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sábado, 16 de março de 2024

O FIM TRÁGICO DOS MARCELINOS

Por Beto Rueda

O banditismo no sertão nordestino a partir dos anos 20 cresceu de forma assustadora. A grande seca de 1919 que devastou a região, reduziu as populações a uma indescritível penúria. Os assaltos a mão armada se sucediam num crescendo, tanto nas estradas quanto nas fazendas e vilarejos.

O bando dos Marcelinos ilustra a história do cangaço nos sertões do Cariri, através de sua vivência e atuação nesta região.

Família humilde procedentes de Pernambuco, do sítio dos Moreiras, atual Moreilândia. Os irmãos João, Manoel e Raimundo dedicaram boa parte da vida trabalhando em fazendas como agricultores e vaqueiros.

A desgraça começou em meados de 1923 quando o irmão mais velho João é repreendido por Ioiô Peixoto, chefe de polícia, na feira de Serrita(PE). No momento que é desarmado de sua faca em público e diante de tamanha humilhação, jura vingança. Comunica os seus irmãos do fato e decidem surrar o policial. Ioiô enfurecido, contrata um pistoleiro bastante afamado na região para dar cabo dos Marcelinos. Cientes do perigo, eles abandonam o trabalho nas fazendas, vendem os seus bens e compram armamentos. Para consumar a vingança, fuzilam Ioiô Peixoto. A partir desse momento, ingressam na vida do crime.

Os Marcelinos ganham fama de perigosos, saqueiam, matam. Tudo isso acontecia em grande parte com o apoio de muitos coronéis da região do Cariri que os escondiam e encomendavam serviços. Os cangaceiros atuavam principalmente na ligação dos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha.

A fama vai se espalhando, transpõe divisas e se alastra nos estados vizinhos. Respeitados, viram também aliados de Lampião em diversas ações, inclusive no ataque a cidade paraibana de Cajazeiras e na tentativa de ataque a Mossoró, no Rio Grande do Norte. Por sua agilidade e destreza com as armas, Manoel recebe a alcunha de Bom Deveras.

Tempos depois o grupo decide não seguir mais Lampião e continua a praticar crimes na região do Cariri.

O fim do bando dos Marcelinos se dá com a morte de Manoel(Bom de Veras) pela volante, no Sítio Minador, na casa de Raimundo Alexandre. Tempos depois foi morto João(Vinte e Dois), o mais velho, na Chapada do Araripe. João entra morto na cidade de Barbalha, pendurado num pau, com o seu cabelo arrastando pelo chão, como troféu, pelos policiais.

Raimundo(Lua Branca) ferido e os demais cabras que ainda estavam com Vinte e Dois, foram capturados e levados a cadeia pública de Barbalha: João Gomes, Joaquim Gomes, Pedro Miranda e Manoel Toalha.

Na manhã de 05 de janeiro de 1928, com o pretexto de transportar os presos até a capital Fortaleza, o sargento José Antônio e seus soldados, conduziram os detentos para o sítio Alto do Leitão, localizado junto a velha estrada entre Barbalha e Crato. No local, obrigaram os presos cavarem suas próprias sepulturas. O desespero e a coragem do grupo acabou tornando a chacina ainda mais dramática: Não satisfeitos, fuzilaram um a um, sem piedade. Até o último cair na cova mortuária.

Covardia, vingança, lei..

O Massacre do Alto do Leitão foi sem dúvidas um dos mais marcantes e trágicos episódios do cangaço em terras cearenses.

REFERÊNCIAS:

SANTOS, Vilma Maciel Lira dos. Os fuzilados do Leitão: uma revisão histórica. Juazeiro do Norte: HB, 2001.

MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil. 2.ed. São Paulo: A Girafa, 2004.

PEIXOTO JUNIOR, José. Bom Deveras e seus irmãos. 2.ed. Goiânia: Kelps, 2009.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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