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sábado, 6 de fevereiro de 2021

AS SETE MORTES EM QUEIMADAS

Por Beto Rueda

Queimadas, cidade baiana, estação da estrada de ferro que ligava Salvador a Juazeiro. Pacata e estratégica, era composta de colinas baixas e vegetação pobre com casa brancas e em tom pastel, com telhados vermelhos que alegravam a paisagem monótona.

A visita de Lampião a essa cidade num domingo, em 22 de dezembro de 1929, transformou-se em um dos episódios mais marcantes na sua trajetória.

O grupo atravessou o rio Itapicuru num bote, provenientes do município de Cansanção-BA. Algumas pessoas do lugar assistindo aqueles homens vestidos como cangaceiros, acreditaram ser um destacamento da polícia de Pernambuco. Quando tiveram consciência do seu engano, o bando já tinha tomado posse da cidade.

Lampião encarregou dois cabras para tomarem a estação do trem e cortarem os fios do telégrafo, enquanto os outros chegaram a praça central, em direção a Cadeia Pública. Os oito soldados da cidade foram pegos de surpresa. Uns estavam jogando baralho, enquanto o comandante, sargento Evaristo Carlos da Costa, estava deitado numa rede.

Os policiais foram presos, e os que estavam cumprindo pena, foram soltos. O sargento Evaristo seguiu com eles, sofrendo humilhações e xingamentos.

Na sequência do ataque, Lampião prendeu o juiz municipal e exigiu um tributo aos cidadãos mais proeminentes de Queimadas, arrecadando uma alta quantia.

Visitaram a mercearia e o armazém de Umbelino Santana levando vários produtos como meias, sabonetes, perfumes e outros. Também remédios para um cangaceiro que estava doente.

Antes do pôr-do-sol, Lampião e seus homens voltaram a Cadeia Pública. Começou o que foi lembrado mais tarde como uns dos atos mais selvagens dos tempos do cangaço: tiraram um soldado do cárcere, escoltaram até a porta da cadeia e na calçada em frente ao prédio, despedaçaram sua cabeça com dois tiros e sangraram. Buscaram um outro e repetiram a cena. E assim continuaram a matança. Ao último, Aristides Gomes de Souza, disseram para levantar a cabeça porque ia morrer. Em resposta, valente, ele chamou-os de covardes. Então, além de atirarem nele, também o esfaquearam. Por fim os sete soldados nada mais eram do que um monte de corpos ensanguentados.

Queriam matar também o carcereiro mas Lampião não deixou dizendo que era civil e não um "macaco". As mortes, segundo o chefe dos cangaceiros, era uma vingança pelos seus homens nas Abóboras, tempos atrás, pela policia baiana.

O sargento Evaristo que com certeza também iria morrer, escapou por sorte do destino. Sua vida foi salva por um trancelim de ouro, pertencente a dona Santinha, de família tradicional da cidade, que "presenteou" Lampião e esse, em retribuição, concedeu a ela um pedido. Ela pediu pela vida do sargento, a quem muito estimava. Lampião cumpriu o acordo.

Saindo da cadeia, sem remorso, os cangaceiros foram até o hotel da cidade onde jantaram. Depois preparararam uma noitada alegre, haveria festa e baile. Houve dança. Muitas moças compareceram e metade dos homens do grupo também, os outros montaram guarda.

Depois da folgança, Lampião juntou o bando para a partida. Antes, deixou um recado insultuoso e sarcástico escrito na parede da sala, dirigido ao governador do Estado. Dizia que viera a Queimadas para se divertir e que a perseguição o estava engordando e que pensava em se casar. E assinou: "Seu superior Cap. Virgulino Ferreira Lampião."

As quatro da manhã o bando saiu de Queimadas, deixando um rastro macabro de vingança, assassinatos, rapina e prazer.

REFERÊNCIAS:

GÓIS, Joaquim. Lampião, o último cangaceiro. Aracaju: Sociedade de Cultura Artística de Sergipe - SCAS: Regina, 1966.

PRATA, Ranulfo. Lampião. 2.ed. São Paulo: Piratininga, 2010. (Fac-símile de 1934).

CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião, o rei dos cangaceiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

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