Por Rangel Alves
da Costa*
As pessoas e
vão e vêm, retornam, depois seguem adiante, viram nas esquinas, se perdem na
multidão, vão se tornando como sombras nos caminhos, e somem.
As pessoas
caminham lentamente pelas calçadas, mais apressadas pelas ruas, quase correndo
em determinadas ocasiões. Algumas sem qualquer pressa, outras passando por cima
de tudo.
As pessoas
passam com ar de preocupação, entristecidas, cabisbaixas, com feições
angustiadas, parecendo querer chorar. E talvez estejam mesmo chorando em
qualquer lugar da alma.
As pessoas são
avistadas contentes, com aspectos joviais, transparecendo felicidade, cheias de
vida e esperanças. Assim demonstram os olhares e as bocas prontas ao sorriso ou
cumprimento.
As pessoas
cumprimentam ao passar, olham nos olhos e sorriem, se mostram satisfeitas por
reencontrar. Mas outras sequer dão atenção a quem esteja ao redor ou à sua
frente, e tanto fez como tanto faz que existam.
As pessoas ora
jogam papéis em lixeiras ora evitam sujar as ruas, mostram-se educadas e
respeitosas com as ruas, cidades e pessoas. Nem todas assim, pois lixeiros são
revirados, muros pichados, jardins estraçalhados, uma baderna em cada passo.
Uma está de
óculos, outra vem de chapéu. Uma com saia rodada, outra de roupa de chita. Uma
toda elegante, outra apenas ela mesma. Todas iguais como pessoas e tão
diferentes no jeito de ser. Mas assim no homem e na mulher.
Um de celular
ao ouvido, outro cuspindo ao chão. Um passando de bicicleta e outro parado na
esquina. Um sentado no banco da praça e outro caminhando solitário pelos
arredores do jardim de outono.
Os sentimentos
seguindo com todos. Quem passa triste logo demonstra seu estado quase sem
retoques. As alegrias são poucas pelos rostos. Mas dentro, no íntimo, a alegria
ou tristeza, a angústia ou o contentamento, os sonhos ou as desistências, as
esperanças e os tormentos.
Contudo, nada
disso desperta mais interesse do que imaginar o que cada uma dessas pessoas vai
levando nas suas mentes, vai tecendo em seus pensamentos, vai ajuizando e
refletindo enquanto passa, enquanto caminha.
Ora, a mente
humana é uma nuvem carregada de tudo e de nada, de calmarias e tempestades.
Apenas se imagina o que poderá estar levando no seu formato, mas de repente e
tudo some ou enegrece para se derramar em rios.
Ora, a mente
humana é o baú de tudo, com seus diários, recordações, segredos e mistérios. A
aparência nunca tem o poder de sequer fazer imaginar o que guarda no seu interior,
nas suas entranhas.
A mocinha vai
passando e leva consigo uma mente atormentada pelas dores de amor, pelas
indecisões, pelas dúvidas da idade. Mas tudo talvez, pois muitas vezes nem
sempre a própria pessoa consegue delimitar bem o que está pensando em
determinado instante.
O velho, com
passo lento, cabisbaixo, certamente segue com ar de preocupação. Já conhece
tudo da vida, já foi experimentado pelas curvas e labirintos, mas o que será
que leva agora na sua imaginação?
Alguém passa
alheio à realidade e conversando sozinho, baixinho. Fala e responde a si mesmo.
Interessante esse diálogo que só cabe à própria pessoa desvendar suas
motivações. E por isso mesmo aguça ainda mais a imaginação de quem apenas o vê
passar.
Um moço
entristecido num banco de praça. Uma mulher que parece querer gritar enquanto
segue apressada. Uma pessoa que vai e decide retornar da esquina. Por que
assim, quais as motivações, o que se passa nas suas mentes?
Mistérios,
apenas. No misterioso mundo da mente humana.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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