Por João Costa
As relações entre homens e mulheres em tempos de guerra, fome e injustiças só podem ser compreendidas depois dos fatos acorridos e passando ao largo de conceitos morais ou religiosos.
Foram tantas as mulheres que permaneceram ao lado de seus maridos, noivos e namorados em Canudos; centenas foram as Vivandeiras de Quartel, que seguiam seus amados na Coluna Prestes e 36 o número delas no cangaço.
Para os admiradores da saga do cangaço, vai aqui uma abordagem copidescada a partir de alguns livros (abaixo nos créditos) e narrada na forma interpretativa livre, partindo da noção de pertencimento, que é a maneira de amar mais comum em nossa sociedade, ainda patriarcal.
Foram tantas e tão poucas, mas não tardias em seu tempo; a começar por Maria de Déa, que seduziu Virgulino Ferreira, que deixou para trás um casamento sem amor para abraçar uma paixão que poderia ter sido efêmera, mas que durou o tempo suficiente de uma tragédia shakespereana – única na história brasileira.
Sérgia Ribeiro, a Dadá, foi raptada e mantida em “cativeiro” ainda menina por Corisco; com ele viveu o “amor possível”, combateu ao seu lado e o substituiu em comando; assistiu a sua morte e viveu o suficiente para reconstruir a vida e dar ao próprio Corisco um enterro digno muitos anos depois – ela mesma lavou os ossos de Corisco antes de sepulta-los.
Após de citar as duas primeiras-damas, vamos as demais senhoras da Corte do cangaço e seus cônjuges.
Lídia, segundo relatos a mais bonita de todas e que foi companheira de Zé Baiano citado como o mais cruel, e que a matou a pauladas em função de adultério. Lídia “foi pro mato” com Bem-Te-Vi, um cangaceiro que conhecera na adolescência. Flagrada e chantageada por outro cangaceiro, teve um final terrível.
Florência de tal foi casada com Rio Branco – o casal que acompanhava Corisco e Dadá no momento em que Zé Rufino deu cabo de Corisco, e que desapareceu nas caatingas: para sempre!
Otília, que foi a primeira companheira de Mariano; Bidia, que seguia Volta-Seca; Maria Jovina, que viveu com Pancada; Gertrudes que seguia Beija-Flor.
Lembrar de Durvalina do amor eterno a Virgínio; a mesma que depois ficou com Moreno até o fim da vida, Leónida, chamada Lió, que ninguém sabe com quem convivia; Moça, que amava e seguia Cirilo de Ingrácia; a Lili, que gostava de Lavandeira e o seguiu até a morte do cangaceiro para depois escolher Moita Brava como marido e que terminou sendo morta por infidelidade.
Quitéria que era a amante de Pedra Roxa; teve uma Lica, que seguia Passarinho e também Sabina, que viveu ao lado de Mourão; não esquecer de Mariquinha, a mulher de Labareda.
Destacando Neném, de Luiz Pedro; Antônia Maria, casada com Balisa e Inacinha, a amada de Gato – o cangaceiro índio.
Eufrásia conhecida como Florzinha, aquela que foi amante de muitos cangaceiros e que terminou ao lado de Saracura, e tinha também uma tal de Maria Isidoro, cangaceira cheia de mistérios que se dizia da Bahia e ninguém sabe com quem namorou ou viveu.
Não esquecer de Dulce, casada com Criança; e sua irmã Rosinha que acompanhava Mariano.
E a cangaceira que virou estrela e romancista, Ilda Ribeiro de Souza – Sila, que sobreviveu ao tiroteio em Angico e ficou famosa ao lado de Zé Sereno. Sila escreveu livros, foi consultora da TV Tupi e tornou-se celebridade com entrevistas até no Programa do Jô Soares.
E uma Adelaide que viveu um romance fugaz com Criança; Adília que seguia Canário, Enedina que acompanhou o marido quando este ingressou no cangaço
Maria Fernanda (es) namorou e viveu com Juriti. Eram primos, sobreviveram ao massacre de Angico. Antes de se entregar em busca de anistia, Juriti deixou Maria Fernanda na casa dos pais, sob a alegação de que quando a “conhecera biblicamente” a moça não era amais virgem.
Juriti se rendeu, delatou os companheiros ainda em fuga, foi queimado vivo pelo sargento Deluz e Maria Fernanda casou e foi feliz com próspero comerciante de Sergipe.
Na esquecer de Áurea que amava Mané Moreno, o cangaceiro que veio da Bahia.
Lembrar de Laura, apelidada de Doninha e que era casada com Boa Vista; ainda Cristina, de Português e cangaceira Sebastiana que ficou com Moita Brava após a morte de Lili.
Tais mulheres jamais pisaram em terras e coitos da Paraíba, Ceará ou Rio Grande do Norte. A maioria era sergipana e outra leva de baianas. Elas já chegaram no cangaço banhadas pelas águas do Rio São Francisco, para depois serem banhadas de renda e adornadas com joias.
Não há relatos de solteiras no cangaço e as relações eram monogâmicas. Pelo código de conduta do cangaço, as mulheres que ficassem viúvas não podiam permanecer no bando nessa condição nem sair. E quem tentou voltar pra casa dos pais foi morta.
A solução era encontrar um novo companheiro. A maternidade era de risco e seguida de apartação de suas crias. Elas deram um toque de civilização às hordas de celerados, escreveram com sangue, dor e amor suas histórias.
Elas não eram “mulheres de Atenas” que esperavam no terreiro de casa pelos seus amados; estavam lá com eles nas razias e vinditas, sem tempo para lamentar da sorte ou azar, mas que viveram uma aventura digna de heroínas em um tempo governado por homens maus, que se tornavam bons em suas presenças.
@joaosousacosta pelo Instagram
Fonte “Amantes e Guerreiras”, de Geraldo Maia do Nascimento
“Os Últimos Dias de Lampião e Maria Bonita”, de Victoria Shorr; tradução de Marisa Motta
“Maria Bonita” – Entre o Punhal e o Afeto”, de Nadja Claudino
Imagens: Benjamim Abraão.
Fotos de mulheres guerreiras do cangaço. Entre elas Cristina de Português, Maria Déa, Dadá e outras. Veja clicando no link.
https://www.facebook.com/groups/508711929732768
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário