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quarta-feira, 7 de agosto de 2019

O SAUDOSO COMBATENTE AO BANDITISMO RURAL TENENTE JOÃO GOMES DE LIRA


Por Sálvio Siqueira

A história cangaceira foi vivida por várias personagens. Dentre estas tivemos aquelas que praticaram o crime, aquelas que formaram frente contra aos criminosos, aquelas que serviam de colaboradores para um e outro lado e as pobres e inocentes vítimas.

Destaca-se bastante a narração literária e oral, principalmente no cangaço implantado por Virgolino (Ferreira), o chefe cangaceiro alcunhado de Lampião, o famoso “Rei dos Cangaceiros”, quanto às peripécias realizadas pelo próprio e por seus ‘meninos’, esquecendo em parte, ou às vezes em um todo, de darem as devidas atenções, o devido valor histórico merecido àqueles que enfrentaram de peito aberto dentro da Mata Branca os bandos e, consequentemente, as inocentes vítimas. Vítimas não só das ações cruéis dos cangaceiros, mas, também das atrocidades terríveis causadas por alguns comandantes e/ou membros das volantes em todos os Estados nordestinos por onde se propagou o fenômeno social.

Saibamos um pouco mais quem foi o nazareno tenente João Gomes de Lira:

“(...) Nesta semana, é a vez de João Gomes de Lira, ex-soldado volante nazareno que combateu o cangaceirismo e o banditismo no sertão.

Filho de Antônio Gomes Jurubeba e Luciana Maria da Conceição, este pernambucano nasceu em 13 de julho de 1913 na Fazenda Jenipapo, distrito de Nazaré do Pico, município de Floresta, no Estado de Pernambuco.

Ingressou na Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) em 16 de julho de 1931 e, aos 17 anos, integrou a força volante que tinha como comandante o coronel Manoel de Souza Neto, que perseguia Virgulino Ferreira da Silva, o temido Lampião, e seus irmãos Antônio e Livino. Na época, seu alistamento foi uma necessidade, pois a região de Floresta estava sendo ameaça pelo bando do Rei do Cangaço, que Lira conheceu antes de virar policial.

Assim que se alistou, o comandante geral da PMPE, Roberto Pessoa, indicou o cabo Lira e os dois soldados Manoel Heráclito da Silva e Francisco Wilson Dourado para acompanharem o então juiz de Direito da Comarca de Inajá, Pedro Malta, que era jurado de morte, para fazer os registros dos candidatos a prefeito e vereadores daquela localidade e permanecer para a eleição e apuração naquela região.

Lira não fez parte do grupo de policiais que matou Lampião, em 28 de julho de 1938, na Grota de Angicos, em Poço Redondo, em Sergipe, porém, participou de confrontos com o temido cangaceiro.

Ao longo da carreira na PMPE, mesmo com pouco estudo, passou pela hierarquia militar, se destacando como soldado, comissário, delegado e, por último, tenente. Com o fim da campanha contra o Cangaço, por muitas vezes, fora ouvido pela imprensa para contar relatos da luta dos seus conterrâneos e, embora o experiente combatente integrasse a força policial pernambucana e estivesse em lados opostos ao Rei do Cangaço, sempre soube reconhecer Lampião como líder nordestino.

Homem de fala mansa e de uma tranquilidade congelante, Lira se aposentou como primeiro-tenente da PMPE, mas antes trabalhou em Recife e em municípios do interior pernambucano. Em um deles, em Carnaíba, foi vereador na década de 1970 e, na ocasião, desmembrou a Câmara Municipal de Vereadores e tornou aquela edilidade independente. Seus filhos Ruberval e Clóvis Lira também foram vereadores na mesma localidade.

Pela Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco e Companhia Editora de Pernambuco, escreveu o livro “Lampião: Memórias de um Soldado de Volante”, fruto de 35 anos de pesquisa. Nele, descreveu, com exatidão e presteza, os lances épicos daquela época, narrando sua vida e suas andanças em busca dos cangaceiros. Para isso, o militar passou dias em frente à máquina de escrever, rebuscando na memória os fragmentos das verdades históricas que ele mesmo ajudou a construir.

Antes de lançar esse livro, um episódio mereceu intervenção do então governador do Estado de Pernambuco, Roberto Magalhães, já que, ao entregar as escritas a um representante de uma instituição pública com titularidades acadêmicas para que houvesse a publicação, Lira teve confiscado todo seu material. Na época, o nazareno fora recebido no Palácio do Governo Estadual e tratado com respeito e honras militares.

Após esse encontro, teve todas as escritas devolvidas e, em seguida, o livro lançado. É considerado referencial para todos os amantes da História do Brasil e, em especial, para os soldados nazarenos.

Tido pela população de Nazaré do Pico como homem de bem, de caráter, sério e batalhador, recebeu condecorações e diversas homenagens, como a do seu Centenário de Nascimento em 2013 e a instalação de um busto na praça do distrito, pois se tornou uma espécie de lenda. A Rodovia PE-329, que liga Carnaíba ao Distrito de Lagoa da Cruz, passando por Quixaba, no sertão do Pajeú, também recebeu seu nome.

Em 1987, Lira voltou para Nazaré do Pico, em Floresta, onde viveu até sua morte em 4 de agosto de 2011, aos 98 anos. Embora tenha falecido no Hospital Militar de Pernambuco por complicações de um edema pulmonar, seu corpo foi sepultado no distrito de Nazaré. O ex-volante era viúvo de Gisélia de Lira, com quem viveu por 60 anos, e deixou 11 dos 12 filhos, além de netos, bisnetos e demais familiares.”


Abaixo veremos um vídeo de produção do pesquisador incansável, daquele que não se mostra a frente da história, pelo contrário, sempre procurou ficar nos bastidores, Aderbal Nogueira.


Ten Joao Gomes de Lira - as primeiras intrigas em Nazaré


Publicado a 15/02/2019

João Gomes fala sobre o ferimento de Livino Ferreira e do casamento de uma prima de Lampião.
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