*Rangel Alves da Costa
Bela menina. Linda a menina. Mocinha, mas ainda na flor da mais bela idade. Parecia uma bonequinha de tão formosa. Laço de fita no cabelo, pés descalços, perfeita feição. Uma flor na flor da menina.
Tímida, recatada demais, distanciada de tudo. Dizia gostar da solidão, pois sozinha sabia que estava distante de olhares e até mesmo de pessoas. Não gostava de olhares em sua direção nem de pessoas ao redor.
Já mocinha, ou já moça feita, ainda assim a menina nunca se distanciava muito de sua boneca de pano. Cuidava de seu brinquedo de infância como se dela mesmo estivesse cuidando. Limpava, penteava, fazia roupa, vestia, conversava, colocava pra dormir. E de vez em quando com ela adormecia no mesmo travesseiro.
Flertar, paquerar, namorar? Nunca. Sua idade já permitia namoricos ou mesmo namoros mais alentados, porém ela sequer pensava em deixar seu prazer de solidão e passar a dividir seus instantes com outra pessoa. Ainda era capaz de se debruçar sobre o umbral da janela e sonhar com o príncipe encantado chegando em cavalo alazão.
Desejos de mulher, íntimas vontades de mulher, pensamentos íntimos e excitantes? Talvez sim. Ora, era mulher, uma mocinha, uma menina bonita que certamente não iria permanecer virginal por toda a existência. Mas não demonstrava o mínimo de interesse. O que lhe despertava em si mesma adormecia.
Ela não gostava de olhares, mas os olhares gostavam dela. Sua beleza era tamanha que logo despertava encantamento em que a avistasse. Despertava desejos, interesses, seduções, pensamentos que iam além da beleza física. Na verdade era a mulher que todo jovem desejava como namorada e, num sonho, como sua companheira.
Olhos que a avistavam e tiravam toda sua roupa, sem pudor algum. Rasgavam seu vestido, tiravas sua calcinha, seu sutiã e tudo que a recobrisse, para ter adiante apenas a beleza nua da menina. E uma nudez tão bela, tão meiga e sedutora, que certamente se poderia supor estar diante de uma musa de sonhos.
Aqueles seios perfeitos, aquela boca carnuda, aqueles lábios molhados, aquela pele sedosa, aqueles cabelos lisos deitados sobre lençóis, aquelas curvas em geografia corporal mais que perfeita, aquelas pernas torneadas como a cinzel dos deuses, um flor no umbigo, um sexo de indescritível beleza. E tudo no viço e na leveza da pétala...
Olhares imaginando ser assim. Olhares desejosos que fosse assim. E era assim mesmo. Mas não para a volúpia, para a libertinagem, para a pecaminosidade ou para qualquer uso que se fizesse fazer. Não. Aquela nudez na menina, aquela vista e desejada pelos olhares, jamais possuiria o sentido que os olhos desejariam, ainda que nudez feminina.
Quando estava nua, a nudez da menina era a nudez de um corpo, apenas, ainda que se diferenciasse de tantos outros pela inigualável beleza. Tudo belo na menina, os cabelos, a pele, os seios, o corpo, o sexo, tudo o que nela houvesse. Mas apenas um corpo de mulher, numa mulher nua.
Toda mulher nua possui uma nudez conhecida. Contudo, a beleza de um corpo nu está muito mais nos seus atributos físicos do que o sentido sexual que dele se deseje tirar proveito. Assim como bela flor em jardim, a nudez feminina não precisa ser extirpada da roseira para servir a outros propósitos de beleza. Será bela ainda que jamais saia do jardim.
E na menina a beleza da inocência ou na vontade de se manter em pureza até onde desejasse. E assim se mantinha. Nos instantes de nudez, aquele belo corpo nu como deitado em repouso sagrado: uma deusa adormecida. Por ser belo, atraente e desejado, não precisava ser mostrado nem ofertado. Apenas um corpo no corpo de sua dona, na nudez de qualquer bela mulher.
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