José Teixeira da Silva nasceu no lugar do Telhado, de Castelões de Recezinhos, em 22 de Junho de 1818. Ficou célebre na história de Portugal como Zé do Telhado, um herói que se tornou vilão. Foi um valoroso combatente militar e um controverso salteador.
Enquanto militar, há registros e relatos da sua valentia, tendo sido condecorado com a medalha de Torre e Espada, por actos heróicos nas hostes de Sá da Bandeira, do Duque de Setúbal e na revolta da Maria da Fonte, sempre pelos liberais, contra os absolutistas. As ligações de Zé do Telhado a Lousada remontam à infância e ao seu matrimónio.
Casou com sua prima, Ana de Campos Lentine, que morava no lugar de Sobreira, da freguesia de Caíde de Rei, que na altura fazia parte (tal como Castelões de Recezinhos) do antigo concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, que tinha sede em Vila Meã.
Ana era filha de uma tia de Zé do Telhado e de um antigo soldado francês que por cá terá ficado aquando das invasões napoleónicas nos começos do século XIX.
Este era negociador e capador de gado e ensinou o ofício ao seu sobrinho. Mas seria ocupação de pouca dura pois a tradição familiar e os hábitos de guerrilha e combate adquiridos em inúmeras batalhas influenciaram decisivamente para que Zé do Telhado se tornasse salteador. De fato, seu tio-avô e seu pai tinham sido quadrilheiros, bem como o seu irmão mais velho.
Muito se escreveu e continua a escrever sobre este controverso personagem. Uns, com mais pendor moralista, o invetivam e negam-lhe qualidades, enquanto que outros, mais benevolentes, enaltecem os infortúnios, os sentimentos e as façanhas de Zé do Telhado.
Diz o povo que roubava aos ricos para dar aos pobres, e por isso era por muitos considerado o Robin dos Bosques português. Tentativa de assalto da quadrilha do Zé do Telhado em Pias.
Há relatos de lealdade e honra da sua parte, veja-se o caso da tentativa de assalto à Casa de Pereiró, na freguesia de S. Lourenço de Pias, em Lousada, segundo relato contado de geração em geração naquela senhorial casa.
Isso aconteceu em meados do século XIX. Depois de ter assaltado a Casa de Talhos, em Macieira, Zé do Telhado pretendeu apoderar-se de riqueza em Pias. O alvo seria a Casa de Pereiró, de Constantino Elisiário Ribeiro Peixoto, que recebeu um ultimato do salteador.
Na carta enviada àquele distinto morador de Pias, Zé do Telhado ameaçava que se não colocasse no penedo de Sant’Ana um saco de libras, ele e o seu bando assaltariam a casa de Pereiró. O proprietário não cedeu. Cumprindo a ameaça, os bandoleiros abeiraram-se da casa, onde Constantino Peixoto se tinha entrincheirado com várias armas de fogo.
O rés-do-chão estava fechado, com barricas nas portas e janelas. No andar de cima, estava tudo aberto e uma arma junto de cada janela. Reza a história que assim que se avistaram os dois protagonistas da contenda, Zé do Telhado patenteou o cavalheirismo que o notabilizou ao perguntar: “Dá-me autorização para assaltar a sua casa?”. O proprietário de Pereiró respondeu de forma provocadora: “Sim!”.
Contando com o apoio da sua destemida e leal criada, que ia carregando as armas com pólvora, Constantino Peixoto correu de janela em janela, disparando contra os assaltantes. Perante essa aguerrida oposição, o bando bateu em retirada.
Ruínas da casa de Zé do Telhado
Tendo admirado a destreza e coragem do destemido dono dessa casa, Zé do Telhado remeteu-lhe, na qualidade de rei dos salteadores da região, uma carta que Constantino Elisiário deveria mostrar no caso de ser assaltado. Servia esta missiva para segurar os seus bens perante os amigos do alheio.
Depois de vários assaltos, nalguns dos quais foi derramado sangue, fugiu para o Brasil, mas segundo o próprio terá confessado a Camilo Castelo Branco na Cadeia da Relação, as saudades dos filhos e da esposa fizeram-no regressar. Foi apanhado pelas autoridades e julgado em 1861, em Marco de Canaveses. A acusação foi feita pelo delegado do Ministério Público, Dr. Joaquim Cabral de Noronha e Meneses, da Casa da Bouça (Nogueira, Lousada).
A pena de morte ainda vigorava em Portugal, mas Zé do Telhado livrou-se da forca, devido a várias atenuantes. Mas pagou pelos seus crimes, tendo sido deportado para o ultramar.
Relatos do Diário de Notícias da época, fizeram eco da sua regeneração e de atos heróicos em Angola, onde faleceu em 1875.
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