Segundo Volta Seca ao Jornal "O Pasquim, em 1973.
Em um dos combates que aconteceu em Maranduba morreram três, e saiu um baleado na rótula, sendo este o cangaceiro Bananeira.
Bananeira à esquerda e Volta Seca à direita
O que aconteceu entre Lampião e Volta Seca, no ano de 1931, após um duro combate com a força policial, foi o seguinte:
Bananeira havia sido ferido pelos soldados, e ficara estendido na estrada. Volta Seca procurou Lampião e lhe pediu uma autorização para ir buscar o amigo ferido. Mas Lampião achava que a empreitada era perigosa, e que a ida de Volta Seca para trazê-lo para o grupo, poderia dar aos soldados a pista do bando. Mas ele não queria deixar o companheiro morrer desprezado. E a partir daí, surgiu o primeiro atrito entre os dois.
Em companhia do cangaceiro Caracol, Volta Seca conseguiu arrastá-lo até um lugar seguro. Mas ele estava muito ferido e teve que ser transportado numa rede. Quando os dois chegaram com o companheiro ferido, Lampião e o resto do bando já haviam ido embora.
Mas parece que Lampião se arrependeu e voltou com a sua malta ao local. Assim que retornou, disse a Volta Seca que eles tinham que andar depressa, pois do contrário, os policiais os alcançariam. Soltasse o ferido e montasse logo no seu cavalo para irem embora.
Volta Seca lhe respondeu que não podia fazer aquilo, e Bananeira iria com ele. E com toda força que tinha, montou o ferido no seu próprio cavalo. Lampião enfureceu-se e ordenou que Volta Seca desmontasse o Bananeira. Mas ele se sentindo pressionado, além do normal, disse-lhe que já o tinha montado em seu cavalo e não o desmontaria mais.
Lampião nervoso pegou a carabina. E quando pensou atirar no insistente, atrapalhou-se por completo. O Volta Seca foi mais ligeiro do que ele. Apontou o seu mosquetão bem no peito de Lampião, dizendo-lhe que se ele tentasse bulir com as pestanas, atiraria no seu peito o mais rápido possível.
Lampião havia mudado totalmente a sua cor. Estava verde de raiva. Os dois ficaram um bom tempo nessa posição, um olhando para o outro e de armas engatilhadas. Mas os amigos do bando apaziguaram a coisa.
Como Lampião não procurou ajudar o ferido, revoltado com as negativas do chefe, Volta Seca continuou exigindo o tratamento sobre os ferimentos do baleado.
Bananeira já preocupado com a discussão de ambos, disse-lhe que deixasse Lampião conversando sozinho, pois no momento o que ele queria, era ir à enfermaria para se tratar. E depois de alguns minutos, montaram-se e tempos depois chegaram à fazenda. E lá, foi feito por um para-médico, o que era necessário para salvar a rótula do joelho de Bananeira.
Assim que Volta Seca retornou ao coito, já com o enfermo tratado e medicado, conversou com o cangaceiro Pó Corante, um pouco sobre a confusão que tivera com Lampião. Dizendo-lhe que Lampião fora fraco, de não ter feito diligência para socorrer o ferido. Ainda lhe disse que o chefe não duvidasse dele, pois se ele tentasse outra vez, atirar nele, o mataria.
No momento em que ele desabafava a Pó Corante, o que tinha acontecido entre ele e o rei, o assecla tentava convencê-lo de que todos ali eram amigos, uma vez que Lampião era o manda chuva do colégio de cangaceiros. E bem melhor, seria acatar a sua opinião.
E depois do bate-papo dos dois, Pó Corante saiu de sua presença, foi direto fofocar a Lampião, o que Volta Seca havia lhe dito.
Com alguns minutos passados, Lampião mandou o chamar em sua Central Administrativa. Ao chegar à presença do chefe, Volta Seca perguntou-lhe o que queria com ele.
Meio sisudo, Lampião lhe disse que soubera que ele andava comentando, que se ele tentasse novamente dar-lhe um tiro, ele o daria outro.
Mas ele em nenhum momento negou-lhe o que dissera a Pó Corante. Falou que não inventasse em atirar, pois se isto acontecesse, Lampião pagaria caro, com um tiro na cara e sem piedade. Lampião ficou dizendo algumas coisas no seu eu, mas engasgado de raiva. Mas o menino não deu para ouviu o que ele dizia no momento.
A partir dessa confusão, todos os dias, Lampião o chamava para uma conversa a sós. Uma noite, o facínora o convidou para mais uma conversinha. Fez-lhe a mesma pergunta de antes. Mas ele foi firme e repetiu que se ele tentasse, podia ficar sabendo que levaria um tiro mesmo.
INTERVENÇÃO DE MARIA BONITA
Achando que o conflito entre os dois poderia acontecer morte, Maria Bonita já preocupada com aquela encrenca desnecessária, chamou a atenção de Lampião, dizendo-lhe que deixasse de confusão com o menino. Ainda lhe disse que o jovem era um dos seus melhores amigos, e andavam sempre juntos, e tudo que ele precisava quem resolvia era Volta Seca.
Ainda o disse que ninguém queria receber um tiro. Parasse de uma vez por toda aquela marcação contra o novo assecla. Apesar de ser o dono dos sertões, e o verdadeiro manda chuva do bando, mas às vezes Lampião ouvia com atenção as palavras de Maria Bonita.
No dia seguinte, pela manhã, o clima que antes estava sem paz, fora apaziguado pelos cangaceiros. Mas à noite, Lampião mandou o chamar novamente em sua central administrativa. Mas ele lhe mandou dizer que não iria mais conversar nada.
Como o menino não foi à sua barrava, Lampião ficou dizendo que no dia seguinte iria almoçá-lo. Isto é, querendo dizer que iria matá-lo. Mas como era provocador, Volta Seca mandou lhe dizer que não o almoçaria, mas com certeza, o jantaria.
Mais ou menos a meia-noite quando os asseclas se apossaram das suas redes, Lampião pôs o Volta Seca no meio de uma roda feita pelos próprios asseclas, na intenção de segurá-lo para ter uma conversa no alvorecer do dia.
Virgínio está à esquerda de Lampião
Como o clima entre os dois estava de mal a pior, Virgínio, o Moderno, este cunhado do rei, ficou aconselhando Volta Seca, dizendo-lhe que todos ali gostavam muito dele. E se caso Lampião mandasse matá-lo, era o jeito. Portanto ficasse na dele.
Mas Volta Seca que não era de ficar calado, disse-lhe que jamais mudaria o seu comportamento, porque o risco que corria o pau, corria o machado.
Sem mais solução e alternativa para que o menino assumisse o seu erro, isto é, de não querer obedecer às ordens de Lampião, já que ele era um comandado, e tinha que o obedecer, disse que iria embora.
Como Volta Seca continuava resmungando, dizendo palavras ferinas contra Lampião, Mariano pediu que ele saísse mesmo do cangaço, e fosse embora. Só assim acabaria aquela confusão. Ele salvaria a sua vida e Lampião o deixaria de tanto martirizá-lo.
Como a convivência de Volta Seca e Lampião não andava bem, ele acatou os conselhos de Virgínio e Mariano, e resolveu ir embora, saindo do maldito coito de Lampião
Mas antes de partir, Lampião mandou lhe dizer que deixasse todo o equipamento, pois nada era dele.
Se Virgínio e Mariano não tivessem o aconselhado para ir embora, com certeza, um dia, um dos dois morreria.
Fonte de pesquisa:
Entrevista de Volta Seca - Jornal "O Pasquim"
Participação do Dr. Ivanildo Alves da Silveira
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