*Rangel Alves da Costa
De vez em quando me perguntam por que eu tanto gosto de visitar pessoas idosas e humildes da cidade onde nasci. E eu sempre respondo: “Agrada-me o semblante daquele que me recebe com espanto bom”.
O que isso significa? Pois bem, significa que quanto mais humildes são as pessoas, mais empobrecidas e idosas são as pessoas, mais elas gostam de ser visitadas. E em cada visita um reconhecimento de sua valia na vida.
Pessoas existem que a partir de determinados momentos da vida passam a viver como esquecidas. Quando a idade vai avançando e passam a viver mais reclusas, então é como se se tornassem esquecidas pela sociedade, até mesmo pela mesma família.
Outras, simplesmente pela precariedade dos meios de sobrevivência. A pobreza acaba afastando conhecidos e também familiares em melhores condições financeiras. Tais pessoas, apenas pelo simples fato de serem pobres, tornam-se negligenciadas pelos demais.
Quando a idade avança e a pobreza se torna gritante, então ainda surgem fatores como o abandono, o distanciamento e o esquecimento. É como se tais pessoas sequer existissem para a sociedade. É como tanto faz que ali ou acolá continuem existindo vidas humanas.
Mas não só pela pobreza, vez que tornou-se da normalidade que aquelas pessoas que já não mais convivem no meio social, não são mais ativas como noutros idos ou que já não tenham o status de antes, igualmente passem a ser menosprezadas nas suas existências.
Pessoas com tais perfis se tornam, como dito, propensas ao esquecimento dos demais. E se isso acontece até com amigos, conhecidos e familiares, que se imagine com relação aos mais jovens, que não se importam sequer consigo mesmos.
Solitárias, sempre da porta pra dentro ou na calçada de casa, quando muito recebe um bom dia ou um boa tarde de qualquer passante. E quanto mais o tempo passa mais tal situação se agrava, até chegar ao esquecimento total.
São tais pessoas que eu gosto de visitar. São tais pessoas que jamais saem do pensamento. São tais pessoas que merecem o meu passo, a minha busca, a minha palavra. E quando bato a porta: “Agrada-me o semblante daquele que me recebe com espanto bom”.
Toda vez que chego numa casa, mais próxima ou mesmo distante – e até mesmo no meio do mato ou nos beirais das estradas matutas -, sinto que a surpresa feita causa um espanto bom. Como se o visitado não estivesse acreditando naquela visita.
Chegar, cumprimentar, dar uma palavra amiga e de recordação, dizer que está ali não por acaso, mas por uma visita desde muito pensada, tudo isso provoca uma sensação indescritível aquele que geralmente tem a solidão como companhia. E que coisa boa ao espírito, à alma, à autoestima.
É como se dissesse por dentro, na voz interior, que jamais esperava que alguém se lembrasse de sua existência e ali estivesse para um proseado, para um relembrar causos e fatos passados, reabrindo velhos livros e antigos baús. O coração pulsa mais forte, os olhos chegam a brilhar.
E sempre digo que em tais pessoas sempre é possível encontrar tesouros de sabedoria. É a experiência de vida que as transforma em sábias. É na junção da escrita do passado que é possível avistar aquilo tão ricamente existente e que não existente mais perante o mundo novo. Tudo isso é imensamente enriquecedor.
Por isso que não me canso de visitar conterrâneos nos seus casebres, atrás das portas, nas suas calçadas. Chego como amigo e sempre saiu como um discípulo que muito aprendeu naquele breve diálogo. E sempre prometo que voltarei. E sempre volto.
Escritor
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