Por Frankilin Martins
Poucos
episódios revelam tão bem o delicado equilíbrio existente na República Velha
entre o poder dos "coronéis", que mandavam nos municípios do
interior, e a autoridade dos governadores, como a revolta da Princesa, ocorrida
no sertão da Paraíba no ano de 1930. Em fevereiro daquele ano, o
"coronel" José Pereira, julgando-se desprestigiado com a chapa de
deputados federais que acabara de ser formada, rompeu com o governador João
Pessoa, também candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por
Getúlio Vargas. Ato contínuo, declarou apoio os adversários de Pessoa no plano
nacional. Em represália, o governador ordenou a retirada dos funcionários
estaduais de Princesa e destituiu o prefeito, o vice-prefeito e o promotor,
ligados ao "coronel" e mandou tropas da Polícia Militar convergirem
para o município de Texeira, perto de Princesa, com o objetivo de sufocar a
rebelião.
Começou a
guerra. O "coronel" não era homem de se intimidar com pouca coisa e
enviou 120 homens armados para Texeira, que foi retomada pelos rebeldes. Em
março, nova vitória das forças de José Pereira. Em maio, 220 soldados e
jagunços a serviço do governo estadual tentam entrar em Princesa, mas caem numa
emboscada, na qual morrem mais de cem pessoas. Em junho, os princesenses
proclamam-se independentes da Paraíba e criam o Território da Princesa, com
bandeira, hino e leis próprias.
Coronel José
Pereira em foto dos anos 70
João Pessoa
tenta nova investida. Incapaz de dominar a cidade rebelde, apela para a guerra
psicológica. Uma avioneta, pilotada por um italiano, lança panfletos sobre
Princesa, exortando a população a depor as armas. Caso contrário, haveria
bombardeio aéreo. Mas a resistência continua -e as bombas não vêm. Nas semanas
seguintes, os homens do "coronel" José Pereira, usando táticas de
guerrilha, espalham sua ação pelo sertão, dando a entender que o conflito seria
longo.
Mas a luta
estava para terminar, com um desfecho imprevisto. No dia 26 de julho, João
Pessoa foi assassinado no Recife por um desafeto, João Dantas, por motivos mais
pessoais do que políticos. Com a morte do chefe inimigo, José Pereira chegou à
conclusão que não tinha mais razões para lutar. Deixou sua terra, Princesa, e
foi para Serra Talhada, em Pernambuco.
Em agosto,
soldados do 21 Batalhão de Caçadores, obedecendo a uma determinação do
presidente Washington Luíz, entraram em Princesa. Dois meses depois, foram
substituídos por tropas da PM. O município voltou a fazer parte da Paraíba. A
luta deixara um saldo de cerca de 600 mortos.
FONTE:http://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=coronel-x-governador-a-revolta-da-princesa
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