Por José
Mendes Pereira
A doença de
mal de "Alzheimer" é a forma mais comum de demência. Não existe cura
para a doença, a qual se agrava progressivamente até levar à morte. Foi
descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra e neuropatologista alemão
"Alois Alzheimer", de quem recebeu o nome, ao ao fazer uma autópsia,
descobriu no cérebro do morto, lesões que ninguém nunca tinha visto antes.
Por último, um
grande problema vinha acontecendo com Galdino Borba Gato Mendonça de mais de 90
anos, (pai biológico do caçador de onças seu Galdino, o velho amigo do seu
Leodoro Gusmão), que infelizmente, o ancião fora premiado com a doença mal de
"Alzheimer", conhecida por todos nós como sendo caduquice. Mesmo que
o mal de "Alzheimer" já tinha sido descoberto pelo "Alemão Alois
Alzheimer" mas continuavam ainda chamando de caduquice quem tinha este
tipo de doença. O certo é que, as palavras existem, mas centenas delas estão
adormecidas nos dicionários, e um dia elas serão usadas novamente como qualquer
outra.
Sendo portador
desta incurável doença o ancião Galdino dizia coisa com coisa, algumas vezes,
conhecia os filhos, em outros momento, não. Ali, sentado sobre um banco velho
de aroeira fincado sob o seu desmoronado alpendre ele conversava sozinho,
chamava pela velha esposa que já fazia mais de 10 anos que falecera. Aboiava
sem ver nenhum animal por perto, gritava, queria café, queria almoço fora do
horário costumeiro, pedia água e quando a recebia das mãos da filha, ele a
derramava, pedia marca de fumo, e a filha Marlene enganava-o dando um "bom
bom", e ao colocar na boca, a filha lhe perguntava:
- Esta masca
de fumo é boa, papai?
E ele lhe
respondia como se fosse fumo de verdade:
- Ótima, minha
filha! Ótima! Nunca vi um fumo tão bom quanto este que você me deu agora!
O velho
Galdino agora desejava entrar num catecismo, que uma religiosa ensinava às
crianças do pequeno lugar. E ali, ficava em gritos, dizendo que a filha Marlene
o matriculasse no catecismo. Ela com paciência dizia que, a fase de catecismo é
apenas para crianças, e não para pessoas adultas, assim como ele que já passava
dos 90 anos. Mas o velho não desistia da sua ideia de participar do catecismo
do lugar.
Sem outra
solução, Marlene resolveu participar à religiosa do desejo do velho seu pai, que
por último queria porque queria participar do catecismo que ela administrava.
A religiosa
fez-lhe a seguinte proposta: Comprasse um caderno, um lápis, uma pasta, e
quando estivesse com tudo em mãos, nos dias de catecismo, levasse-o para
participar dos estudos religiosos. E assim foi feito.
Nesse dia, a
Marlene arrumou o velho pai e foi deixá-lo na aula religiosa. Ele estava além
de feliz, mas vez por outra perguntava à filha para onde eles estavam indo. E
ela o respondia que caminhava para o catecismo. E assim, ele recordava o seu
desejo.
Mesmo ele
esquecendo de algumas coisas e como era perto de casa, não foi mais preciso a
Marlene ir deixá-lo até a porta da escola religiosa.
E certo dia,
ao retornar, encontrou uma bolsa cheia de dinheiro. Querendo saber o que tinha
dentro, viu logo que se tratava de dinheiro. Ao chegar em casa entregou-a a
Marlene, que ao ver aquele monte de dinheiro dentro da bolsa, cuidou com
urgência de esconder, temendo que alguém visse. Do velho nem fazia medo, porque
ele tinha o mal de "Alzheimer", jamais lembraria do que havia lhe
entregado.
Acontece que
quando o ancião apanhou a bolsa uma senhora viu, mas não sabia de que se
tratava. E como não tinha nada a ver, deixou que ele levasse consigo aquele
objeto que achara.
Mas não
demorou muito para aparecer o dono da bolsa, um vendedor ambulante, e saiu
perguntando a quem encontrava pelas ruas, se não sabia que alguém tinha achado
uma bolsa assim, assim, assado. E por sorte dele, perguntou a dita mulher que
presenciara quando o velho ancião encontrou a bolsa:
- A senhora
sabe me informar se alguém achou uma bolsa assim, assim...?
- Senhor, eu
não tenho certeza se era uma bolsa, mas um velho que mora ali - dizia ela
pontando com o dedo indicador a casa - naquela casa de cor verde, apanhou um
objeto, e daqui eu vi que parecia uma bolsa...
- Isso foi
quando?
- Ontem,
senhor...!
- Eu a perdi
ontem mesmo.
O vendedor
ambulante a agradeceu e foi direto à casa do velho. Ao chegar, bateu palmas.
Foi recebido pelo velho que estava deitado em uma rede na sala única. E foi
logo perguntando-lhe:
- Falaram-me
que o senhor achou uma bolsa hoje com uma porção de dinheiro?
- Achei -
respondeu-lhe o ancião.
- E cadê a
bolsa?
- Está com a
minha filha Marlene. Eu entreguei a ela ontem. Muito dinheiro.
- A bolsa é
minha. Eu quero falar com a sua filha.
- Ou, Marlene
minha filha, vem cá..., um homem quer falar com você.
E lá se veio a
Marlene para saber o que estava acontecendo lá na sala.
- O que o
senhor deseja? - Perguntou Marlene um pouco assustada.
- É que o seu
pai achou uma bosa ontem..., é minha.
- Papai não
achou bolsa, não senhor! Ele não sabe o que diz, senhor, meu pai é doente de
mal de "Alzheimer"!
- Eu achei
senhor, é que ela não está querendo lhe entregar, mas achei! - Dizia o velho.
- Se ele está
dizendo que achou senhora, é porque ele achou.
- O meu pai
sofre de mal de "Alzheimer" senhor, e não sabe o que diz.
- É mentira
dela. Eu sei muito bem o que estou dizendo. Ela não quer entregar a bolsa com o
dinheiro, agora está dizendo que eu estou doente. Eu achei e sei o que digo
muito bem...
- Para o
senhor ver que ele não sabe o que diz pergunte de onde ele vinha quando achou
esta bolsa que afirma cheia de dinheiro.
- Quando foi
que o senhor achou a bolsa?
- Eu achei
quando eu vinha do catecismo...!
- Está vendo
que meu pai não sabe de nada. Quem faz catecismo é criança, e eu acho que nem
quando ele era criança, fez catecismo.
- Verdade! Já
vi mesmo que ele não achou a minha bolsa.
- Papai sofre
de mal de "Alzheimer", seu moço...!
- Obrigado
dona, e me desculpa a minha audácia...!
- Que nada
senhor! Se ele tivesse achado e se estivesse em minhas mão, eu lhe entregava
agora.
- Adeus, dona!
- Adeus!
E assim que
ele saiu Marlene disse consigo mesmo: "Vai-te embora, seu bestão, o
dinheiro era seu, agora é meu!".
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