na fazenda de um pessoal de Cosmos, gente humilde, mas muito amiga. Sinhô mandou chamar um médico da sua família, Dr. Mota que tratou dos ferimentos de Lampião. Ao examiná-lo o médico teria dito: “Nunca vi tanta sorte. Por um triz a bala pegava a bexiga e a espinha. Se a bala fosse de carabina (mais grossa) teria pegado.” Sinhô Pereira e seu bando ficou arranchado naquele local até Lampião poder andar. 

“Depois do combate em que Lampião saiu ferido eu resolvi me retirar daquela vida. Isso foi no Tabuleiro de Neco Alves. Saí mais por causa do reumatismo. O reumatismo me atacava tanto, que tinha dia que eu não podia nem caminhar.” (Sinhô Pereira)

Sinhô Pereira saiu do Sertão do Pajeú em 8/08/1922, com apenas 26 anos de idade, rumo a Goiás, onde já estava o seu primo Luiz Padre, e deixou o seu bando sob o comando de Lampião. 

Ruy Lima 29/05/2018 Próxima Postagem: Parte 5 - OS PRIMEIROS ASSALTOS DE LAMPIÃO E SEU BANDO

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