*Rangel Alves da Costa
Ou a cegueira ou insensibilidade para não se encantar com os retratos que o sertão oferece. É bonito, é lindo demais!
Ou a indiferença ou a apatia para que os olhos não brilhem e o coração não se alegre perante os adornos sertanejos que se espalham por todo lugar. É belo, é cativante demais!
No sertão, creia seu moço, tudo é lindo, tudo é belo, tudo é poético, tudo é maravilhoso. E mais, e muito mais!
Ao caminhar pelas estradas de chão, basta olhar mais abaixo, nos beirais do caminho, para avistar a flor e o fruto da jurubeba.
Quem não despertará sentimentos diante daquelas cores amareladas, alaranjadas, avermelhadas? Olhares, admirações, contemplações. Poesia...
Pela mesma estrada, já no sombreado da noite ou logo ao primeiro alvorecer, possível será encontrar a flor do mandacaru ainda em pleno viver.
Infelizmente, como numa metáfora da vida humana, dura apenas um passar de horas a bela flor do mandacaru. Nasce e logo morre a bela flor do mandacaru.
Nasce a mais bela flor e começa a definhar logo à luz da manhã. O fruto vermelho-vinhático do mandacaru igualmente oferece uma encantadora visão.
E logo há de se indagar: por que um fruto tão belo e tão vivo nascido na magrez do cacto e ao lado de espinhos pontudos e vorazes?
E passa uma avoante. Um pássaro tem-tem anuncia a chegada de alguém naquelas distâncias matutas. Uma rolinha fago-pagô procura seu ninho. Estará bem ali!
Um pássaro quero-quero diz do seu desejo de um sertão chuvoso e com fartura. Nas folhagens esvoaçando, a dita do tempo se virá chuva ou não. O sertanejo conhece tudo isso.
Os pios de vez em quando surgem nos escondidos dos ninhos nas catingueiras. O calango sobre na pedra quente e começa a balançar a cabeça. Acredita, não acredita...
Uma pedra no meio do tempo, tão velha como a própria história, repousa paciente debaixo do sol. E chama todo andante a um proseado:
“Parece tudo calado, sem presença e sem voz, mas nunca há mudez no sertão. Farfalha o que resta de folhagem na mata, cantarola o passarinho ainda existe, a mãe-da-lua passa agourando, carcarás e urubus passam em rasantes em busca de bezerro caído. E eu, apenas uma pedra nem sempre avistada, vivendo para testemunhar o quanto há nestas vastidões sertanejas”.
Há, sim, beleza - e também tristeza - por todo lugar. A cabeça-de-frade, tão terra e tão chão sertanejo, ainda assim maravilha o olhar mais sensível.
A casa velha e abandonada faz a memória rebuscar o passado e o viver de um povo. Ouve-se um mugido. Não, não há gado ali, e então por que aquela voz entristecida de curral?
Ora, o curral vazio está ali, a porteira silenciosa também, e igualmente o mugido distante que ainda ecoa pelos carrascais.
E depois que o sol vai se cansando de tanto queimar, então seu candeeiro vai se apagando em lentidão que é só poesia. Tudo lentamente.
No alto, nos horizontes, o amarelado avermelhando entre as nuvens até a última faísca se apagar. Mas não demora muito e outro luzir ressurge.
A lua chega tão bela e grandiosa como todo luar sertanejo. E por tudo isso agradecer a Deus pelo sertão e por tudo que sobre seu solo sagrado existe, como um manto de sublime beleza, como um véu que clama para ser descortinado do olhar.
E amado. E amado.
Escritor
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