Por Ruy Lima
(Participação de Lampião nas
Investidas do Bando do Sinhô Pereira)
UM POUCO DA HISTÓRIA DE SINHÔ PEREIRA E
DE LUIZ PADRE
Sebastião Pereira da Silva era o seu nome. Filho de Manoel
Pereira da Silva Sá, pertencia à família Pereira da Região do Pajeú, Nasceu em
Vila Bela, em 20/01/1896 e faleceu em 21/08/1979, em Lagoa Grande, MG, como um
pacato comerciante.
Sinhô Pereira (não sei de onde veio esse “Sinhô”, mas não
tem nada a ver com a sua idade, ou por ser portador de algum título de nobreza)
era descendente do Andrelino Pereira da Silva, o famoso Barão do Pajeú, o qual
foi o primeiro prefeito de Vila Bela. Ele era primo de Luiz Pereira da Silva, o
Luiz Padre, alcunha originada do seu pai, o Padre Pereira. Ele nasceu em
12/02/1891, em Serra Talhada e faleceu em 06/04/1965, em Goiás, devido a uma
operação malsucedida de vesícula.
Luiz Padre era filho de Manoel Pereira da
Silva Jacobina, conhecido como Padre Pereira, por ter sido seminarista.
Padre
Pereira era irmão do pai de Sinhô Pereira e genro do Barão do Pajeú. Ele foi o
segundo prefeito de Serra Talhada. Era muito respeitado, mas odiado pelos
Carvalhos.
Naquela época, as famílias Pereira e Carvalho, viviam em pé de
guerra, apesar de terem parentesco entre si.
No dia 17 de junho de 1905, pela
manhã, Manoel Pereira Maranhão, conhecido por Né do Baixio ou Né Delegado, por
ter exercido esse cargo, foi morto a tiros em plena rua de Vila Bela, pelo seu
primo Antônio Clementino de Carvalho, apelidado de Antônio Quelé, por um motivo
bastante fútil.
Antônio Quelé foi preso e encaminhado para a Cadeia de Flores,
mas anos depois foi absolvido em júri popular.
Em 20 de outubro de 1907, Padre
Pereira, pai de Luiz Padre e tio de Sinhô Pereira, foi morto, aos 72 anos de
idade, por Luis de França, jagunço do major João Barbosa Nogueira, aliado dos
Carvalhos.
Luiz Padre
tinha entre 16 e 17 anos e coube a Manoel Pereira da Silva Filho (Né Pereira ou
Né Dadu), irmão mais velho de Sinhô Pereira, atendendo pedido da viúva do Padre
Pereira, matar Eustáquio Carvalho, um dos membros da família adversária.
Né
Dadu cumpriu a sua tarefa: matou a tiros Eustáquio Carvalho. Ele formou um
bando de cangaceiros e atacou algumas fazendas do local. Foi perseguido pela
polícia. Em 16 de outubro de 1916, na Fazenda Serrinha, em Serra Talhada, ele
foi assassinado a traição, enquanto dormia, por um dos seus cabras.
A viúva do
Padre Pereira e mãe do Luiz Padre, mandou o filho acompanhar o primo, Sinhô
Pereira.
Sinhô Pereira já tinha formado um bando de cangaceiros, com a
aprovação da família, para vingar a morte do irmão, Né Dadu, e do Padre
Pereira, seu tio e pai do Luiz Padre.
Sinhô Pereira fora avisado que um dos
jagunços que ajudara matar o Padre Pereira estava numa fazenda, perto do
comércio de São João de Barro Vermelho (hoje Tauapiranga) distrito de Serra
Talhada/PE. O bando chegou na casa à noite. O cabra correu sob a rajada de
tiros dos cangaceiros. No outro dia, pela manhã, Sinhô Pereira, Luiz Padre e
seus cangaceiros seguiram o rastro do cabra pelo sangue. Quando avistou o
bando, o cabra correu e Luiz Padre o matou com um tiro certeiro, vingando assim
a morte do pai, embora não tenha se vingado dos mandantes do crime.
Porém, a
família Pereira estava numa fase inicial de decadência econômica. O Sinhô
Pereira e Luiz Padre, resolveram deixar o cangaço e debandarem para o Estado de
Goiás.
Após uma longa caminhada e confrontos com a polícia do Piauí, Sinhô
Pereira resolveu retornar ao sertão do Pajeú e reassumir o comando do seu bando
de cangaceiros. Luiz Padre continuou com a sua jornada com destino a Goiás.
Neste seu retorno, entre o mês de julho e julho de 1920, Sinhô Pereira foi
procurado por Virgulino, seus irmãos Antônio e Livino, Antônio Rosa, irmão de
criação e outras cabras. Desta feita, os irmãos Ferreira entraram
definitivamente no cangaço, com o objetivo de vingarem a morte do pai, pela
Polícia Militar de Alagoas.
AS PRIMEIRAS
INVESTIDAS DO BANDO DO SINHÔ PEREIRA, COM A PARTICIPAÇÃO DE LAMPIÃO.
O primeiro
confronto do bando de Sinhô Pereira com a polícia, ocorreu quatro a cinco
depois que Virgulino entrou no bando. Aconteceu na fazenda de Né Carnaúba, tio
do Sinhô Pereira. O bando, composto de apenas 13 homens, foi atacado por uma
força de uns 40 homens, comandados pelo capitão Zé Caetano. No tiroteio, morreu
Luis Macário, um dos camaradas de Sinhô Pereira. O bando fugiu.
Logo em
seguida, houve outro confronto, na fazenda Ponto de Poço, à margem do Pajeú. O
bando já era composto por 16 homens contra 8 da polícia. Morreram dois da
volante policial.
Oito ou dez dias depois, o bando enfrentou uma volante, com
praticamente o mesmo número de componentes, 16 a 17 homens. Da volante morreu
um e outro saiu ferido. Do bando hão houve mortos nem feridos.
Um mês depois,
mais outro confronto, pertinho de Serra Talhada. Tanto o bando como a volante
era composta de 23 homens. Houve dois mortos e três feridos da volante e dois
feridos do bando de Sinhô Pereira. A volante fugiu.
O bando de cangaceiros
seguiu para a fazenda Abóbora do Coronel Marçal Diniz. Nesse lugar, o capitão
Zé Caetano e os tenentes Bigode, Ibraim e Geraldo cercaram a casa. O tiroteio
durou quase cinco horas. Da parte da volante, morreu um e ficaram uns cinco
baleados. Morreu um rapaz da casa e dois do bando de cangaceiros ficaram
feridos. Um deles, Antônio Ferreira, irmão de Virgulino, com um tiro de fuzil
no ombro e outro na coxa. A volante debandou.
Em seguida, o bando foi para a
fazenda do Barro, no Ceará, com quatro feridos, a chamado do major José Inácio,
que tinha arranjado uma encrenca com o padre Lacerda, do arraial de nome Coité.
O padre estava incorporado com as forças. Tinha pouco soldados e muito jagunço.
O bando cercou o arraial de Coité com 70 homens, contando com os homens do
major. O bando já tinha uns 30 homens. Os adversários tinham uns 50. O tiroteio
começou cedo e durou até de tardinha. Isso ocorreu no dia 20 de janeiro de
1921. Morreram um dos homens de Sinhô e três do Major Inácio. Saíram feridos três
homens do bando, incluindo Antônio Ferreira, no braço. Chegaram mais 15 a 16
homens, comandados pelo sargento Romão, e o bando, em desvantagem, se retirou.
Em seguida o
bando chegou na fazenda das Queimadas, onde teve um encontro com uma força de
mais de vinte homens, chefiada pelo sargento Romão. Logo depois apareceu o
tenente Zé Galdino com 25 a 30 soldados.
Depois de mais de uma hora, os
policiais correram e voltaram reforçados pelo grupo de Antônio Miguel, sargento
comissionado, com 15 a 20 homens paisanos. Sinhô Pereira dividiu o grupo. Uma
parte ficou na casa e no curral. Outra parte ficou na cerrada. Estes viram
quando os policiais foram chegando e deixaram que passassem. Um grupo estava
com Lampião e outro com Baliza. De repente, os policiais ficaram entre dois
fogos. Morreram dois soldados e três paisanos Morreu Pitombeira (Manuel
Vitória) chefe de grupo do Sinhô Pereira e ficaram feridos os cangaceiros
Lavandeira de Manxé Porvinha. Depois de uma hora e meia de tiroteio, a força
policial fugiu.
Sinhô Pereira e seu bando retornaram para o Barro. Lá, o major
José Inácio pediu que se retirassem. O Sinhô Pereira, então, retornou para
Serra Talhada com o seu pessoal.
Em Serra talhada o bando recebeu uma intensa
perseguição da força policial pernambucana. Na serra de Forquilha foram
cercados por 128 homens chefiados pelo tenente-coronel Cardim, o capitão Zé
Caetano e os tenentes Bigode, Assisino e João Gomes. O bando, naquela ocasião,
só tinha 11 homens, incluindo Virgulino e seus irmãos. Teve uma hora de fogo
cruzado.
O bando estava no interior de uma casa. Os policiais davam descarga de
balas no telhado da casa, que ia ficando cada vez mais cheia de poeira. Os
cangaceiros estavam em tempo de ficarem desarmados: a areia caía dentro das
carabinas, quando eles as manobravam. Então, resolveram furar o cerco.
Combinaram de cinco atirar para um lado e seis para o outro. Conseguiram
escapar. Surpreendentemente, ninguém saiu ferido.
Depois houve outro confronto
na fazenda Tabuleiro, na Paraíba, fronteira com Pernambuco, de um sujeito
casado com uma sobrinha de Sinhô Pereira, chamado Neco Alves. De longe o bando
avistou uns homens. Lampião ia na frente com Livino e Antônio. Os soldados
atiraram e erraram. Lampião perdeu o chapéu, ao pular para se livrar das balas.
Ao voltar para apanhá-lo, tomou dois tiros, uma na virilha e outro acima do
peito, Todos os dois saíram atrás.
Na hora, ele
saiu andando, mas não aguentou e caiu. Livino e Meia-Noite o arrastaram até um
lugar seguro. Ficou uns 20 dias na fazenda de um pessoal de Cosmos, gente
humilde, mas muito amiga. Sinhô mandou chamar um médico da sua família, Dr.
Mota que tratou dos ferimentos de Lampião. Ao examiná-lo o médico teria dito:
“Nunca vi tanta sorte. Por um triz a bala pegava a bexiga e a espinha. Se a
bala fosse de carabina (mais grossa) teria pegado.” Sinhô Pereira e seu bando
ficou arranchado naquele local até Lampião poder andar.
“Depois do combate em
que Lampião saiu ferido eu resolvi me retirar daquela vida. Isso foi no
Tabuleiro de Neco Alves. Saí mais por causa do reumatismo. O reumatismo me
atacava tanto, que tinha dia que eu não podia nem caminhar.” (Sinhô Pereira)
Sinhô Pereira saiu do Sertão do Pajeú em 8/08/1922, com apenas 26 anos de
idade, rumo a Goiás, onde já estava o seu primo Luiz Padre, e deixou o seu
bando sob o comando de Lampião.
Ruy Lima 29/05/2018 Próxima Postagem: Parte 5 -
OS PRIMEIROS ASSALTOS DE LAMPIÃO E SEU BANDO
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