Clerisvaldo B.
Chagas, 28 de abril de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.692
Sentindo
dificuldades para arranjar um encosto de lona para uma cadeira de balanço,
lembrávamos que o usuário dos anos 60 utilizava pele de animal selvagem. Eram
comprados com certa facilidade, a pele de onça, raposa e gato-do-mato, também
chamado jaguatirica. Não havia ainda a proibição dessa matança por aí, embora
nos anos 60 não se falasse mais na existência de onça, quando muito, uma onça
de bode, onça parda ou suçuarana, mas já muito distante do nosso Médio Sertão.
Os caminhoneiros traziam a pele de onça de outros estados, devido às
encomendas. Todo o sertão vendia os produtos. Em Santana do Ipanema mesmo,
havia um armazém de couros e peles onde atualmente é a Casa Lira. Pertencia ao
cidadão ausente Jacó Nobre e, o homem rouco Antônio Baixinho, tomava conta.
Havia (ainda
há) também um armazém de venda de couros e peles, construído no final da Rua
Barão do Rio Branco. Sendo o último da rua, às margens do Ipanema, está sempre
ameaçado por ele em épocas de cheias. Foi edificado pelo saudoso Firmino Falcão
Filho (o seu Nouzinho) comerciante e fazendeiro que também foi prefeito do
município. Geralmente esse tipo de armazém fedia pra danar, embora os que neles
trabalhavam já estavam de narinas viciadas. O preço do couro ou pele, nunca
procuramos saber, mas bastava encomendar e tinha o produto. As leis
foram chegando e endurecendo à atividade que ou ficavam apenas na venda de
couro de animais domésticos ou vendia o prédio.
Essa atividade
enricou a muita gente, inclusive ao coronel Delmiro Gouveia. Virgulino Ferreira,
antes de ser o Lampião, já transportou couros e peles para Gouveia. Nunca,
porém, fizemos pesquisas a respeito da rentabilidade em Santana do Ipanema. A
curtição do couro na terra de Santa Ana acontecia nos curtumes do
Bebedouro/Maniçoba no poço do Escondidinho. Muita gente trabalhava nessa
atividade que abastecia as fabriquetas de calçados da região. E voltando ao
couro curtido silvestre, o último que vi recostado em cadeira de balanço foi na
casa do ex-vereador Cleto Duarte e dava-me impressão que fosse de raposa
escura. Quanto a sua durabilidade, morre o usuário e fica o couro por gerações
e gerações.
ARMAZÉM ANTIGO DE COUROS E PELES, O ÚLTIMO DA RUA BARÃO DO RIO BRANCO, EM 2013. (FOTO: B.CHAGAS/LIVRO 230)
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