*Rangel Alves da Costa
Em obra-prima
da antropologia e intitulada “Tristes Trópicos”, o pesquisador belga Claude
Levi-Strauss traça um panorama essencialmente pessimista do Brasil. A partir de
suas pesquisas etnográficas desenvolvidas na década de 30, o professor Strauss
chegou chegaria à conclusão que mesmo sendo um país de triunfante beleza e de
natureza exuberante, o Brasil pecava de males que o colocaria como um belo
tapete encobrindo lastimosas situações.
A degradação
ambiental, o crescimento desordenado das cidades, o esfacelamento das relações
sociais, as discrepâncias no acesso aos bens de sobrevivência, a situação
deplorável da causa indígena. Com efeito, focando principalmente as sociedades
indígenas por ele visitadas em expedições, Strauss chama atenção – já naquele período
– para o desprezo que as culturas e as tradições indígenas estavam relegadas.
Povos originários já sendo alcançados pela devastadora modernidade.
Passaram-se os
anos, mas as reflexões continuam com plena validade. Contudo, a atual tristeza
dos trópicos possui uma amplitude ainda maior. Um entristecimento que abarca a
visão sobre os poderes da República, sobre governantes e políticos, sobre
julgadores, sobre a mídia, sobre os costumes, sobre o pensamento da população.
Nada, absolutamente nada no Brasil, parece ser respeitado. A inversão de
valores passou a ser de tal monta que hoje se tem como normalidade o absurdo, o
espantoso, o jamais imaginado para um dito Estado Democrático de Direito.
Será que estes trópicos se alegram com babaquices como Big Brother Brasil e outros formatos de enojar? E devem chorar ao saber das inúmeras pessoas apaixonadas por tais manipulações da realidade. Daí que nas pessoas também a corda sendo puxada para o imprestável, para o abismo. Não há que se esperar grandes coisas de pessoas que ao invés de procurar engradecer pelo conhecimento, eis que acabam preferindo o lamaçal dos degradantes modismos.
Hoje, por
exemplo, todos os sites noticiosos estampavam textos e fotografias sobre o
namoro da atriz Fernanda Souza com uma mulher, e repetindo-se com fatos novos
sobre o mesmo nada. Será que não existiria nada mais sério e interessante
nestes trópicos apunhalados pela babaquice? Ou será que a realidade brasileira
se resume à traição da mulher com o morador de rua, ou ainda a exposição e os
detalhamentos dos trisais existentes por aí? Mas é o que a mídia parece se
preocupar. E tudo como se toda a população tivesse que engolir a qualquer
custo.
Não há mais
fome nestes tristes trópicos? As pobrezas, as carências e as mendicâncias já se
generalizaram de tal forma que não merecem mais qualquer destaque na grande
imprensa? Será que não vale mais a pena o conhecimento dos sofrimentos e das
dores ainda tão presentes nos sertões? Com efeito, muita coisa não há mais que
ficar batendo na tecla, principalmente pelo fato de que já fora constada a
morte de muita coisa: a seriedade no povo, o seu poder de indignação, a
incessante luta para mudar o caos em esperança.
Realmente,
triste é constatar que o Brasil já desfaleceu em muitos aspectos. Um governo
democraticamente eleito, mas que elege a tirania para se manter no poder, já
diz bem ao ponto de fragilidade que estes tristes trópicos passou a ter, e
medonhamente conviver no seu dia a dia de abusos e opressões. Um governante que
prefere ferir a todos em nome do mando, que prefere rasgar as leis a respeitar
as decisões, que prefere negar a aceitar as verdades, não poderia vingar noutro
país senão nestes tristes trópicos.
Não pode ser
tida como uma nação civilizada aquela onde parte de sua população tem preferência
por manter no poder um ditador, um sanguinário, uma pessoa demoníaca e
extremamente perigosa. Que povo é este que perdeu a consciência de realidade,
que parece acometido de cegueira das boas virtudes, que aplaude e fanatiza
aquele que mais adiante irá lhe apunhalar? Strauss ficaria envergonhado com tal
realidade existente nestes tristes trópicos.
O país onde o
dinheiro compra tudo, principalmente a honra e o caráter de políticos eleitos
pelo povo, e somente para depois se tornarem algozes desse mesmo povo. E todos
têm que aceitar calados, sem insurgência ou luta alguma, pois também sabem com
quem estão lidando. E lidam com uma população que se preocupa mais com o Big
Brother Brasil do mesmo com o seu futuro, que acha mais importante saber que roupa
usou a famosa ou da namorada mulher de outra mulher.
Tristes
trópicos. Triste Brasil!
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