Conta o escritor Ângelo Osmiro Barreto que em 1910, durante o período da Semana
Santa, o lendário Cassimiro Honório, um velho cangaceiro do alto sertão
pernambucano, da afamada região do Navio, promoveu um formidável cerco a um dos
seus inimigos José de Sousa.
Melânia era
filha de Cassimiro Honório havia sido roubada por José de Sousa. O pai da
moça, inconformado com a atitude do jovem sertanejo, arregimentou um grande
contingente de cangaceiros e retomou a filha do jovem apaixonado. O episódio
criou grande rivalidade entre os dois sertanejos, homens valentes e acostumados
às lutas, numa época em que as divergências eram resolvidas à bala. A justiça,
pouco ou nada fazia para resolver essas pendengas.
Durante um
grande cerco promovido por Cassimiro Honório a fazenda de José de Sousa que
durou sete dias, um fato interessante chamou a atenção de todos.
Dentre muitos
homens valentes de ambos os lados um iria se destacar pela sua atitude nobre.
José Rajado, sertanejo rude com sangue no olho como se diz até hoje naqueles
sertões, brigava entrincheirado ao lado dos comandados de Cassimiro Honório.
Passados três
dias de luta renhida José Rajado escutou um choro de criança vindo de dentro
da casa sitiada. O choro persistente chamou a atenção do cangaceiro.
Aquela criança
aos prantos só poderia estar com fome, pensou o cangaceiro naquele momento da
luta. Em ato repentino José Rajado levantou as mãos, e aos gritos, pediu para
que o tiroteio fosse suspenso.
Surpresos com
a atitude pouco comum do bravo sertanejo os contendores pararam os tiros, e o
silêncio tomou conta do lugar por alguns momentos. O cangaceiro José Rajado,
propôs aos sitiados que se prometessem não alvejá-lo, iria ao curral,
ordenharia umas cabras e levaria o leite para a criança que estava chorando com
fome.
José de Sousa
prometeu todas as garantias a José Rajado que confiando na palavra empenhada
do inimigo, foi ao curral, encheu um balde de leite e deixou-o em frente à
porta da casa sitiada. Retornou ao seu local de combate, e após estar novamente
seguro, o tiroteio recomeçou.
O cangaceiro
José Rajado, apesar de toda sua rudeza, acabara por praticar um ato da mais
alta nobreza.
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