Por: Alfredo Bonessi
Publicado em 30 de dezembro de 2012.
Incentivado por Chico Pereira o único cangaceiro cowboy do sertão, pois usava botas, chapéu de mocinho de cinema e rifle, Lampião enviou seus irmãos Antonio e Levino com o bando de cangaceiros, para atacar a cidade de Sousa na Paraíba. Lampião não foi ao ataque – estava ferido no pé por bala da volante de Theofannes Torres.
Theofannes Torres
Para Chico Pereira o ataque serviria como vingança contra os desafetos que tinham feito atrocidades contra o seu pai naquela cidade. Nessa ocasião Lampião e o seu bando estavam a serviço do coronel José Pereira, de Princesa, na Paraíba. Esse coronel não gostava de Lampião e nem dos cangaceiros – tinha em seus mandos centenas de jagunços, pistoleiros e muita gente que não prestava – ele era o manda-chuva na região.
Coronel José Pereira de Lima
Com o ataque dos cangaceiros a cidade de Sousa o coronel Pereira rompe em definitivo com Lampião e seu bando, e os expulsa das suas fazendas, mas um cunhado de Pereira continua amigo de Lampião e o recebe em sua casa, almoçam juntos e são amigos do peito. Essa amizade é do conhecimento do coronel Pereira que não podendo fazer nada, apenas tenta aconselhar o cunhado a se desligar desse tipo de má gente. Mas ele continua amigo do Rei do Cangaço e é coiteiro dele.
O cangaceiro Chico Pereira
Essa amizade com Chico Pereira não dura, esse cangaceiro quando ferido, foi traído e abandonado pelos irmãos Ferreira em um canavial quando estava cercado pelas volantes, estava sem forças e quase moribundo e ainda, nessa ocasião, estava picado de cobra venenosa.
Surge a questão entre João Pessoa e João Dantas – dizem alguns por ciúmes e interesse na namorada de João Dantas. João Pessoa manda a polícia atacar e prender João Dantas na casa da namorada. Esta estaciona o automóvel nos fundos da casa e João Dantas escapole pela janela dos fundos. Mas a polícia invade a casa e vasculha todos os aposentos e se apossa das cartas de namoro entre os dois. Essas cartas vão parar nos jornais e os ataques pela mídia da época fica acalorado entre os dois e como decorrente surgem as ameaças entre ambos: João Dantas avisa: - Se você vier a Pernambuco, morre!
A política brasileira na ocasião ferve no Sul do País e João Pessoa é o candidato para a posse política – seu prestigio e fama estão em alta – todo o país sabe quem é ele.
João Pessoa decide ir ao Recife, mas é avisado pelas pessoas mais chegadas:
- Não vá! Você está ameaçado de morte!
- Que nada! vou ao Recife! e fez pouco caso dos avisos.
João Dantas vem de bonde – está em pé e uma pessoa está sentada lê o jornal do dia. João Dantas dá uma brechada na página principal do jornal e vê a noticia que João Pessoa está na cidade. No mesmo bonde ele volta para casa e apanha o revólver. Procura por João Pessoa e o encontra na confeitaria – espera por ele. João Pessoa sai da confeitaria e João Dantas se aproxima pelas costas. Grita para ele:
- Eu não te disse que não viesse ao Recife!!!!
João Pessoa se vira e investe contra ele de bengala em punho:
- Ora seu! ...e leva três tiros.
A noticia se espalha que nem fogo Brasil afora – João Dantas é considerado o Judas Nacional. O crime imediatamente serve de pretexto político e passa a ser considerado político e vira motivo principal para a sublevação nacional. Forças Getulistas tomam o poder e João Dantas é preso com um parente seu que nada tinha a ver com o caso.
Ao lado da cela de João Dantas está o cangaceiro Antonio Silvino cumprindo pena. Tempos antes ele se oferece para pegar Lampião a unha, vivo ou morto e dá até um prazo para o feito: 20 dias. Mas ninguém acredita nele e o deixa mofar atrás das grades. Você já pensou se houvesse esse encontro?
- Quem mataria quem nesse embate?
Antonio Silvino fora um cangaceiro justiceiro, respeitador de lares e de mulheres, pedia antes de se apossar, se alguma mulher o repreendesse ele até pedia desculpas e ia se embora. Praticava a justiça por onde andava e casou muita gente nesse sertão na marra, às vezes a coice de rifle, outras vezes a ponta de punhal. Não digo que era um homem corajoso, mas astucioso, esperto, muito precavido – andava sempre com pouca gente e se fazia obedecer pelos seus comandados.
Lampião
Lampião era aguerrido, ágil, não fazia esse tipo justiça, não respeitava as mulheres, permitia que elas fossem estupradas e marcadas a ferro, ele mesmo forçou algumas delas, não tinha dó de ninguém, não ligava para a tortura que sofria as suas vitimas, desprezava a morte e sabia que um dia morreria por uma bala qualquer – sua estratégia maior era não ser pego pela policia. Diversas vezes quis se entregar e seus irmãos não o deixaram. Levino Ferreira, seu irmão, dizia para ele: você é um frouxo, um covarde – não serve para ser cangaceiro. Lampião sabia quando era a hora de lutar e a hora de escapar. E dizia sempre: - Não enfrente os macacos. Lampião tinha a sua própria justiça, a justiça lampiônica, pois a justiça era dele – a justiça era ele – ele fazia as suas vinganças a sua moda, muito cruel. Lampião andava quase sempre com muita gente no bando e permitia que chefes previamente designados mandassem nos seus grupos e decidisse a sorte daqueles cangaceiros que por acaso fizesse algo que deveria ser punido com a expulsão do bando ou até mesmo a morte.
- Ele sempre dizia:
“cangaceiro é para morrer no mato, de bala, feito bicho!”
Cumpriu-se essa profecia.
Antonio Silvino sempre afirmava: Lampião é um príncipe!
Lampião sempre dizia:
- Antonio Silvino é um covarde, pois se entregou!
A polícia invade a cela de João Dantas e a luta é ferrenha. Antonio Silvino escuta tudo – foi uma longa briga que acabou com a morte de João Dantas e do seu parente. A população fica sabendo do ocorrido e comemora o acontecido – a vingança fora feita.
Novamente procura-se um responsável pela ideia e autorização para a chacina de João Dantas: quem mandou?
A culpa cai em cima do Deputado Suassuna que nada tem a ver com o caso. Ele mesmo decide ir ao Rio de Janeiro se explicar e provar que não tem nada a ver com o assassinato de João Dantas. Seus familiares o aconselham que não vá. Ele vai e é assassinado no Rio de Janeiro. A questão esfria e a política continua – tudo abafado, mas não para os familiares do Deputado Suassuna que até hoje estão indignados por esse crime e procuram pelos mandantes. Na época o criminoso é mandado trabalhar próximos as fazendas do Deputado assassinado - mas a viúva não autoriza a vingança. Depois o criminoso vem trabalhar nas fazendas da família do Deputado Suassuna, mas a viúva não deixa que o matem.
Final
Com a Revolução de 30 o Coronel Pereira é derrotado e expulso de suas propriedades e vai se esconder no interior do Sertão - errou de lado no apoio militar. Somente voltou as suas terras muito tempo depois do fato, mas nunca mais se recuperou no poder de mando e decisão, pois a revolução de 30 acabou com a poder dos coronéis e criou a classe política.
Chico Pereira, escapou das balas da polícia e do veneno da cobra mas acabou preso e covardemente assassinado pela polícia.
Lampião reinou absoluto no sertão durante o período da revolução de 30 – os militares e as volantes que o perseguiam foram brigar em outra praça de guerra. Por estar tudo calmo e bom demais arrastou mulheres para o seu bando – Sinhô Pereira comentou; acabou-se a invencibilidade dele.
Dois irmãos Ferreira já estão mortos, Antonio e Levino e em breve morrerá o caçula da família, Ezequiel Ferreira e o cunhado Virginio, ferido em combate mas executado com um tiro no peito pelo cangaceiro Moreno que acabou ficando com a mulher do “Juiz do Cangaço”.
Lampião sempre dizia; o cabra mais safado que eu conheci foi o Coroné Pereira de Princesa – mas Lampião nunca dizia o porque. Essa rusga começou por um erro de estratégia de Lampião em atacar a cidade de Sousa na Paraíba – como vimos – cidade protegida pelo Coronel Pereira que ali tinha vários amigos.
Hoje, se me perguntarem qual foi o principal fator que desencadeou a revolução de 30 – eu digo: foi um crime passional.
Se me perguntarem quem matou João Dantas na prisão ? – eu respondo que foi a policia a mando dos revolucionários de 30 – para eliminar a dita causa que deflagrou o conflito. Se ouvissem João Dantas sobre os reais motivos do crime, a tese inicial da morte política iria por águas abaixo e o caso poderia dar uma reviravolta.
Quem matou o Deputado Suassuna ? – também acredito que foi os revolucionários de 30 para eliminar todas as duvidas de quem mandou matar João Dantas na prisão – acredito que ele estava inocente do fato, até mesmo na morte de João Pessoa que como vimos a causa foi passional e não política.
Por fim veio a morte de Lampião e o Estado Maior do Cangaço em Angico - Sergipe.
Estava certo Corisco, que na ocasião, com os olhos cheios de lágrimas e riscando o chão com a ponta do punhal profetizou:
- acabou-se a alegria do sertão.
Alfredo Bonessi
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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