Por Benedito Vasconcelos Mendes - (Continuação)
JANGADEIRO
Além do
cangaceiro, do jagunço e do vaqueiro, na Civilização da Seca, um outro tipo humano que se
destacava pela habilidade e coragem era o jangadeiro. Em 1941, os jangadeiros Jacaré (Manoel
Olímpio Meira, 1903-1942), Tatá (Raimundo Correia Lima), Mané Preto (Manoel Pereira da
Silva) e Mestre Jerônimo (Jerônimo André de Souza) navegaram em uma tosca e
frágil jangada de
seis paus roliços de piúba, de Fortaleza ao Rio de Janeiro, para se encontrar
com o então Presidente da
República, Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954) e denunciar os problemas que os pescadores
cearenses estavam passando. Viajaram quase três mil quilômetros, do Porto do Mucuripe à
Baía de Guanabara, durante 61 dias, na famosa jangada São Pedro, sem nenhum instrumento de
orientação e segurança, pois não levavam bússola, cartas náuticas, rádio, GPS
ou qualquer outro
equipamento de comunicação e navegação. Eles se orientavam em alto mar, somente pelo brilho
das estrelas, durante a noite, enfrentando o perigo dos temporais, das
calmarias e dos tubarões. A
jangada não possui abrigo contra chuva, sol, vento ou frio. Move-se pela força
dos ventos na vela
triangular, feita de tecido de algodão. O Rio de Janeiro ficou em festa no dia
15 de novembro de
1941, para receber e homenagear a coragem e a perícia dos quatro destemidos jangadeiros,
os quais foram recebidos pelo Presidente Vargas, pela imprensa e pelo povo. A
saga dos pescadores
cearenses ficou conhecida como “Jornada da Jangada São Pedro”.
Um outro
jangadeiro que se notabilizou pela sua coragem e liderança foi o grande abolicionista
Dragão do Mar (Francisco José do Nascimento, 1839-1914). Dragão do Mar nasceu
na Vila de Canoa
Quebrada, município de Aracati-CE. Em 1881, ele liderou os jangadeiros do Porto
do Mucuripe, em
Fortaleza, para não mais embarcar escravos por aquele Porto. Naquela época, o
Porto do Mucuripe
era muito precário e os navios não conseguiam ancorar na praia, soltando suas
âncoras ao largo, que
exigia que os passageiros e as cargas fossem transportados até o navio por
jangadas. Um outro fato
importante foi a proibição do tráfico de escravo em 1850, pela Lei Eusébio de
Sousa. As fazendas de
café e de cana-de-açúcar de São Paulo e do Rio de Janeiro, não podendo mais mportar
escravos da África, vinham comprar negros escravos no Ceará, para levá-los para
o Sudeste
brasileiro. Em 1881, esta decisão dos jangadeiros cearenses (greve para não
embarcar escravos)
contribuiu para fortificar o movimento abolicionista, pois a libertação dos
escravos no Estado do
Ceará ocorreu no dia primeiro de janeiro de 1883, na vila do Acarape, atual
município de Redenção,
cinco anos antes da abolição dos escravos no Brasil. Isto fez com que o Ceará
ganhasse o cognome de
Terra da Luz, dado pelo abolicionista José do Patrocínio.
Enviado pelo autor.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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