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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

FAZENDA CORURIPE, UM POUCO DE SUA HISTÓRIA

*Rangel Alves da Costa

Distando cerca de três quilômetros da cidade de Poço Redondo, no Sertão Sergipano do São Francisco, e seguindo pela Estrada Histórica Antônio Conselheiro, atual denominação da Estrada de Curralinho, no lado esquerdo de quem vai, logo se avista uma placa indicando o Marco de Canário, sinalização indicando que ali foi território marcante da história do cangaço pelos sertões sergipanos. Ali é o portal de entrada da antiga e histórica Fazenda Coruripe.
Adiante, logo após um colchete, as reminiscências da famosa propriedade começam a ser avistadas, conforme se verá mais adiante. Coruripe é uma derivação da língua tupi, da expressão “kururype”, que significa "no rio dos sapos". Sua formação vem da junção do termo “kururu” (sapo), “y” (rio) e “pe” (em). Com efeito, nos tempos idos, quando as águas do sertão eram mais volumosas e a vegetação nativa muito mais proeminente, com caatinga fechada e cactáceas por todo lugar, um riacho com sapos cururus entrecortava suas terras.


No interior da propriedade ainda pode ser encontrado um leito seco de riacho que, no passado, escorria em meio aos lajedos e outras formações pedregosas. Atualmente, aproveitando as pedras ao redor, uma pequena barragem foi construída para estocar as águas que vão surgindo em épocas de trovoadas. Os cururus não existem mais, mas a grande Cururipe continua existindo.
Atualmente, ainda indivisa entre os herdeiros de Seu Odon, seu último proprietário, possui, além da antiga sede, outras construções antigas e mais recentes. A casa da antiga sede, já totalmente abandonada, vive à mercê do tempo e da visita do vento pela porta principal sempre aberta. As paredes de barro, ainda que firmes em alguns lugares, em outros já desabando e deixando passagens abertas. O interior praticamente é de escombros, com restos de velhos utensílios espalhados pelos cantos e por todo lugar. Um pilão com as duas bocas carcomidas, restos de cestos, forquilhas, pedaços de pau, instrumentos no trato da terra.
Desde muito sem uso para moradia, atualmente serve apenas como local para que os herdeiros deixem ali algum instrumento de trabalho. Um cachorro, contudo, sempre está por ali, guardião do tempo e das páginas amareladas da história. Ao lado da antiga sede outra construção antiga, também de barro e cujas paredes e telhado já estão desabando. Neste local funcionava a igualmente famosa Casa de Farinha da Fazenda Coruripe. Debaixo do telhado prestes a desabar e defronte de um arremedo de parede ainda em pé, os restos dos instrumentos que no passado tanto produziram a boa farinha. A velha moedeira, a prensa, o tacho já quase comido pela ferrugem, a roda.
Tais equipamentos, de modo a não serem devorados pela voracidade do tempo, foram doados pelo herdeiro Ailton ao Memorial Alcino Alves Costa, na cidade de Poço Redondo e para lá já transportados. Contudo, a importância histórica do Coruripe continua tão viva quanto imorredoura. Ninguém jamais conseguirá rasgar sua página histórica tão rica e grandiosa. Dentre de seus cercados e por cima de sua terra, pelos arredores da casa velha e mais adiante, uma parte da escrita do próprio Poço Redondo.
A Fazenda Coruripe já passou por muitos e afamados donos. Já foi propriedade de Julião do Nascimento, pai de José Francisco do Nascimento, o mesmo Zé de Julião e Cajazeira (quando cangaceiro no bando de Lampião). Com a morte do velho Julião, por herança passou a ser do filho Zé de Julião, sendo repassada depois a outros proprietários.


Foi nas terras do Coruripe que o cangaceiro Canário, filho de Poço Redondo e companheiro da também cangaceira e poço-redondense Adília, perdeu usa vida, traído e morto pelo cangaceiro Penedinho, em 1938. Baleado nas proximidades da casa velha da fazenda, num lajedos que ladeiam o antigo riachinho, depois de decapitado por Zé Rufino, reconhecido caçador de cangaceiros e mais ainda de suas riquezas (que para o local se dirigiu em busca de dinheiro e ouro porventura existentes). Teve os seus restos sepultados um pouco mais adiante, debaixo de um umbuzeiro que, ainda em pé, segue como testemunho vivo daqueles terríveis tempos.
Assim, um pouco da história da Fazenda Coruripe. Nos seus quadrantes, desde a casa velha à antiga casa de farinha, passando pela presença cangaceira e as atrocidades ali cometidas, tudo na grafia inapagável da história sertaneja, e bem ali, bem ao lado da cidade de Poço Redondo.

Escritor
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