Por: José Romero Araújo Cardoso
Raimundo Yasbek Asfora e Rosil Cavalcanti uniram-se para escrever a letra de uma das mais belas canções em língua portuguesa, a qual homenageia a segunda cidade do Estado da Paraíba.
Nenhum dos autores de “Tropeiros da Borborema” era Campinense de nascimento. Asfora, nascido em 1930 e falecido tragicamente em 1987, era cearense de Fortaleza, descendente do grupo árabe que aportou na terra de Iracema fugindo da convocação forçada pelos ingleses na primeira guerra mundial, enquanto Rosil, cujas músicas antológicas Jackson do Pandeiro, que formou a dupla “Café com Leite” com o grande gênio da música regional nordestina, gravou e imortalizou-as, como “Cabo Tenório”, “Lei da Compensação”, “Quadro Negro” e o clássico “Sebastiana”, entre inúmeras outras, era pernambucano, nascido em Macaparana, no dia 20 de dezembro de 1915. Rosil faleceu em Campina Grande, na fria noite de 10 de julho de 1968.
A importância dos tropeiros para a história social e econômica da antiga Vila Nova da rainha foi tão impressionante que não há como dissociar a dinâmica cidade com a presença dos antigos agentes econômicos que vinham do brejo, do agreste, do curimataú, do sertão, etc., bem como de Estados vizinhos, como o Rio Grande do Norte e o Ceará, carregados com seus fardos de pele e de algodão, em direção a Goiana e Olinda, no Estado de Pernambuco, importantes empórios comerciais no século XIX.
Campina Grande começou a evoluir quando foi observado que boa parte da produção transportada pelos velhos tropeiros poderia ficar em solo paraibano. O investimento em máquina de beneficiar algodão foi de importância basilar para o desenvolvimento local, pois isto permitiu que a cidade se transformasse em grande exportadora do “ouro branco”, o que significou um dos momentos cruciais do “boom” econômico da “Rainha da Borborema”.
A chegada da máquina número 3, da Great Western, no dia dois de outubro de 1907, representou também as condições para que o progresso fosse implementado a partir de então, pois era a garantia da facilidade para o escoamento da produção algodoeira.
Para vencer os obstáculos representados pelo Planalto da Borborema, conduzindo tropas de burros, precisava ser muito corajoso. Conforme a professora Inês Caminha Lopes Rodrigues, em “Revolta de Princesa: Contribuição ao Estudo do Mandonismo Local”, a barreira orográfica era um grande empecilho para o escoamento da produção sertaneja, o que justifica em parte as decisões dos produtores da região polarizada por princesa de buscar na época as praças pernambucanas a fim de implementar os negócios.
Os tropeiros da Borborema sintetizaram a coragem inaudita do povo interiorano em vencer barreira, razão pela qual a imortalidade suscitada na eterna composição de Asfora e Cavalcanti tem a característica de ser oportuna e pioneira na homenagem aos grandes seres humanos que hoje estão representados em monumento em Campina Grande.
A belíssima canção reconhece em seus refrães finais que Campina Grande somente tem a sua grandeza devido à presença dos antigos tropeiros que buscavam pousadas quando demandavam a Pernambuco em tempos idos, mas que as brumas do tempo não conseguem apagar, graças, em muito, à genialidade de dois fenômenos extraordinários que foram beneficiados pela voz e pelo talento de outro gênio chamado Luiz Gonzaga do Nascimento, responsável pela impecável voz para a eternidade da música, pois quando o eterno “Rei do Baião” interpretou “Tropeiros da Borborema”, gravada em 1972, lançou imediatamente as bases da imortalidade desta magistral poesia nordestina surgida nas paragens da antiga Vila Nova da Rainha.
O acúmulo de capitais a partir das bases lançadas com os tropeiros da Borborema foi sendo responsável pela contínua evolução de Campina Grande, a ponto hoje de ser conhecida como “O Vale do Silício Brasileiro”, devido à presença de várias empresas que desenvolvem tecnologia de ponta, havendo ênfase ainda aos estudos e experiências que resultaram nas impressionantes fibras do algodão colorido, que são orgulhos da cidade de Campina Grande e motivos que a tornaram conhecida internacionalmente como pólo dinâmico e criativo de um nordeste que precisa e pode crescer em ritmo cada vez mais intenso.
(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contatos: romero.cardoso@gmail.com. (MSN) romeroc6@hotmail.com.
Extraído do blog do escritor João de Sousal Lima
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