Seguidores

sexta-feira, 1 de março de 2019

CORONEL JOÃO MARIA DE CARVALHO E A FAMÍLIA “CEARÁ”

Por Rangel Alves da Costa

Conforme já afirmado noutros escritos, o Coronel João Maria de Carvalho, voz maior de poder e de mando nas paragens da baiana Serra Negra, jamais se contentou em expressar sua força apenas nos limites de seu berço de nascimento, por fora e por dentro das porteiras e cancelas de seus latifúndios ou nas povoações vizinhas aos seus feudos. Do mesmo modo, não se limitou a ser dono de fazendas e rebanhos ou a comandar o mundo ao redor a partir dos sombreados de sua varanda. Foi muito mais além e agiu, de forma forte e impositiva, na vida política, econômica e social, até mesmo em outros estados, principalmente Sergipe e Alagoas.


Nas Alagoas, o mandachuva baiano mantinha fortes ligações com o também coronel Elísio Maia, dentre outras forças de poder. Mas foi em Sergipe onde atuou de forma decisiva. Não seria errôneo afirmar que João Maria possuiu mais influência e agiu com maior firmeza na vida política e social de Sergipe do que mesmo no seu estado. Os detalhes destas ações ainda não foram totalmente revelados, mas se tem como certeza o seu olhar mirando principalmente em direção a Canindé, Poço Redondo, Nossa Senhora da Glória e Ribeirópolis. Nesta, no antigo Saco do Ribeiro, o filho de Pedro Alexandre foi amado e odiado, desejado e temido, chamado e evitado. 

O motivo maior dessa ligação com Ribeirópolis estava em Dona Flora Santos, sua esposa, e esta integrante de uma família conhecida como “Ceará”. A família Ceará (assim conhecida pelo fato de denominar pessoas vindas do Ceará fugindo das secas) chegou à região agreste sergipana pelos idos de 1877, assentando-se primeiro no arruado conhecido por Cruz do Cavalcante (atual Cruz das Graças, município de Nossa Senhora Aparecida). Com o correr dos anos, os “Ceará”, já organizados como clã representado pela família Santos, passaram a ter forte influência econômica e política na região, chegando até Ribeirópolis.

A família Ceará se tornou de prole numerosa. Segundo José Gilson dos Santos em seu livro “Saco do Ribeiro (Ribeirópolis): Pedaços de sua História”, das raízes chegadas ao agreste sergipano, faziam parte da família Francisco Felipe dos Santos (Chico Ceará), seus filhos casados Antônio Felipe dos Santos e Andrelino Felipe dos Santos, e mais outros menores, incluindo José Felipe dos Santos (José de Ceará), bem como filhas solteiras e sobrinhos. Depois de casado com Maria das Graças, da prole de José de Ceará nasceram Guiomar Santos, Manoel Perciliano Santos, Jovelina Santos, Ana Santos, Fenelon Franscisco Santos, Flora Santos, José Francisco Filho, Adolfo Francisco Santos, Dalva Santos, Baltazar Francisco dos Santos, Florival Francisco Santos e Jaci Santos.

Pois bem. Esta Flora Santos, da família Ceará, mais tarde se tornaria esposa de João Maria de Carvalho da Serra Negra. Contraindo matrimônio com uma integrante da segunda geração dos Ceará, então o moço da Serra Negra logo estreitou seus vínculos com Sergipe e também com Ribeirópolis, vez que a família de sua esposa depois dos anos 30, e após investidas dos cangaceiros na região, passou a fixar residência nesta povoação. 

Anos depois, já em 1955, quando a família Ceará foi acusada - por desavenças políticas - de planejar e mandar executar o recém-empossado prefeito de Ribeirópolis, o udenista Josué Modesto dos Passos, logo integrantes desta família, já antevendo as cruéis perseguições que se dariam daí em diante - e de fato perpetradas sob as ordens do governo Leandro Maciel (inimigo declarado dos “Ceará” desde as eleições ocorridas em 50) - procuraram refúgio e proteção junto João Maria de Carvalho, na Serra Negra. 

Conforme afirma o já referido José Gilson dos Santos: “Quem não foi preso ou se apresentou, teve como única alternativa procurar refúgio no então Povoado Serra Negra, município de Jeremoabo, estado da Bahia, onde residia João Maria de Carvalho, casado com uma integrante da família ‘Ceará’”. (p. 65). Dona Flora Santos, pois, dessa linhagem familiar. E em busca de tal refúgio seguiu, dentre outros, o seu cunhado Baltazar Santos, ex-prefeito e futuro deputado estadual. 

Indignado com a proteção dada por João Maria aos “Ceará”, o governador Leandro Maciel até recorreu a Antônio Balbino, igualmente governador da Bahia. O governante sergipano não apenas queria alcançar os “Ceará” como também fraquejar o poderio de João Maria, já seu inimigo declarado. Foi então que o General Liberato de Carvalho, irmão deste e com grande influência na política baiana, tomou frente e mandou transferir todos os perseguidos para uma propriedade sua, como se dissesse que aqui ninguém bota a mão. E assim de fato ocorreu. Não demorou muito e todos retornaram às propriedades de João Maria.

Na proteção de seus cunhados, eis que com a certeza de suas inocências perante os episódios ocorridos em Ribeirópolis, João Maria teve que revidar duas investidas de “contratados” sergipanos contra Serra Negra. Também fora acusado de planejar um ataque à sede de Frei Paulo, município sergipano, para resgatar os demais integrantes da família Ceará que estavam presos e seriam submetidos a júri popular nesta comarca. Mas nada se confirmou, a não ser o temor constante causado pela força e o poder do filho de Pedro Alexandre. E ele, todo imponente, se fez presente no dia marcado para o júri não acontecido pela ausência dos jurados (logicamente por medo). Assim confirma, à pág. 79, José Gilson dos Santos:

“O velho João Maria de Carvalho também apareceu nesse dia, mas acompanhado do Capitão José Rufino, da Polícia da Bahia, famoso por sua atuação destacada na luta contra Lampião, tendo ambos circulado livremente pela cidade, sem qualquer incidente, embora o velho tenha trazido da Serra Negra alguns homens de sua confiança que ficaram o tempo todo confinados em um hotel sem ser molestados”.

Eis, assim, a presença sempre firme e inconteste de João Maria de Carvalho perante outros mundos e situações políticas e familiares que não somente as pertencentes a sua Serra Negra.



http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário