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sábado, 6 de julho de 2019

PAVILHÃO DO MUSEU DO SERTÃO SOBRE AS ATIVIDADES PROFISSIONAIS

Por Benedito Vasconcelos Mendes - (Continuação)

JANGADEIRO

Além do cangaceiro, do jagunço e do vaqueiro, na Civilização da Seca, um outro tipo humano que se destacava pela habilidade e coragem era o jangadeiro. Em 1941, os jangadeiros Jacaré (Manoel Olímpio Meira, 1903-1942), Tatá (Raimundo Correia Lima), Mané Preto (Manoel Pereira da Silva) e Mestre Jerônimo (Jerônimo André de Souza) navegaram em uma tosca e frágil jangada de seis paus roliços de piúba, de Fortaleza ao Rio de Janeiro, para se encontrar com o então Presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954) e denunciar os problemas que os pescadores cearenses estavam passando. Viajaram quase três mil quilômetros, do Porto do Mucuripe à Baía de Guanabara, durante 61 dias, na famosa jangada São Pedro, sem nenhum instrumento de orientação e segurança, pois não levavam bússola, cartas náuticas, rádio, GPS ou qualquer outro equipamento de comunicação e navegação. Eles se orientavam em alto mar, somente pelo brilho das estrelas, durante a noite, enfrentando o perigo dos temporais, das calmarias e dos tubarões. A jangada não possui abrigo contra chuva, sol, vento ou frio. Move-se pela força dos ventos na vela triangular, feita de tecido de algodão. O Rio de Janeiro ficou em festa no dia 15 de novembro de 1941, para receber e homenagear a coragem e a perícia dos quatro destemidos jangadeiros, os quais foram recebidos pelo Presidente Vargas, pela imprensa e pelo povo. A saga dos pescadores cearenses ficou conhecida como “Jornada da Jangada São Pedro”.

Um outro jangadeiro que se notabilizou pela sua coragem e liderança foi o grande abolicionista Dragão do Mar (Francisco José do Nascimento, 1839-1914). Dragão do Mar nasceu na Vila de Canoa Quebrada, município de Aracati-CE. Em 1881, ele liderou os jangadeiros do Porto do Mucuripe, em Fortaleza, para não mais embarcar escravos por aquele Porto. Naquela época, o Porto do Mucuripe era muito precário e os navios não conseguiam ancorar na praia, soltando suas âncoras ao largo, que exigia que os passageiros e as cargas fossem transportados até o navio por jangadas. Um outro fato importante foi a proibição do tráfico de escravo em 1850, pela Lei Eusébio de Sousa. As fazendas de café e de cana-de-açúcar de São Paulo e do Rio de Janeiro, não podendo mais mportar escravos da África, vinham comprar negros escravos no Ceará, para levá-los para o Sudeste brasileiro. Em 1881, esta decisão dos jangadeiros cearenses (greve para não embarcar escravos) contribuiu para fortificar o movimento abolicionista, pois a libertação dos escravos no Estado do Ceará ocorreu no dia primeiro de janeiro de 1883, na vila do Acarape, atual município de Redenção, cinco anos antes da abolição dos escravos no Brasil. Isto fez com que o Ceará ganhasse o cognome de Terra da Luz, dado pelo abolicionista José do Patrocínio.

Enviado pelo autor.

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