*Rangel Alves da Costa
Tenha-se, inicialmente, que o termo anticultura acima utilizado não se refere ao movimento defensor da cultura enquanto expressão combativa, descentralizada e autosustentável, confrontando a cultura vigente em moldes oficiais. E sim como forma de ação contrária à cultura vigente, às manifestações culturais e aos fazeres culturais de um povo. Neste sentido, a anticultura governamental da cultura seria o tratamento desta como algo de menor valor ou mesmo que não mereça qualquer iniciativa para o seu conhecimento e propagação.
Assim, o prefixo “anti” utilizado no termo cultura, logo indica uma oposição à cultura, vez que o elemento mórfico mencionado sempre sugere uma oposição a algo, contra alguma coisa. Neste caso, significa dizer o abandono governamental das políticas culturais. Ou a negação da cultura enquanto política governamental, em todos os níveis e esferas. A verdade é que seja na esfera federal, estadual ou municipal, a cultura nunca foi tão desrespeitada e destratada como agora.
Um espelho da verdade conforme comumente se diz: tanta riqueza inexplorada, ou quando explorada o é de forma ineficiente. A riqueza cultural é indescritível, por todas as regiões e por todos os lugares, as demonstrações do quanto temo nas artes, no artesanato, no bordado, na renda, na arquitetura, na paisagem natural, nas manifestações e tradições trazidas de gerações a gerações. Bumba-meu-boi, cavalhada, pífano, cordel, samba-de-coco, artesanato em madeira e barro, folguedos de todas as espécies.
Contudo, a sua permanência diz respeito quase que unicamente à persistência dos povos, vez que acaso passe a depender de ajuda ou apoio dos governantes, certamente estará fadada ao completo desaparecimento. Os governantes parecem cegar totalmente diante das belezas enraizadas no fazer popular. É como se desprezassem totalmente as raízes semeadas e vingadas pelo mais comum do povo, pelo mais humilde do povo, pela mais popular abnegação. Mesmo sabendo que tudo possui retorno garantido, pois também geração de emprego e renda, ainda assim é um deixa pra lá vergonhoso.
Na esfera federal, por mais que se propague a existência de um Ministério da Cultura, sua valia de nada é contundente. Não há ações culturais, não há valorização do fazer cultural, não há apoio ou patrocínio para absolutamente nada. A não ser para quem não precisa, que são os grandes artistas ou aqueles escolhidos pelas ideologias partidárias. Ademais, é como se a pasta vivesse constantemente de cofres vazios, pois não há um só pleito que seja atendido, e tudo barrando nas respostas impressas de contenção de despesas. Despesas de que, se não há nenhuma ação de apoio e valorização da cultura?
Na esfera estadual, o mesmo desrespeito à cultura. Em Sergipe, a Secretaria de Cultura existente (com os seus editais burocráticos e inalcançáveis) parece servir somente como cabide de emprego e de espreguiçadeira para velhos conhecidos do meio. Não há um só pleito que seja atendido, não há um só pedido que seja viabilizado. E novamente esbarra na falta de recursos, na contenção de despesas, na difícil situação financeira vivida pelo estado. Então por que não acaba de vez com a secretaria e os salários pagos a quem nada faz passam a servir para alguma coisa?
Por sua vez, nada diferente na esfera municipal. Ou talvez ainda pior, principalmente pelo fato da abrangência muito menor da ação e da costumeira omissão das administrações em relação à história, à cultura, às tradições, ao que está gestado nos municípios ou é produzido pela sua população. Certamente que alguns destes municípios possuem secretarias especializadas e fazem – ou tentam fazer – algum trabalho. Contudo, as ações culturais exigem tamanho compromisso para serem preservadas que poucos resultados acabam sendo produzidos.
Existe caso que secretarias de cultura e turismo são criadas – ou conjuntamente - e depois se tornam letras mortas, pois não são indicados secretários nem ações começam a ser desenvolvidas. Por que assim? Logo surge a indagação. Somente o gestor municipal poderá responder. Mas se torna verdadeiramente absurdo pelo fato de não se tratar de localidade que não mereça muito esforço de trabalho e divulgação. Pelo contrário, uma municipalidade riquíssima em manifestações culturais, em riquezas históricas e geográficas, mas que parece de nenhuma importância aos olhos do gestor. E o problema é que tal situação vem sendo repassada de prefeito a prefeito.
Há verbas suficientes sim. Há retorno garantido sim. O investimento em cultura, turismo e história, distante de ser um processo de risco, é política primordial tanto para a preservação do passado, do presente e de resguardo do futuro. Torna-se política mais imprescindível ainda que se observa os exemplos já gestados: onde há preservação histórica e cultural, haverá geração de emprego e renda através do turismo. Só falta mesmo olhos que vejam e ações práticas para tornar em realidade o que está ao alcance de todos.
Escritor
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