Por José Mendes Pereira
Há pessoas que nascem em Mossoró, mas não são mossoroenses; há pessoas que embora vindas de outros lugares, adotam Mossoró como sua terra e tratam de engrandecê-la, de torná-la cada vez melhor, e com ela crescem, prosperam e, por direito, tornam-se mossoroenses. Para aqueles, Mossoró foi a terra em que nasceram; para esses, Mossoró foi a terra que escolheram para morar. Rodolfo Fernandes pertence a última categoria.Nascido em Portalegre/RN a 24 de maio de 1872, começou sua vida de trabalho muito cedo, sendo ainda adolescente quando se iniciou no comércio na cidade de Pau dos Ferros/RN, emigrando depois para a Amazônia durante o primeiro ciclo da borracha, como tantos outros nordestinos. Regressou ao Rio Grande do Norte dois anos depois, indo morar na cidade de Macau, trabalhando na indústria salineira para a Companhia comércio, onde construiu salinas e implantou diversas modernidades.
Atraído pelo desenvolvimento de Mossoró, veio aqui se estabelecer, casando-se em 1900 com Isaura Fernandes Pessoa, com quem teve quatro filhos: José, Julieta, Paulo e Raul. Já em Mossoró, trabalhou para a grande firma Tertuliano Fernandes & Cia., também construindo salinas e substituindo o tradicional cata-vento para puxar água por um motor a óleo, o que permitia maior aproveitamento das marés. Em 1918 estabeleceu-se por conta própria na indústria salineira.Elegeu-se prefeito de Mossoró em 1926.
Teve sua memória perpetuada no coração dos mossoroenses por sua atitude decisiva em defesa de Mossoró. De todos os seus feitos, talvez o que tenha lhe dado maior projeção tenha sido a maneira como o mesmo enfrentou a horda de cangaceiros chefiados por Lampião, que na tarde de 13 de junho de 1927 invadiram Mossoró. Pretendiam, os facínoras, extorquir uma vultosa quantia para não atacar a cidade. O Cel. Rodolfo Fernandes reagiu negativamente e comandou a defesa da cidade como um grande general, mandando, inclusive, que qualquer pessoa que não fosse participar ativamente da defesa saísse da cidade como medida de precaução. Essa medida, certamente, evitou muitas mortes desnecessárias.Era homem de arrojadas iniciativas de caráter urbanístico.
Em sua administração iniciou o calçamento de algumas ruas e da praça 6 de Janeiro, que posteriormente recebeu o seu nome. Construiu também o primeiro jardim público de Mossoró. Um fato curioso é que quando foi iniciado o calçamento em Mossoró, muitos habitantes ficaram insatisfeitos, achando que com o chão coberto de pedras, a temperatura da cidade, que já era em alguns momentos quase que insuportável, iria aumentar. Foi mais uma luta do prefeito para mudar a opinião dessas pessoas, na luta pelo progresso da cidade. O Cel. Rodolfo Fernandes de Oliveira Martins foi um lutador. Um sertanejo simples, mas de visão voltada para o futuro. Soube como poucos amar Mossoró. “Conseguiu realizar uma obra verdadeiramente notável, dentro dos estreitos limites das finanças do município”, como depõe Vingt-un em seu Mossoró. Mas não chegou a terminar o seu mandato.
A 16 de setembro de 1927, com a sua saúde abalada,
requer licença para tratamento médico no Rio de Janeiro, onde faleceu a 11 de
outubro do mesmo ano. E Mossoró chora a sua morte. Várias homenagens foram
prestadas em sua memória, tendo sido inclusive criado, em 1963, o município de
Rodolfo Fernandes, desmembrado do de Portalegre. De Rodolfo Fernandes ficou o
exemplo de homem de visão, pioneiro e libertador, digno das mais altas
homenagens do povo mossoroense. E por sua bravura no episódio da defesa da
cidade contra os cangaceiros de Lampião, ficou conhecido como “O herói da
resistência”. ração".
(Transcrito na coluna GERALDO MAIA), no jornal O MOSSOROENSE, edição do dia seis de junho de 2001-quarta feira
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