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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

BRIGA DE CACHORRO GRANDE


Por Geziel Moura

É notório na literatura do cangaço, a presença de cachorros entre os cangaceiros, e muito já se falou deles, temos portanto, pelo menos, quatro desses animais, registrados pelas lente de Benjamim Abrahão Botto, a saber: Ligeiro e Guarani de Lampião e "Seu Colega" e Jardineira de Corisco.

Não vou entrar no mérito da questão, das funções destes canídeos, diante dos cangaceiros, se eram adestrados ou não para detectarem a presença das volantes, pois não tenho propriedade suficiente, pela literatura, para afirmar tal entendimento, mesmo com a declaração feita pelo ex - cangaceiro José Alves de Matos, o Vinte e Cinco, na entrevista que ele concedeu à Gazeta de Alagoas: "Os cachorros de nome “Seu Colega” e “Guarani” exerciam papel importante, haja vista que, além de serem adestrados para despertar a atenção do grupo quando algum estranho se aproximasse, muitas vezes comiam antes uma parte das comidas que seriam servidas aos cangaceiros para terem a certeza de que não estavam envenenadas".

Diante disso, quero pensar com os amigos, outra situação, vividas pelos cães dos cangaços, e que me chamaram atenção, isto é, as pelejas (brigas) entre eles. Os escritores Hilário Lucetti e Margébio de Lucena, em seu livro "Lampião e o Estado Maior do Cangaço" nos conta do entrevero entre Luiz Pedro e Lampião, por causa de seus cães, o causo é mais ou menos assim:

O bando de Lampião encontrava-se no Estado da Bahia, na região de Curituba e Brejo do Burgo, próximo ao Raso da Catarina, e com eles estavam dois cachorros, o de D. Maria cujo nome era "Zé Rufino" e o de Neném de Luiz Pedro denominado "Mané Henrique", homenagens, nada elegantes, aos seus inimigos e comandantes das volantes baianas.

O que os autores relatam, é que depois de certa refeição, os dois cachorros passaram a disputar um osso, o que levou a briga renhida, sem no entanto, as duas mulheres conseguirem separar os dois animais. Além disso, o episódio tomou proporções de campeonato, entre os cabras que assistiam a tudo e gritavam como num campo de futebol, cada um animando seu atleta preferido.

Após algum tempo, o cachorro "Zé Rufino" de D. Maria leva a pior e começa a ser liquidado por "Mané Henrique" de Nenêm de Luiz Pedro, o que leva a companheira de Virgolino reclamar a ele, que tudo via e nada fazia, ato continuo, Lampião saca a pistola e quando aponta para o cachorro adversário, não teve tempo de executá-lo, pois Luiz Pedro aponta para ele seu mosquetão e anuncia: "Compadre, se atirar no cachorro morre, só lhe considerei até hoje. Já perdi meu pai, minha mãe, não tenho mulher nem filho, sou como um urubu! Mas é como estou dizendo: Se atirá no cachorro morre."

Assim, Lampião vendo que a promessa, do fiel amigo, era séria responde: 'O que é isto meu compadre, você acha pouco os nossos a policia já ter matado e ainda vamos nos acabar por via de uma besteira dessa, para dar mais gosto a eles? Quem está certo é nosso compadre Anjo Roque quando diz que depois que entrou para o bando cachorro e mulher, nada mais deu certo, só dá nisso mesmo" e Lampião desistiu da intenção de matar o cão de Neném de Luiz Pedro.

Se a narrativa acima, produzido por Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena não passa de mais um causo do cangaço, não sei dizer, entretanto, as brigas de cachorros no bando encontram eco, na fala do último coiteiro de Lampião e Corisco que tive a honra de entrevistar, o Sr. Cadim Machado, juntamente com o escritor Sérgio Dantas, no povoado Caboclo (AL) sertão de Alagoas e que nos contou episódio, vivenciado por ele, com o famoso cachorro "Seu Colega" de Corisco, que passo a compartilhar, a partir de sua própria narrativa, que gravei naquele noite barulhenta de 2014.

P.S: Relevem os ruídos/sons externos, produzidos durante a gravação.
Imagens: Benjamin Abrahão Botto
Texto: Geziel Moura

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