Clerisvaldo B. Chagas, 7/8 de abril de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.686
Nesta época em
que o preço do gás está um absurdo lembramos dos tempos do carvão e da lenha.
Lembramos também dos combates às atividades carvoeiras e ao desmatamento, com o
incentivo ao uso do gás. E agora? Nem gás, nem carvão, nem a lenha. É para
chorar? Um cabra lá em Maceió usava na sua padaria, plástico no fabrico do pão.
Cheiro ruim danado na chaminé. Eu chamava o pão daquela padaria de “pão de
plástico”. Em Santana do Ipanema, conheci dois pontos que permanentemente
vendiam carvão: Na Rua Delmiro Gouveia e na Rua Tertuliano Nepomuceno. Tanto é
que o saudoso Luís Lira (Lirinha) dono de casa de jogo, ao procurar o baixo
meretrício, seguindo pela Rua Tertuliano, dizia a quem perguntava para onde ele
ia: “Vou comprar carvão”, respondia rindo, de óculos escuros lentes verdes,
tipo ‘ray-ban’.
A maioria do
nosso carvão vinha de fornos do alto sertão, cuja caatinga estava também sendo
devastada para fazer cerca, lenha, móveis, roças e inúmeros utensílios
domésticos. Entretanto, a qualidade do produto, ninguém contestava até porque
era feito pelas mais variadas espécies locais. A maior parte era entregue pelo
fornecedor em sacos de juta e ficavam uns sobre os outros nas casas de venda
aguardando compradores. Não sabemos se ainda hoje você encontra esse tipo de carvão
na cidade, já clandestino. Caso queira um churrasquinho o sujeito tem que se
conformar com o carvão fraco encontrado à venda em postos de gasolina:
quantidade pouca, porém, bem embalado em sacos de papel grosso com a vantagem
de não se melar na compra e nem no transporte. Na certa tem licença para
plantio artificial.
O último
movimento do carvão que vimos, era transportado em lombo de jegue, nas margens
do rio São Francisco (Belo Monte) por meninos carvoeiros. Vale salientar que
onde se usava o carvão para cozinha também se usava no ferro de passar. Já a
lenha era mais usada nos sítios rurais; na sua falta usavam-se tábuas velhas,
varas e até garranchos secos. Como dizem que a moda é cíclica, pode ser que o
carvão e a lenha estejam de volta, mas de onde? Da caatinga nua
Nem sabemos
afirmar se o tempo era melhor ou pior, mas, inspirado no Lirinha, os homens
promíscuos pareciam felizes na compra do carvão.
INÍCIO DA RUA TERTULIANO NEPOMUCENO, EM INÍCIO DE NOITE (FOTO: B. CHAGAS).
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