Manoel Dantas Loyola sobreviveu a Angicos. Na época do cangaço, era conhecido
como Candeeiro. Pernambucano de Buíque (a 258 quilômetros do Recife), ingressou
no bando de Lampião em 1937, mas afirma que foi por acidente. Trabalhava em uma
fazenda em Alagoas quando um grupo de homens ligados ao famoso bandido chegou
ao local. Pouco tempo depois, a propriedade ficou cercada por uma volante e ele
preferiu seguir com os bandidos para não ser morto.
Candeeiro vive como comerciante aposentado em Guanumbi, distrito de sua cidade
natal. Atende pelo nome de batismo, Manoel Dantas Loyola, ou por outro apelido:
"seu Né". No primeiro combate com os "macacos",
Candeeiro foi ferido na coxa. "Era muita bala no pé do ouvido",
lembra. O buraco de bala foi fechado com farinha peneirada e pimenta. Candeeiro
teve o primeiro encontro com o chefe na beira do Rio São Francisco, no lado
sergipano.
"Lampião
não gostava de estar no meio dos cangaceiros, ficava isolado. Quando soube que
eu era de Buíque/PE, comentou: "sua cidade me deu um homem valente,
Jararaca'".
Candeeiro na
ocasião de sua entrega
Candeeiro diz que, nos quase dois anos que ficou no bando, tinha a função de entregar as cartas escritas por Lampião exigindo dinheiro de grandes fazendeiros e comerciantes. Sempre retornava com o pedido atendido. Ele destaca que teve acesso direto ao chefe, chegando a despertar ciúme de Maria Bonita. Em Angicos, comentou que o local não era seguro. Lampião, segundo ele, reuniria os grupos para comunicar que deixaria o cangaço. Estava cansado e preocupado com o fato de que as volantes se deslocavam mais rápido, por causa das estradas, e tinham armamento pesado. No dia do ataque, já estava acordado e se preparava para urinar quando começou o tiroteio.
"Desci
atirando, foi bala como o diabo" .
"Mesmo
ferido no braço direito, conseguiu escapar do cerco". Dias depois, com a
promessa de ser não ser morto, entregou-se em Jeremoabo, na Bahia, com o braço
na tipóia. Com ele, mais 16 cangaceiros. Cumprindo dois anos na prisão, o
Candeeiro dava novamente lugar ao cidadão Manoel Dantas Loyola. Sobre a época
do cangaço, costuma dizer que foi "história de sofrimento". Mas ainda
é possível perceber a admiração por Lampião.
"Parecia
que adivinhava as coisas", lembra. Só não quis ouvir o alerta dado na
véspera da morte, em 1938".
Fonte: Diário
de Pernambuco
Impressões sobre um
velho amigo
Seu Né, Aderbal e Dona Lindinalva.
Candeeiro foi casado com Dona Lindinalva (Linda), com quem teve quatro filhos. Aderbal Nogueira sempre foi recebido com carinho por toda família. Há mais de 20 anos o documentarista da SBEC fazia as primeiras imagens do velho cangaceiro, na época ainda produziu um documentário exclusivo sobre o amigo e fonte de pesquisa, vamos conferir um trecho.
Testemunhos de
quem o conheceu pessoalmente
Para mim o
encontro com o ex-cangaceiro Candeeiro, ou seu Né, como todos o chamam na
intimidade, foi de uma emoção tremenda. A partir daquela casa simples, num
lugarejo também simples, se esconde pedaços das história tantas vezes contadas
por tantos.
Logo que chegamos e antes mesmo de sermos apresentados a Candeeiro, o sertanejo olhou para cada um de nós com um olhar manso, mas como de uma águia e com a firmeza que só as experiências da vida podem proporcionar, foi declinando a característica de cada um; um a um. Aquilo me marcou profundamente. Permanecemos ali com seu Né e sua família por muito tempo, uma conversa boa, amena, cheia de animação que podia ser notada pela risada forte e conhecida de seu Né.
Quando nos
despedimos, ele veio até a porta, agradecendo a visita e fiquei a me perguntar
o tamanha da inteligência desse sertanejo, talhado pela vida, pelo sofrimento e
pelo destino. Candeeiro foi para mim o marco da Caravana Cariri Cangaço.
Múcio Procópio
Vice-Presidente
da SBEC
Conselheiro
Cariri Cangaço
Fotos e informações:
Manoel Severo
Sabino Bassetti
Com a morte de
Candeeiro, secou uma das últimas fontes de informação sobre o cangaço. Seu Né,
como era chamado pelos mais íntimos, era incapaz de dar uma informação errada
como tantos fizeram, quando não sabia algo respondia simplesmente: "Não
tenho conhecimento". Sua casa era um porto seguro, pois ele e sua família
recebiam a todos com muita satisfação. Candeeiro prestou importantes
informações a diversos pesquisadores.
Agora com a missão já cumprida, que ele encontre o descanso eterno.
Adeus seu Né...
Sabino Bassetti
Pesquisador e escritor, Salto/SP
Agora com a missão já cumprida, que ele encontre o descanso eterno.
Adeus seu Né...
Sabino Bassetti
Pesquisador e escritor, Salto/SP
http://lampiaoaceso.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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