Por Rangel Alves
da Costa*
Somente agora,
com mais da metade do mês de Junho, as bandeirinhas foram colocadas em todo o
trecho de minha rua, no centro da capital sergipana. Noutros anos, já no final
do mês de maio e a rua já amanhecia totalmente enfeitada, com as bandeirinhas
balançando ao vento, uma verdadeira festa para os olhos.
Não somente os
enfeites chegaram atrasados como também os ânimos para os festejos. Por ser um
ano de junção entre Copa do Mundo e festas juninas, tudo se unindo numa
comemoração só, inicialmente imaginei que tudo seria mais animado, mais
convidativo e enfeitado. Mas não, pois nem nas outras ruas se avistava qualquer
sinal que indicasse estar em pleno mês do festejo maior para os nordestinos.
Mas enfim as
bandeirinhas chegaram, já ouço sua festa perante o sopro do vento, e agora só
resta esperar que a vizinhança desperte para o festejo que se aproxima. De
qualquer modo, esse ano será muito diferente de outros festejos passados. Ao
menos pelo que andei sabendo, esse mês não teremos apresentação de quadrilhas nem
trio forrozeiro para animar as noitadas. Quem tradicionalmente organizava tais
apresentações abdicou da incumbência e deixou tudo em incógnita.
Com trio
forrozeiro ou sem pé-de-serra, com quadrilha ou sem grupos juninos, a verdade é
que a festa de São João não pode faltar. Tradicionalmente, esse trecho de rua
sempre foi reconhecido com um dos mais animados, enfeitados e festivos nas
noites juninas. Além dos moradores que tomam suas calçadas e espalham mesinhas
e fogueiras por todos os lugares, um grande número de visitantes e convidados
chega para abrilhantar a festança.
Como noutros
anos, creio que também neste não faltarão as fogueiras soltando suas labaredas,
os braseiros servindo de fogões para carnes, milhos, queijos e até para os
batismos simbólicos da época. E ao redor, tomando todos os espaços da rua, as
mesas com as iguarias típicas e apetitosas. Uma fartura de gostos, sabores,
pedaços e porções que se acumulam nos pratos e vasilhames e que vão fazendo a
festa da gulodice.
Por isso mesmo
que já sinto a presença daquelas comidas, bebidas e um monte de iguarias que
logo mais estarão diante de todos. Não vai demorar muito e as cozinhas estarão
preparando as canjicas, os bolos, os milhos cozidos, os licores, o arroz doce,
o mungunzá, a pipoca, o quentão. As carnes serão cortadas como para churrasco,
linguiças amontoadas, as espigas de milho preparadas para o crepitante
braseiro.
Os fogos ainda
não pipocam como noutros tempos. De vez quando apenas uma bombinha ou outra.
Até mesmo durante o jogo da seleção poucos fogos foram ouvidos pelas
redondezas, mas creio que tudo será diferente daqui por diante. A partir desta
terça-feira, quando os gols da seleção brasileira forem surgindo, e assim até o
final da copa, os ares serão cortados por foguetes, rojões e vulcões. E o
verdadeiro clima do São João estará pelo ar em todo seu esplendor.
Enquanto a
verdadeira festança não chega, enquanto não vejo a meninada toda animada
soltando suas chuvinhas e traques, fico imaginando as mesas colocadas nas
calçadas e todas aquelas delícias espalhadas. E dá uma gulodice danada só em
pensar em tanta coisa preparada com milho, arroz, coco, açúcar, cravo, canela e
um monte de coisas que deliciam até o pensamento. E certamente engordam até a
alma.
Não há regime
que não peça licença à vaidade e não se deixe esbaldar ao menos por uma ou duas
noites. Já vejo o arroz doce sendo despejado no copo ou no prato, a canjica
cheirosa recebendo a canela, o mungunzá sendo enfeitado com cravo da índia. E
também já me vejo experimentando tudo isso e repetindo a dose, e ainda ávido
para saborear o que se estende de lado a outro na grande e farta mesa junina.
E que venha
logo o São João, e que eu possa transformar essa vontade em realidades feitas
com coco. O regime há de compreender e também querer saborear as sublimes
delícias da vida.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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