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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

LUIZ RODRIGUES DE SIQUEIRA, O CANGACEIRO “LUIZ PEDRO”


Muitos dos nomes das pessoas nesse sertão de meu Deus são apelidados por sua descendência. Por aqui, ainda hoje, se conhece alguém, quando citado após o nome, de quem a pessoa é filho (a)., como por exemplo Rona ou Rosa de Marote, Beto de Pajé, Júnior de Beto... E assim sucessivamente. Naquele tempo, no tempo do cangaço, também era assim.

Havia uma família, tendo seu Patriarca de nome Pedro Alexandrino de Siqueira que morava no sítio Retiro, no município de Triunfo, PE. “Siqueira”, sobrenome de uma família numerosa, que se estendeu por inúmeras regiões e municípios do Estado de Pernambuco, e não só pela região do sertão, como citam alguns autores, tendo, no decorrer dos anos, pessoas nas várias classes sociais da sociedade. De desconhecidos catingueiros aqueles que galgaram as mais altas patentes na hierarquia militar, integrantes da mais alta sociedade pernambucana, exercendo cargos políticos de vereadores a governador do Estado.

Pois bem, Pedro Vermelho, apelido de Pedro Alexandrino de Siqueira, casa-se duas vezes. No primeiro matrimônio nasceram, José Alexandrino de Siqueira e Júlia Rodrigues de Siqueira. No segundo casamento, tendo como esposa a senhora Rufina Maria de Jesus (ou Conceição), foram pais de dezoito filhos, dentre eles, para ser mais exato, o décimo filho, chamava-se Luiz Rodrigues de Siqueira, futuro cangaceiro “Luiz Pedro”. Alguns autores citam sendo o nome de Luiz Pedro como ‘Luiz Pedro Cordeiro’, o que não é verdade.


“(...) Dona Isaura, sobrinha do cangaceiro Luiz Pedro, me falou que mesmo sua família sendo conhecida como a família Pedro não se assinavam com esse sobrenome (...). Elvira Francisca da Conceição (irmã de Luiz Pedro), era casada com Joaquim Cordeiro da Costa (...)”. (“A MAIOR BATALHA DE LAMPIÃO” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. Paulo Afonso, 2017).

Luiz Pedro, como todo jovem, gostava de fazer suas brincadeiras da época, ir para as festanças, forrozear, namorar e sonhar em viver com sua amada em um cantinho. O destino fez com que ele se apaixonasse por uma moça bonita, meiga, mas, de uma classe social acima da sua. Ela, jovem e bela, filha de um cidadão rico na cidade de Triunfo, PE, também se apaixona pelo jovem bonito, loiro, alto, de olhos azuis e de muita coragem. O pai da donzela não permite que Luiz namore sua filha por ele ser pobre. Mesmo assim, Luiz Pedro insiste em procurá-la e ela o aceita e, de quando em vez, foi não foi, o pai da moça a pega namorando ele.

“(...) O pai não queria o namoro porque dizia que Luiz era pobre. Por mais de uma vez disse o pai a Luiz que não queria que ele namorasse sua filha, mas noutro dia estava Luiz sentado na calçada do homem namorando, como se nada tivesse ouvido (...).” (“A MAIOR BATALHA DE LAMPIÃO” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. Paulo Afonso, 2017).


Vendo que não tinha jeito, não havia como separá-los, o pai da moça bola um plano para resolver aquela questão. Inventa uma mentira desgraçada, dizendo que fora roubado e quem era o ladrão era Luiz Pedro. Chega a dar parte do rapaz. O delegado da cidade de Triunfo vai à procura do jovem do sítio Retiro e lhe dar a maior prensa, porém, nada é comprovado, ou provado. Mesmo assim, as pessoas põem em dúvida a honestidade do rapaz e ele fica com muita raiva daquele senhor, a ponto de querer matá-lo, no entanto, é aconselhado por seus familiares para não o fazer.

Desesperado, louco da vida, envergonhado, com raiva saindo por tudo que é canto, o jovem toma uma decisão desastrosa, a de entrar para o cangaço. Entra e começa a fazer parte do bando de Lampião, passando a ter como companheiros os irmãos Ferreira, Sabino Gomes e tantos outros tarimbados cangaceiros.

Luiz Pedro começa a destacar-se entre os companheiros do bando e ganhar a confiança de todos. A cabroeira gostando dele, insiste em lhes diga o porquê de tanta tristeza. Ele conta sua história. Eles então resolvem ajudar o rapaz a vingar-se daquela mentira que o pai de sua amada inventara.

Sabino Gomes, com parte do bando, entra na cidade de Triunfo, cerca e invade o comércio do senhor Antônio de Campos. Isso chama a atenção da Força Policial que guarnecia a cidade e todos vão dar combate aos cangaceiros, no intuito de proteger o comerciante. Luiz Pedro, estando sem ter quem o impeça, cerca a casa do pai de sua amada, invade a casa e o pega ainda deitado. Meio atarentado, o homem, no começo, não sabe do que se trate direito, porém, de repente, reconhece Luiz Pedro, e então percebe que está nas mãos daquele que ele inventou uma mentira, acusando-o de ser ladrão.


“(...) Enquanto Sabino Gomes chamava a atenção da polícia invadindo a bodega do senhor Antônio de Campos, Luiz Pedro cercava a casa da ex-namorada; pegou o ex-sogro ainda deitado e quando o velho percebeu estava nas mãos do homem que ele tinha acusado como ladrão (...).” (Ob. Ct.)

Choromingando muito, o velho ver seu destino selado na lâmina de um punhal ou no cano de uma das armas de fogo que aquele rapaz tinha em posse.

Luiz Pedro, pegando-o, diz:

“- Hoje você vai morrer pra nunca mais chamar homem de ladrão!" (Ob. Ct.)

O amor faz coisas que ninguém imagina. A paixão dos dois jovens termina por fazer que ocorra na entrada de um deles nas trilhas do cangaço. No entanto, veja o quanto o amor verdadeiro é forte. E entre aqueles dois sertanejos, o amor existiu simplesmente.

Luiz Rodrigues de Siqueira, o cangaceiro “Luiz  Pdro” - pelas teclas coloridas do 'mago dos pincéis' Rubens Antonio.

No momento em que Luiz Pedro prepara-se para matar o homem, sua amada aparece. Corre e abraça-se com ele. Sem olhar em seus olhos, pede pela vida do pai. Afastando-se um pouco, encara seu amado e diz amá-lo e que caíra na vida cangaceira junto com ele, basta ele querer.

“ – Luiz, eu lhe amo, vou mais você para onde você quiser, mas vou lhe fazer um pedido: Não mate meu pai não o que vai ser de minha mãe e de mim? Como vou me sentir vendo o homem que eu amo matando meu pai? Poupe a vida dele e vamos embora, vou viver com você!” (Ob. Ct.)

Cabeças dos cangaceiros mortos na Grota do Riacho 'Angico', na Fazenda Forquilha, em Poço Redondo, SE.

É nessas horas que não tenha valente que não esmoreça. Quando se ama alguém, não se quer que nada de ruim aconteça com aquela pessoa amada, ou que algo a faça sofrer. E naquele momento, mesmo sua honra tendo que ser lavado com sangue, o jovem cangaceiro pára, sentindo o calor do corpo da amada, seu perfume entrando pelas narinas e seu hálito quente a soprar seu rosto, lhe diz:

“ – Não posso levar uma moça como você para uma vida tão difícil, gosto demais de você para desgraçar a sua vida, de desgraçada já basta a minha!” (Ob. Ct.)

Toma uma decisão correta. E mais uma vez, resolve diferente daquilo que tinha planejado. Encara o pai da moça de frente, com dureza em sua voz, lhe diz:

“ – Agradeça todo dia a sua filha, hoje você ia morrer e ia ser sofrendo, mas por ela vou lhe dispensar!” (Ob. Ct.)

Vira-se para a jovem que treme feito vara verde, abraça-a, dar-lhe um beijo e se despede dela:

“- Vá viver sua vida, por que eu sou cangaceiro e não posso mais mudar isso!” (ob. Ct.)

O destino aproximou os jovens, mas, a ganância, o preconceito e o despreparo dos homens, impediram a realização de uma bela união. Como essa outras adesões foram feitas ao cangaço por jovens inexperientes, sofridos e vítimas de acusações falsas, além daquelas que a única saída como sobrevivência, infelizmente, era a trilha sangrenta do cangaço. Antes de julgarmos os cangaceiros, devemos analisar as causas que o fizerem em tal bandido, analisando-as primeiramente, julgando-as em primeiro plano, pois ninguém nasce bandido, torna-se, ou fazem com que se torne.

O futuro de Luiz Rodrigues de Siqueira, o cangaceiro “Luiz Pedro”, todos sabemos. A jovem jamais namorou outro, morrendo solteira, submersa em suas lembranças, com seu sofrimento e ilusões... Na solidão das noites frias da serra de onde fica a bela cidade de Triunfo.

Fonte “A MAIOR BATALHA DE LAMPIÃO” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira (Louro Teles). Paulo Afonso, 2017
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
PS// FOTOGRAFIA DO CANGACEIRO LUIZ PEDRO COLORIZADA, DIGITALMENTE, PELO AMIGO Rubens Antonio

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