Publicado em 15 de dezembro de 2012
Cem anos se
passaram, chegou o dia 13 de dezembro de 2012, nesse dia, se vivo, o cantor
Luiz Gonzaga completaria cem anos de idade. Durante todo o ano de 2012 o Brasil
se mobilizou em torno da figura e da grandiosidade do Rei do Baião. Trabalhos
escolares, grupos teatrais, culturais e musicais, cantores repentistas,
xilógrafos, escritores e radialistas homenagearam o cantor. Em universidades,
teses, trabalhos de graduação e trabalhos de conclusão de cursos, tiveram por
tema o artista e sua arte. Vários projetos foram finalizados enaltecendo Luiz
Gonzaga. O Rei do Baião representa para o nordeste brasileiro a valorização dos
nossos costumes, das nossas tradições, das nossas raízes culturais, artísticas
e históricas. A cidade de Paulo Afonso teve o privilégio de sediar vários
shows de Luiz Gonzaga; Aqui ele cantou, encantou, fez amigos, foi querido e
amado, recebeu titulo de cidadão Pauloafonsino, cantou em troca de alimentos
para ajudar os sertanejos que enfrentavam a terrível seca de 1983. Aqui ele foi
fotografado, cortejado, adorado, acolhido, venerado.
A música Paulo
Afonso foi a maior prova de amor entre a cidade e o artista. Quando em 1989 o
cantor faleceu, a cidade em peso chorou, hastearam a meio mastro suas bandeiras
em luto; Referencias e comoções tomaram conta da cidade. Agora, em seu
centenário, realizamos algumas homenagens ao Rei do Baião. Eu escrevi um livro
narrando a passagem de Luiz em nossa cidade, resgatando imagens e histórias
acontecidas com nosso povo. Sebastião Carvalho que foi a pessoa encarregada
pela loja Maçônica São Francisco para fazer o contato convidando Luis Gonzaga
para fazer o show beneficente em 1983 prestou sua homenagem ao velho amigo e em
seu Haras Estrada da Vida, colocou dezessete sanfoneiros tocando músicas do Rei
do Baião. O evento que comportou cento e trinta convidados foi embalado pelo
autêntico forró, regado a emoção e a lembrança do inesquecível cantor.
João de Sousa
Lima, Waldonys e Sebastião
No dia 13 de
dezembro, nesse dia, Eu, Sebastião e Carlos Galindo acordamos com o raiar do
sol e seguimos para os festejos em Exú, Pernambuco, lugar onde nasceu Luiz
Gonzaga. Cruzamos Petrolândia, Floresta, Salgueiro, Bodocó e chegamos à terra
do Rei do Baião. Uma multidão aglomerava-se no Parque Aza Branca e no centro da
cidade. Na entrada do parque o cantor Alcimar Monteiro gravava programa para um
canal de televisão. Mais na frente encontramos o comediante e maior imitador de
Luiz Gonzaga, João Cláudio Moreno. Fizemos algumas fotografias com João e com
ele nos dirigimos ao mausoléu do Rei do Baião. Dentro do mausoléu João Cláudio
entrou em profundo silêncio, encostou a cabeça no mármore frio da lápide e em
oração se emocionou e chorou. Eu e Sebastião ficamos de longe olhando a cena e
depois deixamos João Cláudio em seu momento intimo. À tarde, várias autoridades
civis e militares chegaram ao parque onde aguardavam o governador Eduardo
Campos. Uma orquestra militar tocava músicas do Gonzagão. Entre as autoridades
destacava-se Joquinha Gonzaga, sanfoneiro e sobrinho de Luiz Gonzaga. Quando
começou o protocolo Joquinha Gonzaga foi agraciado com a comenda de Cidadão
Pernambucano, recebendo o Titulo das mãos do governador Eduardo Campos. Depois
o governador inaugurou uma estátua dourada de Luiz Gonzaga em frente ao Museu.
Com o cair da
noite, lateral ao palco principal surgiu um cinema ao ar livre. Nas cadeiras
lotadas ouvimos um discurso emocionado e emocionante do governador que tão
justo falou da importância de Luiz Gonzaga para a cultura do Brasil. A casa da
moeda do Brasil lançou a medalha em homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga nas
versões ouro, para e bronze. Consegui para meu acervo a versão em bronze e
Sebastião Carvalho adquiriu as versões em prata e bronze. Em público o
governador quebrou as cunhas das moedas. Os correios lançaram um selo em
homenagem aos cem anos de Luiz Gonzaga. Mesa das autoridades desfeita começou a
obra de arte do cineasta Breno Silveira: Gonzaga, de pai para filho. O filme
traça um perfil das turbulências afetivas entre Gonzagão e Gonzaguinha, sem
perder a ternura jamais. A película é de uma emoção pouco vista nas telas
brasileiras, um verdadeiro retrato do que se passa no mais profundo sertão,
sentido nos corações de dois grandiosos artistas ligados por uma áurea divina.
Depois do
filme ouvimos o show de João Silva, um dos parceiros de Luiz Gonzaga. Algumas
músicas mais e fomos procurar um local para descansarmos do dia estafante.
Percorremos os quilômetros que separam Exú do Crato, pois em Exú os hotéis e
pousadas estavam lotados. No Crato ficamos no hotel pasárgada, de onde saímos
cedo, depois de um fato café matinal. Visitamos o Horto e o Museu do Padre
Cícero Romão Batista. Muito próximo a estátua do padre Cícero cruzava em vôos
rasantes um avião azul, depois ficamos sabendo pelo próprio piloto, o
sanfoneiro Waldonys, que ele tinha ido lá, em suas acrobacias, tomar benção ao
famoso Padre.
João de Sousa
Lima e Joquinha Gonzaga
Retornamos a
Exú e ainda cedo, na antiga residência de Luiz Gonzaga, vimos uma aglomeração e
seguimos até lá; Na entrada da casa estava exposto um veraneio verde que
pertenceu a Luiz Gonzaga. Dentro da casa pessoas fechavam um circulo ao redor
de uma pessoa. Entrei com Sebastião e descobrimos que no meio daquela gente
toda estava o Mestre Dominguinhos. Velhos e crianças cercavam o herdeiro
musical do Velho “Lua”. Dominguinhos sorridente e ao mesmo tempo visivelmente
abatido atendia todos com a simpatia que sempre dedicou a seus fãs e que fez
parte de sua carreira artística. Com Dominguinhos estava Paulo Wanderley, um
amigo que fiz em Fortaleza quando realizava palestra sobre o cangaço para o
festival de Cinema daquela capital. Tiramos algumas fotos ao lado de
Dominguinhos e seguimos a casa de Joquinha Gonzaga. Na casa de Joquinha
deixamos alguns presentes com ele e seguimos para o lugar onde nasceu Luiz
Gonzaga. Na antiga residência onde morou Januário, pai do rei do Baião, podemos
degustar um carneiro na brasa e conhecermos o dono do restaurante, o senhor
Junior. Junior nos levou para vermos o local do nascimento de Luiz Gonzaga.
Fotografamos o lugar e seguimos até a casa da heroína Bárbara de
Alencar. Da casa de Barbara fomos até a outra casa onde Luiz Gonzaga morou e
que fica vizinha a casa do Barão de Exú. Na casa do Barão encontramos seu
trineto Francisco, que muito educadamente se deixou ser fotografado com sua mãe
e nos proporcionou a oportunidade de visitar os cômodos da antiga mansão que
ainda mantêm móveis e utensílios de época. No pátio na frente do casarão
situa-se a majestosa igreja que também foi construída pelo Barão. Lateral a
igreja uma roda de sanfoneiros chamou nossa atenção. O sanfoneiro Amazan
gravava o programa “Sala de Reboco” e desfrutamos de uma tarde memorável
ouvindo Targino Gondim, Robertinho do Acordeom, Erivaldo de Carira e Joquinha
Gonzaga.
Muitas músicas
depois e chegou a hora de retornarmos. Carro na estrada e nas lembranças uma
Asa Branca clareando os pensamentos; No coração a satisfação de ter ido lá, de
ter prestado essa ho0menagem ao inesquecível Luiz Gonzaga e de ter participado
desse momento histórico. Nas terras do Rei do Baião vivi emoções, senti pulsar
nas veias o sangue nordestino dos homens invencíveis que se quebrantam na
musicalidade e no aboio do vaqueiro, na canção que ecoa daquela sanfona branca
que eternizou a bandeira em canto que influencia gerações e se torna marco
indestrutível nas estradas cravadas com a arte de Luiz Gonzaga. Pela maestria
de Luiz o transformamos no “Embaixador do Nordeste”, cujo canto é paz, é vida,
alegria e emoção. Na felicidade de ter vivido tudo isso, deixei minhas preces
em cada canto desses cantos que passei e que foram motivos de inspirações que
saíram em forma de músicas nos acordes das teclas daquela sanfona branca e que
hoje vaga no imaginário de uma nação que derrama em prantos a saudade deixada
por Luiz Gonzaga do Nascimento, o eterno Rei do Baião.
João de Sousa
Lima
Paulo Afonso,
Bahia,
Madrugada do
dia 15 de dezembro de 2012.
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