Tranquilamente,
sentado em um tamborete com seu rifle no colo, olhos atentos, em frente ao
medico, Lampião é entrevistado, alguns cangaceiros ao seu redor, atentos,
Lampião foi perguntado e respondeu:
Qual o seu
nome de origem?
– “Chamo-me Virgulino Ferreira da Silva e pertenço a humilde família Ferreira, Riacho de São Domingos, município de Vila Bella. Em Água Branca foi meu pai, José Ferreira, barbaramente assassinado pela polícia, no ano de 1921. Não confiando na ação da justiça pública porque os assassinos contavam com a escandalosa proteção dos grandes, resolvi fazer justiça por minha conta própria, isto é, vingar a morte do meu progenitor.”
Que idade tem?
– “Vinte e oito anos.”
Seu nome já é
conhecido em todo o Brasil, mas por onde mesmo você tem andado no Nordeste e
como enfrenta os policiais destes estados?
– “Tenho percorrido os sertões de Pernambuco, Paraíba e Alagoas e uma pequena parte do Ceará. Com as policias destes estados tenho entrado em vários combates. A de Pernambuco é uma polícia disciplinada e valente que muito cuidado me tem dado; a da Paraíba, porém, é uma polícia covarde e insolente. Atualmente existe um contingente da força pernambucana de Nazaré que está praticando as maiores violências, mais parecendo à força pernambucana.”
Seu grupo
recebe proteção de muita gente?
– “Não tenho tido propriamente protetores…de todos os meus protetores só um me traiu miseravelmente. Foi o Coronel José Pereira de Lima (Zé Pereira), chefe político de Princesa ( Princesa Isabel – Paraíba), homem perverso, falso e desonesto, a quem durante anos servi, prestando os mais vantajosos serviços de minha profissão.”
No caso de
insucesso com a polícia, quem o substituirá como chefe do bando?
– “Meu irmão Antonio Ferreira ou Sabino Gomes.”
Dizem que você
está rico. Até onde isto é verdade?
– “Tudo quanto tenho – convenho conseguido na minha vida de bandoleiro do mal tem chegado para as vultosas despesas do meu pessoal – aquisições de armas e munições – convido notar que muito tenho gasto com distribuição de esmolas aos necessitados.”
Ao longo de
sua vida nas armas e quantos combates já esteve envolvido e quantas pessoas
foram mortas em batalha?
– “Não posso dizer ao certo o número de combates em que já tive envolvido. Calculo, porém, que já tomei parte em mais de duzentos. Também não posso informar com segurança o número de vítimas que tombaram sob a pontaria adestrada e certeira do meu rifle. Entretanto, lembro-me perfeitamente, de que além de civis, já matei três oficiais de polícia, sendo um de Pernambuco e dois da Paraíba. Sargentos, cabos e soldados era-me impossível guardar na memória os que foram levados para o outro mundo.”
Você sabe de
tudo que acontece dos movimentos da polícia, de planos para lhe capturar?
– “Tenho também um excelente serviço de espionagem, dispendioso, embora utilíssimo.”
É comum
dizerem que os cangaceiros, por onde passam deixam um rastro de sangue. Como é
o seu comportamento?
– “Tenho cometido violências e depredações vingando-me dos que me perseguem e em represálias a inimigos. Costumo, porém, respeitar as famílias humildes que sejam, e quando sucede algum do meu grupo desrespeitar uma mulher, castigo severamente.”
Como anda a
sua saúde, se sofre tantos ferimentos?
– “Já recebi quatro ferimentos graves. Dentre esses, uma na cabeça, do qual só por milagre escapei. Os meus companheiros também; vários deles têm sido feridos. Possuímos, porém, no nosso grupo, pessoas habilitadas para tratar dos feridos, de modo que sempre somos convenientemente tratados. Por isso estou forte e perfeitamente sadio, sofrendo raramente, ligeiros ataques reumáticos.”
O que imagina
do futuro dentro do cangaço?
– “Estou me dando bem no cangaço e não pretendo abandoná-lo. Não sei se vou passar a vida toda nele. Preciso trabalhar ainda uns três anos. Tenho que visitar alguns amigos, o que ainda não fiz por falta de oportunidade. Depois talvez me torne comerciante.”
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