Por Kiko Monteiro
Esse foi um dos atos de violência de Lampião que teve mais repercussão em todo estado de Pernambuco. Também a ocasião em que o Rei do Cangaço fora enganado por um "amigo" chamado Horácio Cavalcanti de Albuquerque o Horácio Novaes ou Horácio Grande, devido a sua estatura física.
Horácio era membro de uma família honrada do Pajeú, mas se tornou um jagunço muito perigoso.
No ano anterior Horácio roubou doze animais da fazenda dos Gilo e foi vendê-los em Lavras da Mangabeira cidade do estado vizinho, Ceará. Os ofertou para um coronel chamado Raimundo Augusto Lima (Foto).
Este coronel também foi prefeito da cidade de Lavras e em 1927, ano seguinte, deu combate contra Lampião no distrito do Tipi em Aurora-Ceará (domínios do nosso confrade José Cícero).
José Cícero, com o ex-Jogador missãovelhense
Raimundo Pio(no centro) e Zé Jorge à direita.
Lampião que planejava saquear Lavras estava acoitado na fazenda Tipi cujo os donos eram inimigos declarados do Clã lavrense. Então, por que esperar? - Almoçar o inimigo antes que ele nos jante! Decidiu o Coronel. E, assim foi feito. Sem perda de tempo Raimundo Augusto reuniu seus cabras e arrojou-se de surpresa sobre o bando facinoroso. Após breve combate Lampião e os do seu bando fugiram, deixando no local da refrega armas, mantimentos e vários cavalos utilizados pelo bando, e enfim o que não puderam conduzir.
Mais tarde ciente do crime e fazendo justiça o Coronel Raimundo devolveu os animais ao seu legítimo dono. Estes ao saberem da transação incriminaram Horácio espalhando pela região sua fama de "ladrão de cavalos".
Sabe-se que no sertão e principalmente no bando de Lampião, admitia-se assassinos de toda espécie, mas ladrão e ainda mais de cavalo? Era algo abominável.
Horácio se sentido "humilhado" por Manoel prometeu vingança. E concretizou seu desejo depois de se unir a caterva de Virgulino. Durante os meses em que Horácio e Lampião andaram juntos, Horácio procurou envenenar seu companheiro contra os Gilo.
O golpe de Horácio contra os Gilo foi uma carta, escrita pela mulher como se fosse pelo chefe da família, endereçada a Lampião, o conteúdo da carta não só o insultava, como ainda colocava em dúvida a sua coragem.
A resposta da calúnia resultaria em um ataque, como desforra, esta vingança se concretizou às 04:00hs da manhã, num sábado, quando Lampião e Horácio, acompanhados de um grande número de asseclas abriram fogo contra a casa dos Gilo, onde estavam umas doze pessoas, entre estas Manoel Gilo, o homem que tinha acusado Horácio Novaes de roubo de mulas e burros de sua propriedade, e por essa acusação, o mesmo foi condenado.
Também estavam dois de seus irmãos, seu pai o Sr. Donato, sua mãe e diversos outros parentes da família.
Os Gilo resistiram bravamente, tinham sido prevenidos de que este ataque estava sendo tramado, e a luta durou muitas horas, neste ínterim, alguns cangaceiros foram colocados ao longo da estrada que passava pela casa dos Gilo, de modo a interceptar todos os que se dirigiam a feira de Floresta, impedindo assim, que qualquer socorro pudesse ser dado a família assediada.
Por volta das 10:00hs, quando cessou o fogo de dentro da casa, o mais velho dos Gilo (o único homem ainda vivo na casa) saiu e enfrentou os cangaceiros.
Lampião
Lampião puxou do bolso a carta que ele acreditava ser do homem à sua frente, e começou a lê-la, Sr. Donato protestou e negou a autoria, acrescentando que não sabia ler e nem tão pouco escrever. Lampião, conforme dizem, estava propenso a acreditar na sua inocência, foi quando Horácio, que estava perto, levantou a pistola, atirou na testa, matando seu inimigo.
Ao todo, morreram treze pessoas na fazenda Tapera – Vila de Floresta, naquele dia, e conforme disseram as testemunhas, os corpos estavam espalhados por toda a casa, das 12 pessoas presentes, só não morreu a mulher de Gilo, e o único da família que escapou a exterminação foi o mais moço, ainda quase um menino, que tinha ido ao Ceará comprar açúcar, e portanto, estava ausente quando ocorreu o morticínio.
Duas pessoas que não pertenciam a casa também morreram, outras duas, uma tinha sido detida na estrada e a outra, um soldado da polícia de Floresta, que chegou depois do tiroteio.
Manuel Neto, que se recuperava de ferimentos no combate de Caraíbas.” correu até a cidade para pedir ajuda ao capitão Muniz de Farias que já tinha ciência das ameaças de Horácio contra Manoel Gilo. Muniz simplesmente recusou envolver seus homens.
Diante da recusa do capitão Manoel seguiu acompanhado de poucos homens precisamente dez dos bravos Nazarenos que dispunha, ainda trocou tiros contra "uma centena de bandidos", perdeu dois companheiros, e teve que recuar. Não por temer o grande inimigo, mas devido a sua condição física comprometida pela hemorragia de seus ferimentos.
Depois de tudo consumado, “chegou ainda ali por perto o capitão Muniz de Farias, com grande contingente de força policial, mas nada mais fez a não ser, após informado da situação, regressar para Floresta, deixando de seguir no encalço do grupo, como desejava e pedia o bravo e destemido anspeçada Manuel Neto.
Lampião, reconheceu o erro de ter apoiado o fascinara na sua vingança, e não confiando mais em Horácio, apenas expulsou-o do bando.
Horácio com medo de futuras retaliações fugiu deixando família e teve seu paradeiro desconhecido pelo resto de seus dias.
Fontes do texto:
Leonardo Ferraz Gominho, "Floresta uma Terra - um Povo".
Antonio Amaury e Vera Ferreira "De Virgolino a Lampião".
Blog do Sanharol
Extraído do blog: "Lampião Aceso"
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